quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

As bem-aventuranças do Reino.

O ensino de Jesus registrado em Mateus 5 a 7 geralmente é conhecido como o “Sermão do Monte”. Mas esta designação pouco diz a respeito do seu conteúdo. Trata-se de um sermão em que nosso Senhor apresenta as elevadas qualidades espirituais dos súditos do reino de Deus, bem como ensina o padrão de justiça perfeita exigida deles. São ensinamentos de extrema importância para nós, pois neles temos muito a aprender sobre a excelência do nosso chamado para fazermos parte deste reino e do quanto Deus requer de nós como Seus súditos.

       Não é possível determinar o monte sobre o qual nosso Senhor proferiu este sermão. Contudo, podemos dizer que Jesus se encontrava na Galiléia, no início do Seu ministério. Após a prisão de João Batista, tendo Ele chamado os Seus primeiros discípulos (vv. 18-20), percorria a região, ensinando, pregando e realizando milagres de cura (v. 23). Sua fama já havia se espalhado pelas regiões circunvizinhas, de modo que era seguido por uma grande multidão (v. 24-25).

       A suma da mensagem de Cristo era: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” (v. 17). Ele anunciava a realidade de um reino que muitos aguardavam se manifestar, mas cuja natureza ainda não compreendiam. Nosso Senhor não falava de um reino deste mundo, mas do reino dos céus (ou o reino de Deus), cuja presença não poderia ser percebida pelos sentidos carnais, tampouco por alguma alteração na ordem dos governos terrenos (Lc 17.20; Jo 18.36), mas sim pela submissão à ordem proclamada pelo seu Rei: “Arrependei-vos”, ou seja, para recebê-lo, era necessário renunciar totalmente ao pecado e produzir frutos dignos da excelência desse reino espiritual (cf. Mt 3.1-10). Esta é a boa nova do reino.

       Assim, este sermão pode ser entendido como uma oportuna explicação de quem são estes que se arrependem e produzem fruto, e que por isso são verdadeiros súditos do reino de Deus.

       Este sermão é pronunciado por Jesus tanto em atenção aos Seus discípulos, que d’Ele se aproximaram na ocasião, como também à multidão que O ouvia (cf. Mt 7.28, 29). Na verdade, o sermão é pertinente a todos quantos ouvem a proclamação do reino dos céus (Mt 24.14).

       Podemos notar que, ao longo deste sermão, é feito um contraste entre aqueles que participam do reino de Deus e os que ficam de fora – estes últimos representados ora pelos “homens”, de uma forma geral, ora pelos “escribas e fariseus”, ora pelos “publicanos”, ora pelos “gentios”, ora pelos “hipócritas”, “falsos profetas” e falsos discípulos. Há uma divergência contrastante de interesses, intenções, propósitos e atitudes entre os súditos do reino de Deus e os demais.

Contudo, é muito importante entender que este sermão não é como uma “nova lei” – uma série de mandamentos a serem cumpridos como condição para se entrar no reino dos céus. Para tanto, é necessário “nascer de novo” (Jo 3.3, 5), e isto é obra da graça de Deus, não do esforço e vontade humanos (Lc 12.32; 22.29; Cl 1.13; Ap 5.9, 10). O Sermão do Monte revela um caráter espiritual e um padrão de justiça elevadíssimos, inalcançáveis ao homem natural, e que, pelo contrário, mostram-no muito distante do reino de Deus, e a suas obras, como trapos de imundícia. Apenas o verdadeiro discípulo de Cristo, introduzido neste reino pela graça de Deus, é capaz de não apenas ouvir, mas também cumprir estas palavras (Mt 7.24; Jo 15.5).

A primeira seção em que podemos dividir o sermão em apreço é a das “bem-aventuranças”. Ser bem-aventurado é o mesmo que ser “feliz”, “afortunado”, alguém que se pode dizer plenamente realizado e completo. Ao explicar a razão dessas bem-aventuranças, o Senhor Jesus contraria não apenas o conceito mundano sobre felicidade, mas também o pensamento de que o reino de Deus devesse trazer paz, conforto e prosperidade exteriores (Rm 14.17). A felicidade segundo Deus independe dessas circunstâncias.

As virtudes, qualidades e características associadas às bem-aventuranças formam um todo inseparável, e acham-se presentes em todo o cristão, tornando-o mais semelhante ao Seu Senhor, identificando-O como verdadeiro discípulo e súdito do reino (Lc 6.40). Não são qualidades morais, que o homem natural poderia exercitar, pois estas jamais o tornariam merecedor de recompensas espirituais. Logo, são qualidades geradas pelo Espírito, e é por isso que estão associadas a benefícios espirituais e eternos (Gl 5.22; 6.7, 8).

