Desde o início do Sermão do Monte, temos considerado as
características espirituais do reino de Deus que afetam profundamente o caráter
e a conduta dos Seus súditos, revelando neles a diferença entre os verdadeiros
seguidores de Cristo e aqueles que servem a Deus apenas na aparência. Então chegamos,
na lição passada, ao ponto em que nosso Senhor nos confronta com a realidade do
juízo de Deus, onde todos teremos que prestar contas dos nossos atos; portanto,
cientes da nossa fraqueza e incapacidade para correspondermos ao elevado padrão
do reino dos céus, não podemos nos dar à presunção de julgar e condenar o nosso
próximo. Agora, ciente da nossa limitação e necessidade, o Senhor nos orienta a
buscarmos de Deus a graça de que tanto precisamos para cumprir as demandas do reino,
tendo a certeza de que Ele não a negará aos Seus.
Enquanto no capítulo anterior o Senhor Jesus nos ensinou
o que pedir em oração ao nosso Pai celestial, nestes versos Ele nos encoraja e
incentiva à aplicação, orientando-nos a recorrer a Deus por aquilo que falta em
nossas vidas. Os três imperativos: “pedi”, “buscai” e “batei” ilustram, em
primeiro lugar, que o verdadeiro discípulo de Cristo precisa sentir a sua
profunda necessidade espiritual (cf. Mt5.3) e entender ser incapaz e
desmerecedor de qualquer benefício da parte de Deus, pois só pede aquele que
não tem, só busca aquele que perdeu, e só bate aquele para quem a porta está
fechada.
Compreendendo a sua limitação para viver em harmonia com
o reino dos céus, ele passa a ter o senso da dependência divina e a suplicar a
Deus pela provisão da graça que lhe falta (cf. Lc 17.5).
A exortação de Cristo também revela, pela sua ênfase, que
dependemos de Deus em coisas absolutamente necessárias e vitais, que devem ser
buscadas com o maior interesse, com insistência, persistência e sinceridade.
Ao mesmo tempo que o reino de Deus é uma graciosa dádiva feita a homens que
não o mereciam, e o convite é estendido a todos, sua verdadeira posse não é
para os que o desprezam, para os desinteressados e negligentes, mas para os que
usam de todos os meios possíveis para alcançá-lo (cf. Mt 11.12; 13.44-46;
22.2-8, 9-12). Estas palavras ensinam a perseverança, pela qual aprendemos
a depender de Deus sempre (Lc 18.1-8; 1 Ts 5.17), pois nossas
necessidades, devido à nossa própria natureza variável e transitória, são
sempre as mesmas, e nunca podem ser satisfeitas plenamente e de uma só vez
nesta vida; e porque também, uma vez confiantes de que não precisássemos de
mais nada, infalivelmente cairíamos no pecado da soberba e autossuficiência,
abandonando todo senso de dependência divina.
O Senhor sabe o quanto somos tendentes ao desânimo e ao desespero,
ante a percepção de uma grande necessidade e ao fato de que nem sempre a sua
provisão é imediata, sendo necessário paciência e perseverança para receber
resposta de Deus. Por isso a garantia que Ele dá aos Seus discípulos de que certamente
serão ouvidos e atendidos pelo Pai celestial é dupla: “pedi, e dar-se-vos-á”,
e: “porque aquele que pede recebe”. Este é um ensino que
inspira grande confiança e segurança em Deus e na imutabilidade do Seu trato
com os Seus servos, pois, se no passado Ele respondeu a tantos que clamaram em
sua instante necessidade, por que não responderia a nós, que também somos Seus
servos e filhos?
Para inspirar ainda mais confiança em Seus seguidores,
Jesus traça um paralelo entre a liberalidade humana e a divina: se podemos
esperar certa medida de generosidade até entre os homens, que são maus, por que
esperar menos de Deus, que é a fonte de todo bem e de toda bondade? Mas a razão
maior nesta comparação está em que, assim como ninguém negará o melhor do que
tem aos seus filhos, porque são seus filhos, do mesmo modo Deus não nos
negará bem algum, pois nós somos Seus Filhos. Acrescente-se a isto que
mesmo os homens maus podem ser dobrados pela insistência e impertinência de
outros – quanto mais Deus está pronto a atender aqueles que insistem com Ele?
