quinta-feira, 16 de março de 2017

A liberalidade da graça de Deus.

Desde o início do Sermão do Monte, temos considerado as características espirituais do reino de Deus que afetam profundamente o caráter e a conduta dos Seus súditos, revelando neles a diferença entre os verdadeiros seguidores de Cristo e aqueles que servem a Deus apenas na aparência. Então chegamos, na lição passada, ao ponto em que nosso Senhor nos confronta com a realidade do juízo de Deus, onde todos teremos que prestar contas dos nossos atos; portanto, cientes da nossa fraqueza e incapacidade para correspondermos ao elevado padrão do reino dos céus, não podemos nos dar à presunção de julgar e condenar o nosso próximo. Agora, ciente da nossa limitação e necessidade, o Senhor nos orienta a buscarmos de Deus a graça de que tanto precisamos para cumprir as demandas do reino, tendo a certeza de que Ele não a negará aos Seus.

Enquanto no capítulo anterior o Senhor Jesus nos ensinou o que pedir em oração ao nosso Pai celestial, nestes versos Ele nos encoraja e incentiva à aplicação, orientando-nos a recorrer a Deus por aquilo que falta em nossas vidas. Os três imperativos: “pedi”, “buscai” e “batei” ilustram, em primeiro lugar, que o verdadeiro discípulo de Cristo precisa sentir a sua profunda necessidade espiritual (cf. Mt5.3) e entender ser incapaz e desmerecedor de qualquer benefício da parte de Deus, pois só pede aquele que não tem, só busca aquele que perdeu, e só bate aquele para quem a porta está fechada.

Compreendendo a sua limitação para viver em harmonia com o reino dos céus, ele passa a ter o senso da dependência divina e a suplicar a Deus pela provisão da graça que lhe falta (cf. Lc 17.5).

A exortação de Cristo também revela, pela sua ênfase, que dependemos de Deus em coisas absolutamente necessárias e vitais, que devem ser buscadas com o maior interesse, com insistência, persistência e sinceridade. Ao mesmo tempo que o reino de Deus é uma graciosa dádiva feita a homens que não o mereciam, e o convite é estendido a todos, sua verdadeira posse não é para os que o desprezam, para os desinteressados e negligentes, mas para os que usam de todos os meios possíveis para alcançá-lo (cf. Mt 11.12; 13.44-46; 22.2-8, 9-12). Estas palavras ensinam a perseverança, pela qual aprendemos a depender de Deus sempre (Lc 18.1-8; 1 Ts 5.17), pois nossas necessidades, devido à nossa própria natureza variável e transitória, são sempre as mesmas, e nunca podem ser satisfeitas plenamente e de uma só vez nesta vida; e porque também, uma vez confiantes de que não precisássemos de mais nada, infalivelmente cairíamos no pecado da soberba e autossuficiência, abandonando todo senso de dependência divina.

O Senhor sabe o quanto somos tendentes ao desânimo e ao desespero, ante a percepção de uma grande necessidade e ao fato de que nem sempre a sua provisão é imediata, sendo necessário paciência e perseverança para receber resposta de Deus. Por isso a garantia que Ele dá aos Seus discípulos de que certamente serão ouvidos e atendidos pelo Pai celestial é dupla: “pedi, e dar-se-vos-á”, e: porque aquele que pede recebe”. Este é um ensino que inspira grande confiança e segurança em Deus e na imutabilidade do Seu trato com os Seus servos, pois, se no passado Ele respondeu a tantos que clamaram em sua instante necessidade, por que não responderia a nós, que também somos Seus servos e filhos?

Para inspirar ainda mais confiança em Seus seguidores, Jesus traça um paralelo entre a liberalidade humana e a divina: se podemos esperar certa medida de generosidade até entre os homens, que são maus, por que esperar menos de Deus, que é a fonte de todo bem e de toda bondade? Mas a razão maior nesta comparação está em que, assim como ninguém negará o melhor do que tem aos seus filhos, porque são seus filhos, do mesmo modo Deus não nos negará bem algum, pois nós somos Seus Filhos. Acrescente-se a isto que mesmo os homens maus podem ser dobrados pela insistência e impertinência de outros – quanto mais Deus está pronto a atender aqueles que insistem com Ele? (cf. Lc 11.5-8; 18.1-8). Aqui também vemos que perde uma grande oportunidade de desfrutar de maior comunhão e graça de Deus para o seu dia-a-dia aquele que não persevera em oração, apresentando a Deus suas reais necessidades (Tg 4.2, 3).

Pelo contexto de toda esta passagem já deveria estar clara a natureza dos bens que nosso Senhor aqui nos orienta a buscarmos instantemente de Deus, e que certamente Ele nos dará mediante a nossa perseverança em oração: são bens espirituais, a saber, a graça e virtude necessárias para conformar nossas vidas à semelhança de Cristo, ou ainda, o próprio Espírito Santo (Lc 11.13), que é o bem maior e a garantia de que tudo o mais que venhamos a precisar será concedido por nosso Pai celestial (At 2.38-39; 2 Co 5.5; Rm 8.15-17).

O último verso da passagem proposta para esta lição apresenta-nos um argumento conclusivo, ou seja, em conexão com o que o Senhor acabou de ensinar sobre pedir com insistência a Deus. Na verdade, aqui está implícito o mesmo princípio já ilustrado em momentos anteriores, de que Deus está pronto para suprir nossas necessidades, desde que haja em nós a mesma disposição em suprir as necessidades alheias: seja em perdão, misericórdia ou qualquer outro bem – enfim, “tudo o que vós quereis” (Mt 6.14; 7.2; Lc 6.36). Se, como vimos na lição passada, não podemos dar as coisas santas aos cães, nem aos porcos as nossas pérolas, ao mesmo tempo não nos esqueçamos de que também temos a obrigação de compartilhar o bem que nos foi confiado, de graça, liberalmente, assim como de graça nos foi dado (Mt 10.7, 8).

A referência aos homens na expressão: “tudo o que vós quereis que os homens vos façam” deve ser entendida em conexão com: “fazei-lho também vós”, como equivalente a: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.39). Ou seja, Jesus não está nos ensinando a esperar dos homens todo o bem de que precisamos, pois a nossa provisão vem de Deus; e porque nem sempre receberemos dos homens o bem que lhes fazemos (cf. Mt 5.10, 11; 1 Pe 3.13, 14). Mas o sentido desta expressão é de que, como filhos de Deus, devemos tratar nosso próximo do mesmo modo como somos tratados pelo próprio Deus (Mt 5.48; Ef 5.1). Além do que a recompensa por todo o bem que fazemos, seja quando correspondido ou não pelos homens, virá infalivelmente de Deus (Ef 6.8).

Finalmente, consideremos que Jesus aqui resume, em poucas palavras, todo o ensinamento da lei e dos profetas, explicadas ao longo deste Sermão. De fato, o amor ao próximo, em conexão com o amor a Deus, constitui a essência de toda a lei e os profetas – tudo o que foi escrito no passado visa conduzir o homem à prática do amor, e nenhum mandamento particular pode ser cumprido satisfatoriamente aos olhos de Deus se não for orientado por esse espírito (Mt 22.35-40; Rm 13.8-10). Ao mesmo tempo, esse amor a Deus e ao próximo é ricamente ilustrado e pautado pelos princípios definidos nas Escrituras – isto é, não se trata de um amor indefinido e sentimental, nem separado da justiça divina, o que, na verdade, não é amor de Deus, e sim mundano (cf. 1 Jo 2.5, 15-17; 3.18).

Deus espera ser buscado por Seus filhos constantemente, para provisão de todas as suas necessidades, principalmente espirituais. Ele é bom e generoso, e não negará coisa alguma que seja realmente necessária. E, quando não responde de imediato, ainda assim está agindo em favor dos que clamam a Ele, ensinando-os a depender d’Ele e não abandoná-lO, mesmo quando alcançam suas petições. Mas lembremos que Ele sempre nos tratará como filhos na medida em que, à semelhança de nosso Pai celestial, tratarmos o próximo com a mesma bondade e liberalidade.

* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2017 

ASSEMBLÉIA DE DEUS 
MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
“AS BEM-AVENTURANÇAS DO REINO”

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