Consideremos, então, cada uma destas bem-aventuranças, na ordem em que se apresentam no texto sagrado:
1. “Bem-aventurados os pobres de espírito...” (v. 3). A pobreza material não é virtude, tampouco a intelectual ou espiritual. Ser pobre de espírito é ser humilde, é reconhecer a nossa completa inabilidade e a insuficiência de nossos meios e recursos, bem como a nossa total dependência da graça e misericórdia divinas, para alcançarmos as riquezas do reino dos céus (Lc 18.9-14; Mt 11.5; Sl 40.17; Is 66.2).
2.  “Bem-aventurados os que choram...” (v. 4).    Trata-se do choro como expressão de tristeza, mas há diferença entre o choro de tristeza do mundo e o de um cristão. Este se entristece, primeiramente, pelos seus próprios pecados e fracassos na obediência devida a Deus (Tg 4.9; 2 Co 7:10); depois, pelo mal que predomina neste mundo (Sl 119.53); e ainda pelo sofrimento do seu próximo (Rm 12.15).
3. “Bem-aventurados os mansos...” (v. 5).                 A mansidão é considerada sinal de fraqueza pelo mundo, que busca sua felicidade confiando em sua própria força e astúcia. O súdito do reino dos céus confia no Senhor, descansa em Sua bondade e providência (Sl 37.3-11), e por isso é satisfeito e contente com o que possui nesta vida, e herdará todas as coisas no porvir (Ap 21.7).
4. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça...” (v. 6).        Justiça é a essência do reino de Deus, e por ela o cristão anseia como pelo próprio alimento. Ao passo que o mundo se satisfaz com uma justiça relativa, nunca perfeita, e sempre alheia às exigências da lei divina (Rm 3.10), o súdito do reino de Deus é imbuído de um senso de justiça que não almeja nada menos do que a vontade de Deus plenamente realizada, tanto nos céus como na terra (2 Pd 2. 7,8) .
5. “Bem-aventurados os misericordiosos...” (v. 7).      Não se trata de ter misericórdia com o próximo, para alcançar misericórdia de Deus. Misericórdia não pode ser merecida. É característica inequívoca do cristão, porque este primeiramente alcançou misericórdia da parte de Deus e agora não pode deixar de ter compaixão pela miséria alheia, tanto material como espiritual (Mt 18.15-35; Sl 37.21; Gl 6.2; Jd 22).
6. “Bem-aventurados os limpos de coração...” (v. 8). O coração é a sede dos pensamentos e intenções, e por natureza é mau e enganoso (Jr 17.9). Mas, pela obra da regeneração do Espírito, o cristão é liberto da influência deste mundo (At 15.9; Tt 3.5), e agora ama pura e sinceramente ao próximo e a Deus, agradando-O não apenas na aparência, mas também no interior (Mt 15.7-9; Tg 4.8).
7. “Bem-aventurados os pacificadores...” (v. 9).   O discípulo de Cristo ama a paz, e a segue em seu relacionamento com o próximo (Rm 12.18; Ef 4.3; 1 Pe 3.8-12), pois, pela reconciliação da cruz, ele mesmo foi trazido a um relacionamento de paz com Deus.
8. “Bem-aventurados os que sofrem perseguição...” (v. 10).     O cristão não deve esperar aplausos por ser discípulo de Cristo, mas antes perseguição em razão do seu anelo pela justiça de Deus (2 Tm 3.12).

Aplicando esta bem-aventurança ao caso particular dos discípulos, o Senhor Jesus caracteriza o que deveriam esperar do mundo em mais de um aspecto: palavras ofensivas (injúria), oposição em geral (perseguição) e falsas acusações (mentira) (cf. Mt 24.9). Isto, porém, não deveria impressioná-los, pois não seriam os primeiros a passar por essas aflições, e, ao serem comparados aos profetas do passado, ou seja, a homens altamente favorecidos e amados por Deus, eis um grande motivo para se alegrarem nesta vida e esperarem por grande recompensa no céu.

O sermão de Jesus que estudaremos neste trimestre apresenta a essência do que é ser súdito do reino de Deus. Seus ensinos são pertinentes a todos os que almejam ser achados como verdadeiros discípulos e servos de Cristo, pois identificam e descrevem o novo espírito, a nova índole que caracteriza Seus súditos, e prescrevem a nova conduta e prática que devemos ter neste mundo em harmonia com o reino de Deus, enquanto aguardamos a manifestação plena desse reino, em novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça.


* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2017 ASSEMBLÉIA DE DEUS MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
AS BEM-AVENTURANÇAS DO REINO”



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