(cf. Lc 11.5-8; 18.1-8). Aqui também vemos que perde uma grande oportunidade de
desfrutar de maior comunhão e graça de Deus para o seu dia-a-dia aquele que não
persevera em oração, apresentando a Deus suas reais necessidades (Tg 4.2, 3).
Pelo contexto de toda esta passagem já deveria estar
clara a natureza dos bens que nosso Senhor aqui nos orienta a buscarmos
instantemente de Deus, e que certamente Ele nos dará mediante a nossa perseverança
em oração: são bens espirituais, a saber, a graça e virtude necessárias
para conformar nossas vidas à semelhança de Cristo, ou ainda, o próprio
Espírito Santo (Lc 11.13), que é o bem maior e a garantia de que tudo o mais
que venhamos a precisar será concedido por nosso Pai celestial (At 2.38-39; 2
Co 5.5; Rm 8.15-17).
O último verso da passagem proposta para esta lição
apresenta-nos um argumento conclusivo, ou seja, em conexão com o que o Senhor
acabou de ensinar sobre pedir com insistência a Deus. Na verdade, aqui está
implícito o mesmo princípio já ilustrado em momentos anteriores, de que Deus
está pronto para suprir nossas necessidades, desde que haja em nós a mesma
disposição em suprir as necessidades alheias: seja em perdão, misericórdia ou
qualquer outro bem – enfim, “tudo o que vós quereis” (Mt 6.14; 7.2; Lc 6.36).
Se, como vimos na lição passada, não podemos dar as coisas santas aos cães, nem
aos porcos as nossas pérolas, ao mesmo tempo não nos esqueçamos de que também
temos a obrigação de compartilhar o bem que nos foi confiado, de graça,
liberalmente, assim como de graça nos foi dado (Mt 10.7, 8).
A referência aos homens na expressão: “tudo o que vós
quereis que os homens vos façam” deve ser entendida em conexão com:
“fazei-lho também vós”, como equivalente a: “Amarás o teu próximo como a ti
mesmo” (Mt 22.39). Ou seja, Jesus não está nos ensinando a esperar dos homens
todo o bem de que precisamos, pois a nossa provisão vem de Deus; e porque nem
sempre receberemos dos homens o bem que lhes fazemos (cf. Mt 5.10, 11; 1 Pe
3.13, 14). Mas o sentido desta expressão é de que, como filhos de Deus, devemos
tratar nosso próximo do mesmo modo como somos tratados pelo próprio Deus (Mt 5.48;
Ef 5.1). Além do que a recompensa por todo o bem que fazemos, seja quando
correspondido ou não pelos homens, virá infalivelmente de Deus (Ef 6.8).
Finalmente, consideremos que Jesus aqui resume, em poucas
palavras, todo o ensinamento da lei e dos profetas, explicadas ao longo deste
Sermão. De fato, o amor ao próximo, em conexão com o amor a Deus, constitui a
essência de toda a lei e os profetas – tudo o que foi escrito no passado visa
conduzir o homem à prática do amor, e nenhum mandamento particular pode ser
cumprido satisfatoriamente aos olhos de Deus se não for orientado por esse
espírito (Mt 22.35-40; Rm 13.8-10). Ao mesmo tempo, esse amor a Deus e ao próximo
é ricamente ilustrado e pautado pelos princípios definidos nas Escrituras – isto
é, não se trata de um amor indefinido e sentimental, nem separado da justiça
divina, o que, na verdade, não é amor de Deus, e sim mundano (cf. 1 Jo 2.5,
15-17; 3.18).
Deus espera ser buscado por Seus filhos constantemente,
para provisão de todas as suas necessidades, principalmente espirituais. Ele é
bom e generoso, e não negará coisa alguma que seja realmente necessária. E,
quando não responde de imediato, ainda assim está agindo em favor dos que clamam
a Ele, ensinando-os a depender d’Ele e não abandoná-lO, mesmo quando alcançam
suas petições. Mas lembremos que Ele sempre nos tratará como filhos na medida
em que, à semelhança de nosso Pai celestial, tratarmos o próximo com a mesma
bondade e liberalidade.
* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2017
ASSEMBLÉIA DE DEUS
MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
ASSEMBLÉIA DE DEUS
MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
“AS BEM-AVENTURANÇAS DO REINO”
Nenhum comentário:
Postar um comentário