quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A justiça de Deus e o sétimo mandamento.





Passando à demonstração prática de como a justiça perfeita do reino dos céus se cumpre na obediência sincera à Lei de Deus, em seu sentido verdadeiro e espiritual, e não apenas na aparência e compreensão carnal dos escribas e fariseus, o Senhor Jesus considera agora o sétimo mandamento (“não adulterarás”) e suas reais e graves implicações sobre a vida de Seus seguidores. 

O intuito do Mestre ainda é contrastar a falsa interpretação e aplicação dada aos mandamentos pelos líderes do povo de Israel com aquilo que Deus realmente queria dizer e demandava, e ensinar que somente aqueles que são feitos participantes da verdade no íntimo do seu coração (Sl 51.6) são aptos para entender e anelar pelo cumprimento da vontade de Deus.

Mais uma vez devemos atentar para o fato de que Jesus, quando apresenta o mandamento em sua literalidade, não o faz para lembrar aos Seus ouvintes apenas o que estava escrito, mas também o que era ensinado pelos escribas e fariseus sob a autoridade dos antigos. 

Assim, o contraste é entre como eles (os mestres de Israel) limitavam os dizeres: “não adulterarás” ao mero ato exterior e consumado do adultério, preocupando-se apenas em condenar os que fossem apanhados no próprio ato (Jo 8.3, 4), e como Cristo resgatava o verdadeiro e profundo sentido desta lei, e revelava o seu poder perscrutador sobre os corações dos homens, tratando com o pecado na sua própria origem (Mt 15.19).

O Senhor explica que o pecado de adultério se dá primeiramente no coração através da cobiça; esta, por sua vez, alimentada por em que os olhos se detêm (2 Pe 2.14). A cobiça (ou concupiscência) é tão condenável quanto o próprio ato do adultério, porque envolve o desejo e o deleite no pecado, como se este já existisse (Tg 1.14, 15), diferenciando-se apenas por serem as circunstâncias tais que o indivíduo ainda não pode consumar o próprio ato. Com isto, Jesus está reafirmando o caráter espiritual do mandamento, porquanto procede de Deus, que vê e julga tanto o exterior, como também o interior. 

E, neste caso particular, é a própria Lei que testificava ser insuficiente obedecê-la apenas no exterior, pois ali encontramos o mandamento: “não cobiçarás” (Ex 20.17), que diz respeito totalmente ao homem interior (cf. Rm 7.7-11).
 Mas, assim como o sexto mandamento (“não matarás”) implica em muito mais do que o ato físico de ferir e tirar a vida do próximo, do mesmo modo o mandamento ora em estudo envolve mais que o adultério: nesta categoria se incluem todas as formas de lascívia e luxúria, tanto em pensamentos como em atos, as quais se originam e são nutridas no coração humano do mesmo modo que o adultério, e que atentam contra o próprio corpo (1 Co 6.18-20), e que não são menos graves e condenáveis aos olhos do Senhor (Ef 5.3-5; Hb 13.4).

Os pecados de lascívia e luxúria, mais do que quaisquer outros, exigem medidas drásticas, radicais, para serem vencidos – cortar e atirar para longe o membro que tem levado ao tropeço, ao pecado, seja no coração (os olhos), seja no corpo (as mãos). Essa medida, contudo, não deve ser entendida literalmente, pois o Senhor Jesus tem em vista o pecado na sua fonte: o coração. 

Os membros do corpo são apenas instrumentos e uma figura para os sentidos, que alimentam os pensamentos e que devem ser, estes sim, mortificados ou despojados pelo poder do Espírito de Deus (Rm 8.13; Cl 3.5, 8), dando lugar a um novo senso das coisas orientado pela palavra de Deus (Rm 12.1-3; Cl 3.1-2). 

Por aqui vemos que o pecado não é tratado por Cristo como coisa simples, fácil de ser evitado, e de pouca gravidade quando apenas no interior; mas é apresentado como um verdadeiro inimigo, uma força insinuadora e escravizadora, que compromete todo o ser através do coração, e condena o homem à perdição, mesmo quando não chega a se manifestar em atos consumados.

