terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A justiça de Deus e os juramentos.





Em continuidade à exposição que o Senhor vem fazendo acerca da Lei de Deus, explicando o seu verdadeiro sentido e alcance sobre a vida daqueles que cuidam fazer parte do reino dos céus, chegamos agora à consideração de outro aspecto de grande importância para a vida cristã, que diz respeito às palavras que saem da nossa boca, e à necessidade de que sejam a expressão de um caráter veraz e sincero.

O discípulo de Cristo sempre honra a Deus em tudo aquilo que diz, seja quando faz menção ao Seu santo nome, seja quando, na sua conversação cotidiana, fala e mantém sua palavra segundo aquilo que realmente está em seu coração e, ainda que com dano seu, não muda (Sl 15.1-4).

Em primeiro lugar, lembremos que o Senhor Jesus não está de modo algum se opondo à Lei de Deus, mas sim à interpretação tortuosa e à falsa aplicação dos mandamentos feitas pelos escribas e fariseus, a pretexto de assim ter sido ensinado aos antigos. 

A expressão do verso em apreço deve ser entendida como um resumo, ou a essência do que os líderes do povo de Israel consideravam mais importante quanto ao uso de juramentos nas conversações: que não se devia jurar falsamente pelo nome do Senhor (“não perjurarás”, cf. Lv 19.12), e o que fosse jurado (ou votado) expressamente no nome do Senhor devia ser cumprido (“cumprirás os teus juramentos ao Senhor”, cf. Nm 30.2).

Em ambos os casos, aqui entendemos que não se trata do juramento ou voto voluntário feito perante o Senhor, tendo em vista um propósito santo e piedoso (Dt 23.21-23); mas em conversação com o próximo, com o objetivo de confirmar a veracidade do que alguém afirmava ou negava.

Porém, o ensino dos escribas e fariseus não apenas limitava muito o que Deus realmente dizia sobre essa questão, mas levava o povo a fazer uso equivocado e pecaminoso de juramentos, como forma de fazer acreditar suas declarações acerca de coisas triviais, tratadas na conversação cotidiana. 

Assim, mesmo que a questão sob juramento fosse verdadeira, não incorrendo em perjúrio, o ato do juramento em si perdia toda a sua solenidade, e o nome sagrado de Deus era profanado pelo seu uso em questões de pouca importância, o que constituía violação do princípio fundamental expresso pelo terceiro mandamento: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Ex 20.7).

Esse hábito condenável de tudo o que fosse declarado ser aceito apenas à base de juramentos refletia, como nas demais situações exemplificadas por Cristo ao longo deste sermão, que a mentira, a falsidade, o uso de palavras fingidas e a desonestidade no trato com o próximo haviam proliferado entre o povo de Israel, de tal modo que não se podia mais confiar na simples declaração de alguém a respeito de qualquer coisa.

Ao mesmo tempo, isto revelava um problema ainda mais grave e pernicioso, e que, como no caso de outros pecados, também tinha sua origem no interior do homem – esse tipo de linguagem simplesmente revelava o caráter inconstante e o coração dobre, insincero, daquele povo.

A legitimidade do uso de um juramento não depende apenas da veracidade de uma declaração – não basta ser verdade o que se diz sob juramento – mas depende também de uma necessidade.

As Escrituras demonstram que, desde o princípio, os juramentos eram feitos sob a circunstância especial de uma questão ou compromisso entre os homens que não podia ser resolvido pela simples declaração dos fatos, mas exigia a solene invocação de Alguém superior, como testemunha e fiador da verdade, capaz tanto de sondar a sinceridade do coração das partes como também de punir aqueles que porventura usassem de engano (cf. Hb 6.16).

Dentre os muitos exemplos que poderiam ser citados, eis que fizeram uso apropriado de juramentos: homens piedosos, como os patriarcas (Gn 21.23; 24.8, 9; 31.53; 47.31), o apóstolo Paulo (Rm 9.1; 2 Co 1.23; Gl 1.20); os anjos (Ap 10.4-6); e até mesmo Deus (Gn 22.16; Hb 6.17- 18). Portanto, a proibição do Senhor: “de maneira nenhuma jureis” (v. 34) deve-se entender em sua relação com o contexto imediato, considerando-se que o povo usava levianamente de juramentos para validar suas palavras sobre as questões mais corriqueiras – e é a isto que o Senhor se opõe.

Mas o juramento feito em uma ocasião apropriada e solene, pelo contrário, é um ato que tanto glorifica a Deus, 12 por exaltar o Seu poder de único e justo Juiz, que faz valer a verdade e vinga a mentira; como também é exigido por Ele como aquilo que Lhe é devido pelo Seu povo, e que precisa ser feito exclusivamente em Seu nome (Dt 6.13; Is 45.23; 65.16; Jr 4.2).

Assim também, na sequência imediata dessas palavras, percebe-se uma referência a outra prática perniciosa que os escribas e fariseus ensinavam ao povo como formas de se evitar cair em transgressão: eles podiam fazer uso de juramentos indiretos, envolvendo o céu, a terra, a cidade de Jerusalém, ou a própria cabeça, para não incorrerem em profanação ao nome de Deus, ou em perjúrio.

Cristo condenou severamente essas sutilezas, afirmando que tudo aquilo pelo que juravam estava de alguma forma ligado a Deus, o Criador e Sustentador de todas as coisas e, se eles faziam isto com o propósito de dar crédito a uma declaração falsa, incorriam em perjúrio do mesmo modo que se jurassem diretamente pelo nome santo de Deus (cf. Mt 23.16-22).

Em contraposição ao uso imoderado e profano dos juramentos, o Senhor Jesus propõe, ou antes revela, o caráter do verdadeiro súdito do reino dos céus, expresso na sua linguagem cotidiana, particularmente naquilo que afirma ou nega.

O discípulo do reino dos céus tanto é comprometido com a justiça como também com a verdade e sinceridade, amando-as, e aborrecendo a mentira e falsidade em todas as suas formas (Ex 20.16; Ef 4.25).

É incompatível com a transparência da justiça divina o uso de palavras dúbias, que encobrem ou falsificam as intenções e pensamentos do coração, ao invés de serem sua fiel expressão; em outras palavras, tal atitude é condenada como hipocrisia e leviandade (cf. Mt 12.33-37).

Portanto, a palavra do cristão deve não apenas corresponder à verdade exterior dos fatos que afirma ou nega, mas também ser a expressão exata do que pensa e pretende dizer – se é sim, que seja sim; se é não, que seja não (cf. 2 Co 1.18). E, para isto, é necessário temperança, reflexão e sabedoria divina (Tg 3.10-13).

A propensão em jurar sobre qualquer palavra, inclusive invocando-se o nome de Deus, procede da inclinação maligna de um coração não regenerado, de um caráter leviano e inconstante, e que o Senhor não terá por inocente, mas sujeitará a juízo (Tg 1.8; 5.12).


Nossa palavra é um testemunho do que há em nosso coração. Enquanto os homens não confiam na palavra uns dos outros, nem na sua própria palavra, recorrendo a muitas formalidades para se aceitarem em suas declarações, em razão da falsidade e mentira que predomina em todos os seus relacionamentos; como discípulos de Cristo, temos compromisso com a verdade, devemos saber que nossas palavras correspondem a essa verdade em nosso coração, e nada, exceto a glória de Deus, pode nos constranger a qualquer outro termo ou expressão de confirmação do que dizemos, além do nosso sim ou não.



* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2017 

ASSEMBLÉIA DE DEUS 
MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
“AS BEM-AVENTURANÇAS DO REINO”


Nenhum comentário:

Postar um comentário