O
sermão do monte se inicia com a declaração das bem-aventuranças, nas quais o
Senhor Jesus aponta as qualidades espirituais que constituem o caráter do
verdadeiro súdito e herdeiro do reino dos céus.
Em
seguida, Ele pronuncia os próprios discípulos como participantes desta sorte
(“bem-aventurados sois vós...”, v. 11), particularmente no que respeita a como
seriam perseguidos pelos homens por causa da justiça (v. 12).
E
agora, através das comparações estabelecidas no texto, Cristo ressalta o outro
lado dessa relação dos fieis com o mundo: se, por um lado, seriam odiados e
perseguidos, por outro, seu exemplo em obras e suas palavras seriam alvo de
grande atenção e interesse dos homens, como o foram as obras e palavras do
próprio Mestre (cf. Jo 15.20).
Assim
veremos o que o Senhor espera de cada um de nós como representantes do Seu
reino celestial perante o mundo.
As
declarações “vós sois” são enfáticas e categóricas, como o são as
bem-aventuranças, e determinam não o que todo o cristão pode, mas o que deve
ser.
Mas,
tratando da comparação em si, quando Jesus diz que os discípulos são o sal da
terra, dentre as muitas qualidades e utilidades deste mineral nos tempos de
Cristo, e em nossos dias, pelo menos duas delas estão em vista neste contexto:
o sal como tempero e como agente de preservação ou conservação.
No
primeiro caso, o Senhor Jesus quer dizer que o caráter de um verdadeiro cidadão
do reino dos céus (tal como expresso nas bem-aventuranças) não apenas se
distingue radicalmente dos demais homens, em seus pensamentos, motivações,
propósito e obras; mas também é incomparavelmente melhor, excelente e o único
que agrada a Deus e alcança a Sua aprovação (Rm 8.5-8) – assim como um prato
temperado é distinto, mais saboroso e preferível a um prato insípido.
Em
segundo lugar, a excelência de um caráter renovado não apenas é frutífera e
benéfica para o que a possui, mas também para aqueles que não fazem parte do
reino de Deus (cf. Mc 9.50; Cl 4.6).
O
mundo é corrupto e mau, mas os súditos do reino dos céus, que, apesar de não
pertencerem ao mundo, estão nele como enviados da parte de Cristo (Jo 17.15-18),
exercem poderosa influência santificadora, cada um em sua própria esfera de
atuação e convivência com os homens, pondo freio à corrupção geral e ao
desregramento do pecado na sociedade humana – assim como o sal preserva da
corrupção natural e inerente aos alimentos em que é aplicado, retardando a sua
degradação.
Contudo,
resta uma temível exortação: se o cristão não possui ou perde essa excelência,
deixando-se corromper e conformar pelos padrões do mundo (cf. Rm 12.1-3), em
nada mais se distinguindo do comum da humanidade, sua condição é pior que a do
incrédulo, e deve esperar por uma severa reprovação da parte de Deus (Hb 6.7,
8), assim como o sal que se tornou-se insípido, para nada mais presta.
A
comparação seguinte, em que Cristo afirma que os discípulos são a luz do mundo,
não é mais difícil de entender. O cristão não apenas participa de uma natureza
espiritual excelente – obra da graça e poder de Deus entre os homens; mas
também é importante e indispensável para o mundo, pois sem ele os homens estão
completamente perdidos e sem esperança.
É
da natureza da luz ser comunicativa, propagando-se e iluminando a todo o
ambiente e aos que estão nele. A luz dispersa as trevas, mostrando as coisas
tais como são. Por isso é tão útil, mesmo indispensável, ao homem, se este
quiser saber para onde vai e o que está fazendo.
O
mundo jaz em trevas, pois está do lado de fora do reino, nas “trevas
exteriores” da ignorância acerca de Deus e da prática de obras infrutíferas e
condenáveis (cf. Ef 4.18 e 5.11). Não sabem para onde estão indo, nem para onde
devam ir (1 Jo 2.11), mesmo com todo o avanço do conhecimento técnico,
cultural, filosófico e moral (1 Co 1.21). Cristo, por sua vez, é a verdadeira
luz do mundo, comunicando graça e verdade no conhecimento de Deus; logo,
aqueles que o seguem recebem a mesma luz (Jo 8.12), tornando-se eles mesmos luz
para os que ainda estão de fora (Ef 5.8).
O
discípulo de Cristo é uma referência para o mundo quanto a vontade de Deus e o
caminho que leva à salvação (Fp 2.15) – como uma cidade iluminada em um alto
monte, ou uma candeia acesa no alto de um velador. O caráter santo de um
cristão simplesmente não pode passar despercebido pelo mundo.
É
da natureza das coisas de Deus se contrastarem com as coisas terrenas e, com
isto, ficarem em relevo. Nas palavras de Jesus: “não se 4 pode esconder uma
cidade edificada sobre um monte...” e “nem se acenda a candeia e se coloca
debaixo do alqueire...”, percebemos uma exortação a que não negligenciemos essa
luz que foi acesa em nós, abafando ou fazendo pouco caso de nosso testemunho
diante dos homens, mas entendamos que para isto o Senhor nos gerou de novo, e
que uma luz oculta de nada serve.
O
Senhor conclui esta breve seção do Seu discurso com uma prescrição muito
prática àqueles que ele chamara de sal da terra e, agora, de luz do mundo:
“assim resplandeça a vossa luz”.
Entenda-se:
sejamos aquilo que devemos ser, agindo em conformidade com a nova natureza
espiritual que Deus nos deu (Gl 5.25), cultivando e desenvolvendo aquelas
qualidades implantadas em nosso caráter pela boa palavra de Deus, não nos
conformando nem descendo aos padrões deste mundo, e isto em toda a nossa
maneira de viver.
Somente
seremos excelentes e relevantes para o mundo se o nosso testemunho for
conhecido do mundo. Por isso a luz deve resplandecer diante dos homens e eles
devem ver as nossas boas obras. Não se trata de exibicionismo, nem de
ostentação de uma religiosidade exterior, mas é uma verdade clara nas
Escrituras que o cristão deve dar testemunho ao mundo, tanto em palavras como
por obras (Jo 13.34, 35; At 2.47; Fp 4.5).
A
mesma sociedade que nos persegue e nos odeia é a que deve ver as nossas obras e
ser impactada pelo nosso testemunho, ora para ser confundida naquilo em que
falam mal de nós, ora para reconhecer que Deus está conosco (1 Pe 2.11-12).
E
assim chegamos à declaração do supremo propósito pelo qual o Senhor nos compara
ao sal da terra e à luz do mundo – porque Ele nos fez participantes dessas
bem-aventuranças que nos tornam excelentes e relevantes para o mundo – por
causa da Sua própria glória. Se são as nossas obras que os homens devem ver,
por outro lado são obras que nenhum homem jamais poderia fazer sem a graça de
Deus (Jo 3.20, 21; Ef 2.8-10).
Logo,
são mais propriamente obras de Deus realizadas em nós ou através de nós, e é
por isso mesmo que O glorificam (Jo 15.4, 8). O propósito de Deus é dar glória,
não a nós, mas ao Seu próprio nome diante dos homens. E esse deve ser também o
nosso propósito.
A
exortação ilustrada nos versos que ora estudamos está em estreita ligação com
as bem-aventuranças. Se somos daqueles que, pelo arrependimento e perdão dos
pecados, fomos trazidos para fazer parte do reino de Deus, e agora declarados
felizes, benditos, pois destinados a um grande galardão nos céus, então repousa
sobre nós uma grande responsabilidade para com aqueles que estão de fora: como
embaixadores do reino dos céus, cabe a nós anunciar, tanto pela palavra como
pela virtude da nova vida em Cristo, as boas novas de Deus a todos os homens.
* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2017 ASSEMBLÉIA DE DEUS MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
“AS BEM-AVENTURANÇAS DO REINO”
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