E, para subjugar esse adversário, é preciso renunciar a pensamentos, sentimentos e mesmo situações concretas que enganosamente se nos afiguram como tendo grande valor e com que criamos vínculos afetivos (Mt 16.24- 26).

Não é sem razão que somos constantemente orientados a vigiar, pois o perigo é real (Mt 26.41), e só podemos resistir às investidas desse inimigo pela graça de Deus (1 Co 10.12, 13; Ef 6.10-13; Jd 24, 25). 

Logo, a obra de mortificação da carne não consiste em mutilação nem sacrifícios carnais que pouco aproveitam (Cl 2.16-17, 20-23; 1 Tm 4.8), mas só é possível àqueles que são discípulos de Cristo, que já tiveram o corpo do pecado legalmente declarado morto pelo Seu sacrifício na cruz (Gl 2.19, 20), e foram gerados para uma nova vida, espiritual, pela Sua ressurreição (Rm 8.9, 10). 

Na verdade, todo aquele que é filho de Deus deve se aplicar à renúncia e santificação (Rm 6.11-14; 8.12).

Embora nestes versos Jesus faça nova menção ao que fora dito aos antigos, com o propósito de contrastar o ensino dos escribas e fariseus com a Sua fiel interpretação da Lei, não resta dúvida de que o assunto principal continua o mesmo: trata-se agora de como a união matrimonial havia sido banalizada por uma aplicação distorcida da lei do divórcio, generalizando a prática do adultério sob a cobertura de aparente obediência à Lei de Deus.

Tomando a permissão que Moisés havia dado ao povo para se divorciarem em um caso específico (Dt 24.1-4), justamente com o intuito de limitar a prática, pois aquele povo duro de coração não se conformaria a uma proibição absoluta, como no princípio (Mt 19.8); os escribas e fariseus interpretavam como uma ordem, aceitável sob qualquer situação (Mt 19.3, 7), desde que cumprida a exigência de se despedir a mulher com uma carta de divórcio. 

Mais uma vez, o Senhor se contrapõe à malícia dos líderes do povo, lembrando-os, em primeiro lugar, de que o divórcio por qualquer motivo é odioso aos olhos de Deus, pois contraria a lei divina da união indissolúvel do casal, estabelecida na criação, antes da queda (cf. Mt 19.4-6), e faz violência à mulher do concerto matrimonial (Ml 2.13-16).


Não somente isto, mas o divórcio conduz ambos os cônjuges a se enganarem com a ideia de que estão livres um do outro – o que não se dá enquanto ambos vivem (Rm 7.2, 3); além de os expor a contraírem uma nova “união” com terceiros, que não é nada menos que adultério (Mc 10.11, 12; Lc 16.18). Na verdade, não há motivo justificável para o divórcio aos olhos de Deus. O que ocorre é que, em caso de fornicação (ou adultério), o cônjuge infiel já cometeu a transgressão contra o concerto do matrimônio, sob a qual poderia incorrer, caso fosse repudiado por qualquer motivo.

 A questão ainda é a da transgressão ao sétimo mandamento, e Jesus está afirmando que isto ocorre em todo o caso, seja antes ou depois do divórcio. Considerando assim a seriedade e santidade dos vínculos matrimoniais, o cidadão do reino dos céus compreende que é responsável também pela condição espiritual de seu cônjuge e que, dentro do que estiver ao seu alcance, tudo fará pelo seu bem, seja mantendo-se só, se for abandonado; seja recebendo-o de volta em reconciliação (1 Co 7.10-15).


A violação ao sétimo mandamento é um atentado contra um dos bens mais preciosos concedidos por Deus ao homem nesta terra, depois da própria vida: o matrimônio. Por isso o cuidado de Deus em cercar esta união sagrada por um mandamento tão solene, que requer toda a veneração do coração pela sua pureza, e o aborrecimento sincero contra tudo aquilo que o possa contaminar e profanar.


* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2017 

ASSEMBLÉIA DE DEUS 

MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP

“AS BEM-AVENTURANÇAS DO REINO”

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