A
visão registrada por Daniel no texto em epígrafe é de grande importância para o
estudo da escatologia bíblica. Nesta passagem encontramos uma revelação feita
por Deus ao profeta sobre um tempo determinado para a realização de todos os
Seus desígnios em relação ao Seu povo. Trata-se de uma palavra abrangente, que
começa a se cumprir ainda antes de Cristo, estende-se por toda a era cristã e
completa-se apenas na consumação deste mundo.
Tudo
começa quando Daniel entende, lendo e refletindo sobre as Escrituras, que o
tempo determinado por Deus para a duração do cativeiro do Seu povo na Babilônia
seria de setenta anos (Jr 25.11-12; 29.10). Aquele era o primeiro ano de Dario,
o medo. O império babilônico já havia passado, e estava para se cumprir o tempo
determinado por Deus através de Jeremias. Isto levou o profeta Daniel a buscar
ao Senhor “com oração, e rogos, e jejum, e pano de saco, e cinza” (v. 3), ou
seja, apoiado nas misericórdias e na fidelidade do próprio Deus, para que Ele
operasse, segundo a Sua palavra, a libertação e restauração do Seu povo.
Em
resposta à oração do profeta, o anjo Gabriel é enviado para instruir Daniel
sobre um novo período de tempo, nunca antes citado – não mais de setenta anos,
mas setenta semanas. Literalmente, setenta vezes sete (uma semana equivalendo a
sete dias). E assim como os setenta anos, já passados, foram suficientes para a
realização do propósito de Deus quanto ao cativeiro de Israel na Babilônia (cf.
2 Cr 36.21), agora esse tempo de setenta semanas seria absolutamente perfeito e
suficiente para a realização de propósitos divinos ainda mais elevados e
abrangentes.
Vários
objetivos são propostos para esse novo período de tempo determinado por Deus.
Todos eles se relacionam com a redenção e felicidade eterna dos santos, de modo
que, no cumprimento de todo o propósito das setenta semanas, o povo de Deus
terá alcançado a plenitude de tudo quanto Deus havia prometido antes por boca
de outros profetas. Portanto, esta visão abrange um período de tempo muito mais
amplo do que a contagem literal de setenta semanas poderia sugerir, sendo um
tempo do conhecimento exclusivo de Deus – a expressão “setenta semanas” apenas
indicando simbolicamente sua perfeição e completude para o cumprimento dos
desígnios divinos (cf. 2 Pe 3.8).
Embora
se trate de um período cuja duração de tempo exata é do conhecimento exclusivo
de Deus, o avanço das setenta semanas é assinalado por eventos que são
claramente identificáveis nas Escrituras e na História. Podemos analisar esses
eventos, revelados na própria visão, em dois períodos principais: o primeiro,
nas primeiras “sessenta e nova semanas”, e o segundo, na última “semana”.
O
marco inicial das setenta semanas, e do seu primeiro período, peculiarmente
descrito como “sete semanas, e sessenta e duas semanas”, se dá no reinado de
Ciro, o persa, por volta de 445 a.C., quando foi dada a “ordem para restaurar e
reedificar Jerusalém” (2 Cr 36.22-23; Ed 1.1-3; cf. Is 44.24-28; 45.1, 13). No
período pós-cativeiro, aconteceu a reconstrução do Templo e da cidade de
Jerusalém, mas, como diz a profecia, em “dias angustiosos”. Conforme registrado
nos livros de Esdras e Neemias, a obra de restauração esteve sob constante
ameaça dos inimigos vizinhos, chegando até a ser interrompida por influência destes.
E os próprios israelitas viram-se novamente sujeitos às fraquezas e
infidelidades de seus antepassados, como nos revelam os profetas Ageu, Zacarias
e Malaquias.
Esse
período se estende até a chegada do Messias, o Príncipe – isto é, Jesus Cristo.
