Passando à demonstração prática de como a justiça perfeita do reino dos céus se cumpre na obediência sincera à Lei de Deus, em seu sentido verdadeiro e espiritual, e não apenas na aparência e compreensão carnal dos escribas e fariseus, o Senhor Jesus considera agora o sétimo mandamento (“não adulterarás”) e suas reais e graves implicações sobre a vida de Seus seguidores.
O intuito do Mestre ainda é
contrastar a falsa interpretação e aplicação dada aos mandamentos pelos líderes
do povo de Israel com aquilo que Deus realmente queria dizer e demandava, e
ensinar que somente aqueles que são feitos participantes da verdade no íntimo
do seu coração (Sl 51.6) são aptos para entender e anelar pelo cumprimento da
vontade de Deus.
Mais
uma vez devemos atentar para o fato de que Jesus, quando apresenta o mandamento
em sua literalidade, não o faz para lembrar aos Seus ouvintes apenas o que
estava escrito, mas também o que era ensinado pelos escribas e fariseus sob a
autoridade dos antigos.
Assim, o contraste é entre como eles (os mestres de
Israel) limitavam os dizeres: “não adulterarás” ao mero ato exterior e
consumado do adultério, preocupando-se apenas em condenar os que fossem
apanhados no próprio ato (Jo 8.3, 4), e como Cristo resgatava o verdadeiro e
profundo sentido desta lei, e revelava o seu poder perscrutador sobre os
corações dos homens, tratando com o pecado na sua própria origem (Mt 15.19).
O
Senhor explica que o pecado de adultério se dá primeiramente no coração através
da cobiça; esta, por sua vez, alimentada por em que os olhos se detêm (2 Pe
2.14). A cobiça (ou concupiscência) é tão condenável quanto o próprio ato do
adultério, porque envolve o desejo e o deleite no pecado, como se este já existisse
(Tg 1.14, 15), diferenciando-se apenas por serem as circunstâncias tais que o
indivíduo ainda não pode consumar o próprio ato. Com isto, Jesus está
reafirmando o caráter espiritual do mandamento, porquanto procede de Deus, que
vê e julga tanto o exterior, como também o interior.
E, neste caso particular,
é a própria Lei que testificava ser insuficiente obedecê-la apenas no exterior,
pois ali encontramos o mandamento: “não cobiçarás” (Ex 20.17), que diz respeito
totalmente ao homem interior (cf. Rm 7.7-11).
Mas, assim como o sexto mandamento (“não
matarás”) implica em muito mais do que o ato físico de ferir e tirar a vida do
próximo, do mesmo modo o mandamento ora em estudo envolve mais que o adultério:
nesta categoria se incluem todas as formas de lascívia e luxúria, tanto em
pensamentos como em atos, as quais se originam e são nutridas no coração humano
do mesmo modo que o adultério, e que atentam contra o próprio corpo (1 Co
6.18-20), e que não são menos graves e condenáveis aos olhos do Senhor (Ef 5.3-5;
Hb 13.4).
Os
pecados de lascívia e luxúria, mais do que quaisquer outros, exigem medidas
drásticas, radicais, para serem vencidos – cortar e atirar para longe o membro
que tem levado ao tropeço, ao pecado, seja no coração (os olhos), seja no corpo
(as mãos). Essa medida, contudo, não deve ser entendida literalmente, pois o
Senhor Jesus tem em vista o pecado na sua fonte: o coração.
Os membros do corpo
são apenas instrumentos e uma figura para os sentidos, que alimentam os
pensamentos e que devem ser, estes sim, mortificados ou despojados pelo poder
do Espírito de Deus (Rm 8.13; Cl 3.5, 8), dando lugar a um novo senso das
coisas orientado pela palavra de Deus (Rm 12.1-3; Cl 3.1-2).
Por aqui vemos que
o pecado não é tratado por Cristo como coisa simples, fácil de ser evitado, e
de pouca gravidade quando apenas no interior; mas é apresentado como um
verdadeiro inimigo, uma força insinuadora e escravizadora, que compromete todo
o ser através do coração, e condena o homem à perdição, mesmo quando não chega a
se manifestar em atos consumados.
E,
para subjugar esse adversário, é preciso renunciar a pensamentos, sentimentos e
mesmo situações concretas que enganosamente se nos afiguram como tendo grande
valor e com que criamos vínculos afetivos (Mt 16.24- 26).
Não
é sem razão que somos constantemente orientados a vigiar, pois o perigo é real
(Mt 26.41), e só podemos resistir às investidas desse inimigo pela graça de
Deus (1 Co 10.12, 13; Ef 6.10-13; Jd 24, 25).
Logo, a obra de mortificação
da carne não consiste em mutilação nem sacrifícios carnais que pouco aproveitam
(Cl 2.16-17, 20-23; 1 Tm 4.8), mas só é possível àqueles que são discípulos de
Cristo, que já tiveram o corpo do pecado legalmente declarado morto pelo Seu
sacrifício na cruz (Gl 2.19, 20), e foram gerados para uma nova vida,
espiritual, pela Sua ressurreição (Rm 8.9, 10).
Na verdade, todo aquele que é
filho de Deus deve se aplicar à renúncia e santificação (Rm 6.11-14; 8.12).
Embora
nestes versos Jesus faça nova menção ao que fora dito aos antigos, com o
propósito de contrastar o ensino dos escribas e fariseus com a Sua fiel
interpretação da Lei, não resta dúvida de que o assunto principal continua o
mesmo: trata-se agora de como a união matrimonial havia sido banalizada por uma
aplicação distorcida da lei do divórcio, generalizando a prática do adultério
sob a cobertura de aparente obediência à Lei de Deus.
Tomando
a permissão que Moisés havia dado ao povo para se divorciarem em um caso
específico (Dt 24.1-4), justamente com o intuito de limitar a prática, pois
aquele povo duro de coração não se conformaria a uma proibição absoluta, como
no princípio (Mt 19.8); os escribas e fariseus interpretavam como uma ordem,
aceitável sob qualquer situação (Mt 19.3, 7), desde que cumprida a exigência de
se despedir a mulher com uma carta de divórcio.
Mais uma vez, o Senhor se
contrapõe à malícia dos líderes do povo, lembrando-os, em primeiro lugar, de
que o divórcio por qualquer motivo é odioso aos olhos de Deus, pois contraria a
lei divina da união indissolúvel do casal, estabelecida na criação, antes da
queda (cf. Mt 19.4-6), e faz violência à mulher do concerto matrimonial (Ml
2.13-16).
Não somente isto, mas o divórcio conduz ambos os cônjuges a se enganarem com a ideia de que estão livres um do outro – o que não se dá enquanto ambos vivem (Rm 7.2, 3); além de os expor a contraírem uma nova “união” com terceiros, que não é nada menos que adultério (Mc 10.11, 12; Lc 16.18). Na verdade, não há motivo justificável para o divórcio aos olhos de Deus. O que ocorre é que, em caso de fornicação (ou adultério), o cônjuge infiel já cometeu a transgressão contra o concerto do matrimônio, sob a qual poderia incorrer, caso fosse repudiado por qualquer motivo.
A questão ainda é a da transgressão ao sétimo
mandamento, e Jesus está afirmando que isto ocorre em todo o caso, seja antes
ou depois do divórcio. Considerando assim a seriedade e santidade dos vínculos
matrimoniais, o cidadão do reino dos céus compreende que é responsável também
pela condição espiritual de seu cônjuge e que, dentro do que estiver ao seu
alcance, tudo fará pelo seu bem, seja mantendo-se só, se for abandonado; seja
recebendo-o de volta em reconciliação (1 Co 7.10-15).
A
violação ao sétimo mandamento é um atentado contra um dos bens mais preciosos
concedidos por Deus ao homem nesta terra, depois da própria vida: o matrimônio.
Por isso o cuidado de Deus em cercar esta união sagrada por um mandamento tão
solene, que requer toda a veneração do coração pela sua pureza, e o
aborrecimento sincero contra tudo aquilo que o possa contaminar e profanar.
* Texto
cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2017
ASSEMBLÉIA DE DEUS
MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
ASSEMBLÉIA DE DEUS
MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
“AS BEM-AVENTURANÇAS DO REINO”
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