O ensino de Jesus registrado em Mateus 5 a 7 geralmente é conhecido como
o “Sermão do Monte”. Mas esta designação pouco diz a respeito do seu conteúdo.
Trata-se de um sermão em que nosso Senhor apresenta as elevadas qualidades espirituais
dos súditos do reino de Deus, bem como ensina o padrão de justiça perfeita
exigida deles. São ensinamentos de extrema importância para nós, pois neles
temos muito a aprender sobre a excelência do nosso chamado para fazermos parte
deste reino e do quanto Deus requer de nós como Seus súditos.
Não é possível determinar o monte sobre o
qual nosso Senhor proferiu este sermão. Contudo, podemos dizer que Jesus se
encontrava na Galiléia, no início do Seu ministério. Após a prisão de João
Batista, tendo Ele chamado os Seus primeiros discípulos (vv. 18-20), percorria
a região, ensinando, pregando e realizando milagres de cura (v. 23). Sua fama
já havia se espalhado pelas regiões circunvizinhas, de modo que era seguido por
uma grande multidão (v. 24-25).
A suma da mensagem de Cristo era: “Arrependei-vos,
porque é chegado o reino dos céus” (v. 17). Ele anunciava a realidade de um
reino que muitos aguardavam se manifestar, mas cuja natureza ainda não
compreendiam. Nosso Senhor não falava de um reino deste mundo, mas do reino dos
céus (ou o reino de Deus), cuja presença não poderia ser percebida pelos
sentidos carnais, tampouco por alguma alteração na ordem dos governos terrenos
(Lc 17.20; Jo 18.36), mas sim pela submissão à ordem proclamada pelo seu Rei: “Arrependei-vos”,
ou seja, para recebê-lo, era necessário renunciar totalmente ao pecado e
produzir frutos dignos da excelência desse reino espiritual (cf. Mt 3.1-10).
Esta é a boa nova do reino.
Assim, este sermão pode ser entendido
como uma oportuna explicação de quem são estes que se arrependem e produzem
fruto, e que por isso são verdadeiros súditos do reino de Deus.
Este sermão é pronunciado por Jesus tanto
em atenção aos Seus discípulos, que d’Ele se aproximaram na ocasião, como
também à multidão que O ouvia (cf. Mt 7.28, 29). Na verdade, o sermão é
pertinente a todos quantos ouvem a proclamação do reino dos céus (Mt 24.14).
Podemos notar que, ao longo deste sermão,
é feito um contraste entre aqueles que participam do reino de Deus e os que
ficam de fora – estes últimos representados ora pelos “homens”, de uma forma
geral, ora pelos “escribas e fariseus”, ora pelos “publicanos”, ora pelos “gentios”,
ora pelos “hipócritas”, “falsos profetas” e falsos discípulos. Há uma
divergência contrastante de interesses, intenções, propósitos e atitudes entre
os súditos do reino de Deus e os demais.
Contudo,
é muito importante entender que este sermão não é como uma “nova lei” – uma
série de mandamentos a serem cumpridos como condição para se entrar no reino
dos céus. Para tanto, é necessário “nascer de novo” (Jo 3.3, 5), e isto é obra
da graça de Deus, não do esforço e vontade humanos (Lc 12.32; 22.29; Cl 1.13;
Ap 5.9, 10). O Sermão do Monte revela um caráter espiritual e um padrão de
justiça elevadíssimos, inalcançáveis ao homem natural, e que, pelo contrário,
mostram-no muito distante do reino de Deus, e a suas obras, como trapos de
imundícia. Apenas o verdadeiro discípulo de Cristo, introduzido neste reino
pela graça de Deus, é capaz de não apenas ouvir, mas também cumprir estas
palavras (Mt 7.24; Jo 15.5).
A
primeira seção em que podemos dividir o sermão em apreço é a das
“bem-aventuranças”. Ser bem-aventurado é o mesmo que ser “feliz”, “afortunado”,
alguém que se pode dizer plenamente realizado e completo. Ao explicar a razão
dessas bem-aventuranças, o Senhor Jesus contraria não apenas o conceito mundano
sobre felicidade, mas também o pensamento de que o reino de Deus devesse trazer
paz, conforto e prosperidade exteriores (Rm 14.17). A felicidade segundo Deus
independe dessas circunstâncias.
As
virtudes, qualidades e características associadas às bem-aventuranças formam um
todo inseparável, e acham-se presentes em todo o cristão, tornando-o mais
semelhante ao Seu Senhor, identificando-O como verdadeiro discípulo e súdito do
reino (Lc 6.40). Não são qualidades morais, que o homem natural poderia
exercitar, pois estas jamais o tornariam merecedor de recompensas espirituais.
Logo, são qualidades geradas pelo Espírito, e é por isso que estão associadas a
benefícios espirituais e eternos (Gl 5.22; 6.7, 8).