Neste ponto da história, o tempo avançou sessenta e nove semanas no “relógio”
divino, restando tão somente uma semana para a conclusão dos desígnios de Deus
para o Seu povo na terra. Quer dizer que, desde a manifestação do Senhor Jesus
em carne, há aproximadamente 2000 anos, até o fim, transcorre apenas uma semana
na visão de Deus.
O
período final é de apenas uma semana. Mas, atenção, pois aqui ocorre uma
repartição na septuagésima e última semana em dois novos períodos de meia
semana cada. Os versos em relevo destacam os eventos que devem suceder tanto na
primeira como na segunda metade desta última semana.
Em
primeiro lugar, é dito no verso 26 que o Messias “será tirado, e não será
mais”. Isto se refere a Jesus sendo rejeitado e morto pelos judeus (Is 53.8; Jo
1.10) e, pela Sua ressurreição e ascensão, deixando este mundo e voltando para
o Pai (Lc 9.22; Jo 14.19). O verso 27 afirma também, ainda em relação ao
Messias, que Ele “firmará um concerto com muitos” – uma clara referência ao
Concerto da salvação eterna (“por uma semana” – sete tempos), selada no Seu
sangue para a remissão dos pecados de muitos – do Seu povo (Mt 1.21; 20.28;
26.26-28).
Voltando
ao verso 26, ali é dito, na sequência da rejeição do Messias, que “o povo do
príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário”. O povo aqui citado
é o romano que, no ano 70 d.C., liderado pelo general Tito, cercou Jerusalém
com seus exércitos e arrasou a cidade e o Templo, não deixando pedra sobre
pedra (cf. Mt 24.2; Lc 21.20-24). O verso 27 volta a este acontecimento, pela
citação de que, no meio da semana, o Messias faria “cessar o sacrifício e a
oferta de manjares”. Isto se cumpre, primeiro, quando Cristo, pelo sacrifício
único e perfeito de Si mesmo, tornava inúteis e obsoletos os sacrifícios e
ofertas determinadas pela Lei (Hb 9.11-12; 10.1, 8-12). Mas, para que cessasse
de fato toda religiosidade judaica, o Templo foi destruído, e nunca mais os
judeus puderam realizar tais sacrifícios. A partir desse acontecimento,
transcorre a segunda metade da última semana.
Com
o fim de toda a ordem mosaica baseada no Templo e na missão de Israel como povo
de Deus – fim esse assinalado pela destruição de Jerusalém e do Templo,
entramos no período final das setenta semanas. No verso 26, lemos que “até ao
fim haverá guerra; estão determinadas assolações” – que é uma referência aos
acontecimentos catastróficos e aflitivos que se abateriam sobre as nações até o
fim do mundo, como Jesus avisaria os Seus discípulos (Mt 24.6-7). Observemos
ainda, pelo verso 27, que esse é o tempo em que o Assolador, isto é, o espírito
do anticristo, se faz presente no mundo (Jo 14.30; 1 Jo 2.18; 4.3; 2 Ts 2.1-5),
manifestando-se na multiplicação do engano e da iniquidade (Mt 24.9-12; 1 Tm
4.1-2; 2 Tm 3.1-4; 2 Ts 2.7, 9-12). Contudo, esse período também inclui o
derramar da ira de Deus sobre todo o sistema e poder das trevas, com a
destruição do próprio Assolador (cf. 2 Ts 2.7-8; Ap 20.10).
A
visão das Setenta Semanas é um dos muitos argumentos da veracidade e inspiração
divina das Escrituras Sagradas, pois descreve, com séculos de antecedência,
acontecimentos que se realizaram na ordem e do modo exato como foram revelados.
Sempre houve citações na Bíblia sobre tempos determinados para propósitos
definidos por Deus, o que nos mostra Seu controle total e absoluto sobre o
mundo, e que nenhum dos Seus desígnios poderá ser frustrado.
Texto cedido por: EBD – 2º. Trimestre de 2018
ESCATOLOGIA
ASSEMBLÉIA DE DEUS
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário