quinta-feira, 23 de março de 2017

A prática da palavra de Deus.

Chegamos à conclusão deste tão instrutivo Sermão proferido por nosso Senhor, no qual é desvendada a verdadeira essência de uma vida que glorifica a Deus por estar em harmonia com a Sua vontade e orientada para o Seu reino. E, após exortar os discípulos a uma total dependência da graça para que pudessem cumprir com as exigências da justiça e piedade divina, Jesus os incita à obediência sincera, constante e sem reservas da palavra de Deus, mostrando que de nada serve uma confissão de fé ou conhecimento que não se revele na prática; e, ainda que possam surgir aqueles que confessarão falsamente o Evangelho, só poderão ter a certeza de vida eterna e aprovação divina aqueles que estão resolvidos a seguir os passos do Mestre até ao fim e a todo o custo.

A exortação ilustrada nestes versos revela que todo o ensinamento transmitido por Cristo, particularmente neste Sermão, não é importante apenas por representar um padrão de justiça e piedade apropriado para os Seus discípulos, para aqueles que já foram salvos pela graça; é antes uma “porta” e um “caminho” para a sua própria salvação e vida eterna. Isto se harmoniza com o fato de que Jesus veio salvar o Seu povo da condenação tanto através do Seu sacrifício na cruz, sendo Ele mesmo a porta e o caminho (Mt 20.28; Jo 10.7; 14.6). E, seguindo o método da graça e misericórdia divina, Ele insta com os Seus ouvintes para que não rejeitem essa provisão (cf. Dt. 30.19; Ez 18.23, 30-32; Jo 14.6). “Entrai” – ou, em um texto paralelo, “porfiai por entrar” (Lc 13.24) – implica que a vida eterna só pode ser alcançada através de um esforço – um grande esforço. É uma passagem que deve ser forçada (cf. Mt 11.12), porque a porta é “estreita” e o caminho, “apertado”, ou seja, o elevado padrão do reino dos céus aponta em uma direção contrária àquela que a natureza carnal e pecaminosa do homem o inclina, confrontando suas obras e perscrutando os sentimentos e motivações mais ocultas do seu coração e impondo uma atitude de renúncia a coisas e pessoas que ele ama, e inclusive ao seu próprio eu (Mt 10.34-39; 16.24-26; Lc 14.28-33). E quão difícil é para o homem se dobrar ao conselho de Deus – de fato, isto é impossível ao homem, mas não a Deus – por isso tão poucos encontram este caminho (Mt 19.24- 26; Lc 13.23-24). Por outro lado, a “porta” e o “caminho” que levam à destruição não requer nenhum esforço para ser encontrado e trilhado, pois todos os homens já nascem nele e, se não for pela intervenção da graça salvadora de Deus, só perceberão o seu fim destrutivo naquele dia (cf. Pv 14.12; Lc 13.25). O fato de ser “largo” e “espaçoso” significa que é fácil, ou seja, permite a satisfação de todos os desejos e vaidades do homem, não há confrontação com o caráter, e seus pensamentos ocultos podem ser facilmente acobertados sob a aparência de uma falsa confissão – é o curso deste mundo, da multidão, da maioria (cf. Ef 2.1-3).

Tendo definido claramente que só há duas opções possíveis – e a que representa a vida não é fácil, embora o seu fim justifique e faça valer todo o empenho e sofrimento – o Senhor alerta Seus discípulos contra aqueles que certamente se levantariam para tentar desvirtuá-los do caminho, trocando a severidade do Evangelho pelas facilidades da conformação com o mundo, dando-lhes a falsa esperança de que, mesmo assim, ainda poderiam esperar alcançar a vida. O falso profeta, neste contexto, é todo aquele que presume ser enviado por Deus e ter o que ensinar a outros, recomendando-se por uma falsa confissão e identidade com o povo de Deus (“vestido de ovelha”), mas que, tanto pela sua própria conduta como pelo efeito dos seus ensinamentos libertinos, revela seu verdadeiro caráter réprobo (cf. 2 Pe 2.1-3, 18-22). Acerca dos tais, não somente o próprio Senhor Jesus, mas Seus apóstolos também deixaram várias advertências (cf. 1 Tm 4.1, 2; 2 Tm 3.1-5; 4.3-5). A comparação com a árvore e seu fruto nos orienta sobre como podemos reconhecer esses lobos devoradores, destrutivos para o rebanho de Deus: considerando, em primeiro lugar, a sua própria conduta no Evangelho; pois Cristo não requer menos obediência daquele que se diz mestre do que daquele que é ensinado como discípulo – antes, requer ainda mais do mestre (cf. Mt 24.45-51; Lc 12.47- 48). Depois, devemos considerar a qualidade de suas palavras – se inspiram temor, confiança e amor a 26 Deus e amor ao próximo; ou se disseminam liberalismo e permissividade nos que os ouvem, levando-os à negligência da santidade. A sentença contra os tais já está dada – se não há tolerância para a hipocrisia naqueles que ouvem as palavras de Cristo, tampouco haverá para aqueles que a ensinam.

(MT 7.21-27) Nestes versos fica ainda mais patente que o Senhor Jesus está tratando com a atitude de hipocrisia que muitos ouvintes da Sua Palavra poderiam ter, e isto Ele faz para mostrar o quanto é perigosa e destrutiva essa atitude. Se, por um lado, a confissão do nome de Cristo faz parte do nosso testemunho cristão (Mt 10.32-33), por outro, de nada valem os lábios que confessam o Senhor quando isto não é fruto de um coração sincero e fiel (Rm 10.8-10; Hb 13.15; cf. Mt 15.7-8), ou de uma vida pautada pela obediência ao Evangelho. Neste caso, Jesus não faz uma comparação, mas nos dá um vislumbre de como realmente será aquele grande dia de juízo, quando muitos se decepcionarão com a confissão hipócrita que fizeram do Seu nome e com a aparente identidade que mantiveram com a Sua causa – a vida eterna sendo de uma excelência muito superior (Lc 10.17-20). Jesus só reconhecerá aqueles que de fato foram Seus discípulos, ou seja, aprendendo dEle e imitando-O, na obediência à vontade de Deus (Lc 6.46; Jo 15.21; 2 Tm 2.19- 21). Observemos ainda que toda a confissão aparente, feita para iludir e ocultar aos homens um coração infiel, será desfeita do mesmo modo diante dos homens, para que os segredos fiquem descobertos não somente para aquele que viveu hipocritamente, mas para os que foram enganados pela sua falsa identidade. A parte conclusiva deste longo e rico discurso de Cristo traz, sob a forma de uma nova comparação, um alerta final, que chama a nossa atenção para um dia em que nossa vida será examinada e posta à prova e, de acordo com a qualidade de nossas ações, seremos aprovados ou reprovados. É uma exortação dirigida particularmente àqueles que ouvem a Cristo, e não aos homens em geral (“todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras”), onde vemos, em primeiro lugar, o rigor do escrutínio de Deus sobre a vida daqueles que são confrontados com a Sua Palavra, comparado às forças tempestivas e poderosas da natureza. Em segundo lugar, evidencia-se a eficácia da palavra de Cristo, uma vez aplicada ao nosso coração e posta por prática, pode firmar nossa alma e assegurá-la eternamente, a fim de que não pereçamos em juízo. E, por último, mais uma vez aparece nesta comparação a necessidade de um esforço para a obediência dos ensinos de nosso Senhor, assim como para construir uma casa firme contra as adversidades é necessário buscar o solo apropriado, cavar em busca da rocha firme que servirá de fundamento para o edifício (cf. Lc 6.47, 48).


As palavras de Cristo não devem ser apenas ouvidas e admiradas, para depois serem esquecidas. Não é discípulo de Cristo aquele que o é apenas na aparência, e que negligencia e pouco se importa com a prática da justiça e da piedade. Que possamos nos confrontar diariamente com a transparência dos ensinos ministrados por nosso Senhor neste Sermão e, com humildade e resignação, nos submetermos ao bondoso e misericordioso governo que Cristo tem, por direito, sobre nossas vidas.

* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2017 

ASSEMBLÉIA DE DEUS 
MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
“AS BEM-AVENTURANÇAS DO REINO”

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