Consideremos,
então, cada uma destas bem-aventuranças, na ordem em que se apresentam no texto
sagrado:
1.
“Bem-aventurados os pobres de espírito...” (v. 3). A pobreza material não é virtude, tampouco a
intelectual ou espiritual. Ser pobre de espírito é ser humilde, é reconhecer a
nossa completa inabilidade e a insuficiência de nossos meios e recursos, bem
como a nossa total dependência da graça e misericórdia divinas, para
alcançarmos as riquezas do reino dos céus (Lc 18.9-14; Mt 11.5; Sl 40.17; Is
66.2).
2. “Bem-aventurados os que choram...” (v.
4). Trata-se do choro como expressão de
tristeza, mas há diferença entre o choro de tristeza do mundo e o de um
cristão. Este se entristece, primeiramente, pelos seus próprios pecados e
fracassos na obediência devida a Deus (Tg 4.9; 2 Co 7:10); depois, pelo mal que
predomina neste mundo (Sl 119.53); e ainda pelo sofrimento do seu próximo (Rm
12.15).
3.
“Bem-aventurados os mansos...” (v. 5). A
mansidão é considerada sinal de fraqueza pelo mundo, que busca sua felicidade
confiando em sua própria força e astúcia. O súdito do reino dos céus confia no
Senhor, descansa em Sua bondade e providência (Sl 37.3-11), e por isso é
satisfeito e contente com o que possui nesta vida, e herdará todas as coisas no
porvir (Ap 21.7).
4.
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça...” (v. 6). Justiça é a essência do reino de Deus, e
por ela o cristão anseia como pelo próprio alimento. Ao passo que o mundo se
satisfaz com uma justiça relativa, nunca perfeita, e sempre alheia às
exigências da lei divina (Rm 3.10), o súdito do reino de Deus é imbuído de um
senso de justiça que não almeja nada menos do que a vontade de Deus plenamente
realizada, tanto nos céus como na terra (2 Pd 2. 7,8) .
5.
“Bem-aventurados os misericordiosos...” (v. 7). Não se trata de ter misericórdia com o próximo, para alcançar
misericórdia de Deus. Misericórdia não pode ser merecida. É característica
inequívoca do cristão, porque este primeiramente alcançou misericórdia da parte
de Deus e agora não pode deixar de ter compaixão pela miséria alheia, tanto
material como espiritual (Mt 18.15-35; Sl 37.21; Gl 6.2; Jd 22).
6.
“Bem-aventurados os limpos de coração...” (v. 8). O coração é a sede dos pensamentos e intenções,
e por natureza é mau e enganoso (Jr 17.9). Mas, pela obra da regeneração do
Espírito, o cristão é liberto da influência deste mundo (At 15.9; Tt 3.5), e
agora ama pura e sinceramente ao próximo e a Deus, agradando-O não apenas na
aparência, mas também no interior (Mt 15.7-9; Tg 4.8).
7.
“Bem-aventurados os pacificadores...” (v. 9). O discípulo de Cristo ama a paz, e a segue em seu relacionamento
com o próximo (Rm 12.18; Ef 4.3; 1 Pe 3.8-12), pois, pela reconciliação da
cruz, ele mesmo foi trazido a um relacionamento de paz com Deus.
8.
“Bem-aventurados os que sofrem perseguição...” (v. 10). O cristão não deve esperar aplausos por ser
discípulo de Cristo, mas antes perseguição em razão do seu anelo pela justiça
de Deus (2 Tm 3.12).
Aplicando
esta bem-aventurança ao caso particular dos discípulos, o Senhor Jesus
caracteriza o que deveriam esperar do mundo em mais de um aspecto: palavras
ofensivas (injúria), oposição em geral (perseguição) e falsas acusações
(mentira) (cf. Mt 24.9). Isto, porém, não deveria impressioná-los, pois não seriam
os primeiros a passar por essas aflições, e, ao serem comparados aos profetas
do passado, ou seja, a homens altamente favorecidos e amados por Deus, eis um
grande motivo para se alegrarem nesta vida e esperarem por grande recompensa no
céu.
O
sermão de Jesus que estudaremos neste trimestre apresenta a essência do que é
ser súdito do reino de Deus. Seus ensinos são pertinentes a todos os que
almejam ser achados como verdadeiros discípulos e servos de Cristo, pois
identificam e descrevem o novo espírito, a nova índole que caracteriza Seus
súditos, e prescrevem a nova conduta e prática que devemos ter neste mundo em
harmonia com o reino de Deus, enquanto aguardamos a manifestação plena desse
reino, em novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça.
* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2017 ASSEMBLÉIA DE
DEUS MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
“AS BEM-AVENTURANÇAS DO REINO”
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