quinta-feira, 10 de maio de 2018

As setenta semanas.






A visão registrada por Daniel no texto em epígrafe é de grande importância para o estudo da escatologia bíblica. Nesta passagem encontramos uma revelação feita por Deus ao profeta sobre um tempo determinado para a realização de todos os Seus desígnios em relação ao Seu povo. Trata-se de uma palavra abrangente, que começa a se cumprir ainda antes de Cristo, estende-se por toda a era cristã e completa-se apenas na consumação deste mundo.

Tudo começa quando Daniel entende, lendo e refletindo sobre as Escrituras, que o tempo determinado por Deus para a duração do cativeiro do Seu povo na Babilônia seria de setenta anos (Jr 25.11-12; 29.10). Aquele era o primeiro ano de Dario, o medo. O império babilônico já havia passado, e estava para se cumprir o tempo determinado por Deus através de Jeremias. Isto levou o profeta Daniel a buscar ao Senhor “com oração, e rogos, e jejum, e pano de saco, e cinza” (v. 3), ou seja, apoiado nas misericórdias e na fidelidade do próprio Deus, para que Ele operasse, segundo a Sua palavra, a libertação e restauração do Seu povo.

Em resposta à oração do profeta, o anjo Gabriel é enviado para instruir Daniel sobre um novo período de tempo, nunca antes citado – não mais de setenta anos, mas setenta semanas. Literalmente, setenta vezes sete (uma semana equivalendo a sete dias). E assim como os setenta anos, já passados, foram suficientes para a realização do propósito de Deus quanto ao cativeiro de Israel na Babilônia (cf. 2 Cr 36.21), agora esse tempo de setenta semanas seria absolutamente perfeito e suficiente para a realização de propósitos divinos ainda mais elevados e abrangentes.

Vários objetivos são propostos para esse novo período de tempo determinado por Deus. Todos eles se relacionam com a redenção e felicidade eterna dos santos, de modo que, no cumprimento de todo o propósito das setenta semanas, o povo de Deus terá alcançado a plenitude de tudo quanto Deus havia prometido antes por boca de outros profetas. Portanto, esta visão abrange um período de tempo muito mais amplo do que a contagem literal de setenta semanas poderia sugerir, sendo um tempo do conhecimento exclusivo de Deus – a expressão “setenta semanas” apenas indicando simbolicamente sua perfeição e completude para o cumprimento dos desígnios divinos (cf. 2 Pe 3.8).

Embora se trate de um período cuja duração de tempo exata é do conhecimento exclusivo de Deus, o avanço das setenta semanas é assinalado por eventos que são claramente identificáveis nas Escrituras e na História. Podemos analisar esses eventos, revelados na própria visão, em dois períodos principais: o primeiro, nas primeiras “sessenta e nova semanas”, e o segundo, na última “semana”.

O marco inicial das setenta semanas, e do seu primeiro período, peculiarmente descrito como “sete semanas, e sessenta e duas semanas”, se dá no reinado de Ciro, o persa, por volta de 445 a.C., quando foi dada a “ordem para restaurar e reedificar Jerusalém” (2 Cr 36.22-23; Ed 1.1-3; cf. Is 44.24-28; 45.1, 13). No período pós-cativeiro, aconteceu a reconstrução do Templo e da cidade de Jerusalém, mas, como diz a profecia, em “dias angustiosos”. Conforme registrado nos livros de Esdras e Neemias, a obra de restauração esteve sob constante ameaça dos inimigos vizinhos, chegando até a ser interrompida por influência destes. E os próprios israelitas viram-se novamente sujeitos às fraquezas e infidelidades de seus antepassados, como nos revelam os profetas Ageu, Zacarias e Malaquias.

Esse período se estende até a chegada do Messias, o Príncipe – isto é, Jesus Cristo. Neste ponto da história, o tempo avançou sessenta e nove semanas no “relógio” divino, restando tão somente uma semana para a conclusão dos desígnios de Deus para o Seu povo na terra. Quer dizer que, desde a manifestação do Senhor Jesus em carne, há aproximadamente 2000 anos, até o fim, transcorre apenas uma semana na visão de Deus.

O período final é de apenas uma semana. Mas, atenção, pois aqui ocorre uma repartição na septuagésima e última semana em dois novos períodos de meia semana cada. Os versos em relevo destacam os eventos que devem suceder tanto na primeira como na segunda metade desta última semana.

Em primeiro lugar, é dito no verso 26 que o Messias “será tirado, e não será mais”. Isto se refere a Jesus sendo rejeitado e morto pelos judeus (Is 53.8; Jo 1.10) e, pela Sua ressurreição e ascensão, deixando este mundo e voltando para o Pai (Lc 9.22; Jo 14.19). O verso 27 afirma também, ainda em relação ao Messias, que Ele “firmará um concerto com muitos” – uma clara referência ao Concerto da salvação eterna (“por uma semana” – sete tempos), selada no Seu sangue para a remissão dos pecados de muitos – do Seu povo (Mt 1.21; 20.28; 26.26-28).

Voltando ao verso 26, ali é dito, na sequência da rejeição do Messias, que “o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário”. O povo aqui citado é o romano que, no ano 70 d.C., liderado pelo general Tito, cercou Jerusalém com seus exércitos e arrasou a cidade e o Templo, não deixando pedra sobre pedra (cf. Mt 24.2; Lc 21.20-24). O verso 27 volta a este acontecimento, pela citação de que, no meio da semana, o Messias faria “cessar o sacrifício e a oferta de manjares”. Isto se cumpre, primeiro, quando Cristo, pelo sacrifício único e perfeito de Si mesmo, tornava inúteis e obsoletos os sacrifícios e ofertas determinadas pela Lei (Hb 9.11-12; 10.1, 8-12). Mas, para que cessasse de fato toda religiosidade judaica, o Templo foi destruído, e nunca mais os judeus puderam realizar tais sacrifícios. A partir desse acontecimento, transcorre a segunda metade da última semana.

Com o fim de toda a ordem mosaica baseada no Templo e na missão de Israel como povo de Deus – fim esse assinalado pela destruição de Jerusalém e do Templo, entramos no período final das setenta semanas. No verso 26, lemos que “até ao fim haverá guerra; estão determinadas assolações” – que é uma referência aos acontecimentos catastróficos e aflitivos que se abateriam sobre as nações até o fim do mundo, como Jesus avisaria os Seus discípulos (Mt 24.6-7). Observemos ainda, pelo verso 27, que esse é o tempo em que o Assolador, isto é, o espírito do anticristo, se faz presente no mundo (Jo 14.30; 1 Jo 2.18; 4.3; 2 Ts 2.1-5), manifestando-se na multiplicação do engano e da iniquidade (Mt 24.9-12; 1 Tm 4.1-2; 2 Tm 3.1-4; 2 Ts 2.7, 9-12). Contudo, esse período também inclui o derramar da ira de Deus sobre todo o sistema e poder das trevas, com a destruição do próprio Assolador (cf. 2 Ts 2.7-8; Ap 20.10).

A visão das Setenta Semanas é um dos muitos argumentos da veracidade e inspiração divina das Escrituras Sagradas, pois descreve, com séculos de antecedência, acontecimentos que se realizaram na ordem e do modo exato como foram revelados. Sempre houve citações na Bíblia sobre tempos determinados para propósitos definidos por Deus, o que nos mostra Seu controle total e absoluto sobre o mundo, e que nenhum dos Seus desígnios poderá ser frustrado.




Texto cedido por: EBD –  2º. Trimestre de 2018


ESCATOLOGIA 

ASSEMBLÉIA DE DEUS 
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP

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