quinta-feira, 8 de março de 2018

O fundamento e o testemunho da fé.








Na lição anterior, vimos o perigo da apostasia e suas consequências. Nesta aula, estudaremos a base da vida cristã: a fé. A partir dos relatos da história antiga, veremos a eficiência da fé, a começar com o ato da criação do universo, que deve ser entendido com o olhar da fé: “Pela fé entendemos que os mundos, pela palavra de Deus, foram criados” (Sl 33.6; 2 Pe 3.5). A fé se baseia na confiança em Deus e em Sua Palavra. Esta palavra consiste num poder invisível que produziu do invisível o universo, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem. Na extensa lista dos crentes fiéis descrita em Hebreus 11, o autor enfatiza particularmente três características na vida dos homens e mulheres de fé: sua confiança inabalável em Deus, sua visão do invisível e seu poder para avançar pela fé.

Neste capítulo, o escritor não pretendeu simplesmente definir a fé, mas sim descrevê-la como elemento fundamental da vida cristã. Segundo as Escrituras, a fé é a condição básica para ser salvo e receber de Deus auxílio em todos os aspectos (Ef 2.8). Ela é a base, o “firme fundamento das coisas que se esperam”, e a convicção — “prova das coisas que não se veem”. O fundamento significa muito mais que a mera certeza humana, fruto da lógica, ou do exercício da futurologia. Na visão cristã, tem o sentido de certeza inabalável, ou seja, temos convicção de que servimos a um Deus Todo-Poderoso, que vela por sua Palavra para cumpri-la (cf. Jr 1.12; Is 43.13). Significa também certeza absoluta a respeito da nossa salvação.

O segundo elemento essencial da fé é a “esperança”. Esta é consubstanciada na forte convicção de que aquilo que se espera da parte de Deus há de acontecer sempre, independente das circunstâncias. Abraão creu que teria um filho segundo a promessa divina, fruto de sua união com Sara, mesmo quando a lógica humana dizia o contrário (Rm 4.18,19; 8.24,25).

O terceiro elemento é a “convicção”; não se trata de uma prática mística de visualização mental para obtenção do que se deseja, conforme defendem certas ramificações da Confissão Positiva, pois as Escrituras Sagradas não ensinam assim. Neste contexto, “as coisas que não se veem” são as coisas de Deus (2 Co 4.18), “os bens futuros” (Hb 9.11), “as melhores promessas” (Hb 8.6). Isso porque tais “coisas” foram prometidas por Deus em Sua Palavra, e esta não pode falhar em nenhuma hipótese. Há muitos “crentes” que, iludidos pelo seu próprio coração, asseveram que podem aplicar esse texto a qualquer coisa. Por exemplo: “eu creio que Deus vai me dar um carro novo ou uma bela casa”. Ora, isso é um desejo, mas não uma promessa de Deus. Pode tornar-se real ou não. É algo condicional e circunstancial.

A partir do verso 4, o autor lembra os leitores de exemplos de valorosos servos de Deus que, pela fé, “alcançaram testemunho de Deus”. A começar pelo exemplo de Abel que apresentava uma fé sacrificial. Em Gênesis 4.4, Deus aceitou seu sacrifício e não o de seu irmão, o homicida Caim. Mas em Hebreus 11.4 podese constatar que: “Pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e, por ela, depois de morto, ainda fala”. Enquanto a oferta de Abel foi movida pela fé em Deus e incluía derramamento de sangue (Hb 9. 22; Jd 11; Rm 14.23), Caim trilhou seu “caminho” sem fé; ele tinha uma índole má, era iracundo e “suas obras eram más” (1 Jo 3.12; Tt 1.15), por essas razões suas ofertas não foram aceitas pelo Senhor.

O autor não se esquece de Enoque (v. 5); em poucos versos, a Bíblia mostra a grandeza de seu caráter e de sua fé: “E andou Enoque com Deus; e não se viu mais, porquanto Deus para si o tomou” (Gn 5.24). Se ele “andou com Deus”, ou seja, viveu em íntima comunhão com o Eterno e no centro da sua vontade, diante da extrema incredulidade de seu tempo, foi porque tinha uma fé viva, e anunciou o juízo eterno em sua geração (Jd 14, 15). Por isso, ainda na terra, antes da sua trasladação, “alcançou testemunho de que agradara a Deus”. Segue o exemplo de fé obediente e justa de Noé (v. 7). Nunca ouvira falar de dilúvio, todavia, “divinamente avisado das coisas que não se viam, temeu” e obedeceu, preparando uma arca “para salvação da sua família”. Noé foi o primeiro homem na Bíblia a ser chamado justo. Isso nos traz uma lição de extremo valor: o homem de fé precisa ser justo diante de Deus e dos homens.

Na sequência, tem-se o exemplo de Abraão, que é considerado o pai da fé provada. Quando foi chamado por Deus, “obedeceu, e saiu, sem saber para onde iria” (v. 8). Por anos habitou em tendas, peregrinando “como em terra alheia” (v. 9), esperando a cidade que tem fundamento, e recebeu a promessa de que seria “uma grande nação” (Gn 12.2). O Todo-Poderoso mandou que ele olhasse para os céus e contasse as estrelas, se pudesse, dizendo que assim seria sua semente: “e creu ele no Senhor e foi-lhe imputado isto por justiça” (Gn 15.6; Rm 4.11). Mais tarde, Deus pediu-lhe em sacrifício seu único filho, Isaque. Sem relutar, o grande patriarca obedeceu piamente à voz do Altíssimo, crendo “que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar” (v. 18; cf. Gn 22.12). Tiago afirma que Abraão creu em Deus e foi-lhe isso imputado como justiça, e por isso, foi chamado amigo de Deus (Tg 2.23).

Após destacar o exemplo de homens e mulheres que alcançaram testemunho pela fé, o escritor declara que todos eles morreram na fé, “sem terem recebido as promessas, mas, vendo-as de longe...” (v. 13). Assim como Paulo, eles combateram o bom combate, acabaram a carreira e guardaram a fé (2 Tm 4.7). Era a fé fazendo-os olhar ao longe para além do horizonte, sem chegar lá, porém contemplando o cumprimento das promessas. Certamente eles usufruíam a salvação em Cristo porque criam na vida eterna, na entrada nos céus, na vitória sobre o mal e, sobretudo, no reinado eterno de Deus. A fé daqueles homens era tão forte e poderosa que, mesmo sem verem o cumprimento das promessas de Deus, nelas creram e as abraçaram. Eles consideravam-se “estrangeiros e peregrinos na terra”, porque esperavam uma pátria melhor, “a celestial”, a futura e definitiva. Por causa de sua fidelidade a Deus entre os homens nesta existência, são reconhecidos por Deus, que não se envergonha deles, de se chamar seu Deus (Ex 3.15; Mt 22.32). A cidade à qual se refere é a própria cidade de Deus, o alvo de sua busca, a única cidade real que eles jamais conheceram, o lar pelo qual ansiavam. Mesmo distanciados dela, olhavam em sua direção e tinham até mesmo saudades da mesma (Ap 21.1-4).

Depois de citar o exemplo de fidelidade de Abraão, o escritor faz menção a Isaque, Jacó, José e outros homens cuja fé é também digna de nota. Cada fato de fé é tratado sumariamente e em cada um deles um único incidente é escolhido para mostrar que esses homens, ao se aproximarem da morte, olhavam com fé para coisas ainda invisíveis. Destacamos a atitude de José, que próximo da morte, confiando na saída dos filhos de Israel do Egito, “deu ordem acerca de seus ossos”; e de Moisés, que também pela fé, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, “escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que, por um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa” (vv. 25-26).

Aos poucos, o autor deixa de citar personagens específicos e cita o coletivo – o povo, e atribui a esse agrupamento uma ênfase não mais nas pessoas, mas sim nas grandes obras que realizaram unidas como povo de Deus. Por isso, na última parte do capítulo, ele apresenta algumas características daqueles que foram justificados pela fé. Eles são considerados como “lutadores” – “venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, neutralizaram a força do fogo, escaparam do fio da espada”, tudo isso pela fé no Todo-Poderoso. Outros, como João Batista, Estevão e Tiago foram martirizados na luta pela fé, açoitados, apedrejados, presos, aflitos, torturados e mortos: “não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição” (vv. 35-37).

As Escrituras consideram todos esses servos de Deus pessoas das quais “o mundo não era digno” (v. 38). O “mundo”, que não é digno dos homens de Deus, é aquele que se opõe ao bem, e que dificulta a inquirição espiritual. Foi para esse mundo que Jesus apontou ao falar sobre a inevitabilidade das perseguições: “Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim” (Jo 15.18). Esses homens de fé viram de longe as promessas, mas não as alcançaram, “provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados” (vv. 39, 40).

O autor de Hebreus compara o caminhar de várias personagens da história bíblica com a carreira proposta aos cristãos. Esses personagens tinham em comum um longo e desafiador percurso para fazer. Sem perseverança, ousadia e fé, nenhum deles teria conseguido chegar ao seu destino final. De fato, “sem fé é impossível agradar a Deus, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que é galardoador dos que o buscam”.






* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2018


EPÍSTOLA AOS HEBREUS 

ASSEMBLÉIA DE DEUS 
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP

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