Assim,
tendo chamado a nossa atenção para o perigo da ostentação quando nos aplicamos
de atos como as esmolas, a oração e o jejum, nosso Mestre vai tratar agora de
como devemos lidar com os bens materiais e evitar um mal igualmente grave que,
uma vez brotando no coração, corrompe nosso andar com Deus, desviando-nos do
reino dos céus e impedindo-nos de desfrutar de comunhão plena com Ele e de
confiar na Sua bondosa providência.
Para
tratar do nosso relacionamento com os bens materiais, o Senhor começa fazendo
uma dupla exortação: “Não ajunteis tesouros na terra”, e: “Ajuntai tesouros nos
céus”, nas quais o Seu propósito não é condenar as riquezas em si, desde que
estas sejam fruto do nosso trabalho (cf. Ec 3.13); mas sim o amor às riquezas
que leva o homem a fazer delas um fim em si mesmo, ansiando por obtê-las e
confiando na abundância delas.
Jesus
revela que tal atitude é tola e inútil, pois os bens materiais estão sujeitos a
muitas vicissitudes (a traça, a ferrugem, os ladrões), pelas quais podemos perdê-los
facilmente; e enreda o homem em uma busca sem fim e desesperadora que o levará
à condenação (Ec 5.10-14; Pv 23.4, 5; 1 Tm 6.9-10; Lc 12.15-20; Tg 1.9-11). Por
outro lado, devemos ansiar e lançar mão de todos os esforços para enriquecermos
para com Deus (Mt 6.33; 11.12; Jo 6.27), inclusive usando de nossos bens
materiais (Mt 16.21; Lc 12.33; 16.1-9; 1 Tm 6.17-19); pois somente as riquezas
acumuladas no reino de Deus são incorruptíveis e permanecem seguramente em
depósito para o nosso proveito nos céus (Mt 25.34; 1 Pe 1.3-5).
Mais
importante ainda é o fato de que o coração está intimamente ligado ao tesouro
que escolhermos ajuntar, pois nossos pensamentos, intenções e afeições sempre
se voltarão para aquilo que consideramos digno de valor e estima, e que nos
esforçarmos por obter e acumular para o nosso desfrute.
O amor às riquezas,
portanto, é uma paixão carnal e insidiosa, que precisa ser mortificada a todo o
tempo enquanto estivermos na terra (cf. Cl 3.5). A ilustração proposta nos
versos 22 e 23 revela uma realidade ainda mais profunda na escolha do nosso
tesouro. Os olhos são a “luz” ou “candeia” (cf. Lc 12.35, 36) do corpo, porque
dependemos da visão para realizarmos qualquer obra através do corpo – se nossa
visão é boa, nossos atos serão bem orientados, e seguiremos o caminho correto;
se for ruim, nossas ações serão equivocadas, e nos desviaremos rapidamente do
caminho.
Do
mesmo modo, só é possível almejar as coisas celestiais e orientar nossa vida
para elas se houver em nós um entendimento iluminado pela verdade, renovado
pela graça de Deus (Jo 3.3; Mt 11.25-27); do contrário, o entendimento mundano
não consegue ver a excelência do reino dos céus, e só leva à cobiça e avareza
(1 Co 2.14; Ef 4.17-19). Mas, se aqueles que confessam seguir a Cristo, supostamente
tendo os olhos iluminados, se deixam enganar pelas riquezas deste mundo, quanto
pior é o seu estado e inútil a sua confissão! (cf. 2 Pe 2.20).
O
desenvolvimento dessa verdade chega ao seu ponto mais grave com a declaração
seguinte, de que ajuntar tesouros na terra não é nada menos que servir às
riquezas como um outro deus – em outras palavras, é dividir com a criatura a
lealdade do nosso coração, que é devida exclusivamente a Deus (Mt 22.37; 1 Co
5.11; Tg 4.1-4), implicando em terríveis consequências para a eternidade (Lc
16.13-14, 19-31).
Na
sequência deste ensinamento, o Senhor Jesus passa à consideração de outro mal
de natureza semelhante ao da cobiça e avareza, e igualmente presente no coração
do homem natural: a ansiedade ou preocupação pela provisão das nossas
necessidades materiais futuras (“o que haveis de comer”, “o que haveis de
beber”, “o que haveis de vestir”). O fato é que Jesus está cuidando agora de um
problema que constitui a raiz do amor às riquezas, e que também é pecaminoso e precisamos
estar alertas para os seus primeiros sinais de manifestação.
É
o cuidado excessivo pelas coisas desta vida, no temor de que possam vir a
faltar, e a subsistência ser prejudicada, que tem lançado o homem à busca
desenfreada e ao acúmulo excessivo delas, criando assim a falsa segurança de
que, na sua abundância, estará precavido contra todos os infortúnios no dia de
amanhã.
O
remédio para a ansiedade, como veremos nas razões apresentadas por Cristo, está
em Deus, no conhecimento da Sua bondade, poder, sabedoria e providência. Assim,
o primeiro argumento é que Ele nos deu a vida, nossa existência depende dEle
(At 17.28). A vida é mais excelente que as coisas necessárias para a sua
manutenção, logo, por que Ele não nos daria também essas coisas? Depois,
devemos considerar como Deus trata Sua criação não humana, provendo não apenas
a vida mas sustentando cada criatura de forma maravilhosa, diariamente, com
abundância e o que, humanamente falando, poderia ser considerado grande luxo e
pompa (Sl 104.27-30).
E
daí perguntamos: Por que Ele não faria o mesmo por nós, que trabalhamos pelo
nosso pão e que, pela graça da adoção, somos considerados por Ele como filhos,
muito mais valiosos e dignos do Seu cuidado? E, por último, somos relembrados
do quanto é limitado o nosso esforço em prover nossas próprias necessidades –
por maiores que sejam nossos cuidados, e por mais que trabalhemos, nada disto
mudará nossa constituição e condição natural.
Embora
seja uma atitude muito comum para o homem natural, a ansiedade pelos bens
materiais equivale a uma incredulidade e falta de confiança em Deus.
Não
é característico do discípulo de Cristo, daquele que recebeu entendimento para
buscar as coisas que são cima, deixar-se envolver pelas preocupações que ocupam
os corações daqueles que não conhecem a Deus (os gentios, cf. Mt 13.22).
Mediante os argumentos ora apresentados por nosso Mestre, podemos descansar na
certeza de que Ele sabe do que precisamos (cf. Mt 6.8), e trabalhar com sossego
e confiança na Sua boa providência (Sl 127.1, 2; 103.13; Hb 13.5).
Tendo
lidado com os males da cobiça, da avareza e da ansiedade proveniente da falta
de confiança na providência de Deus, o Senhor contrapõe agora, ao objeto da
preocupação dos gentios, aquilo que deve ser o foco de todos os nossos anseios
e esforços: o reino dos céus e a sua justiça. Daquele que segue a Cristo é
exigido que não apenas confie em Deus para provisão de suas necessidades, mas
que renuncie a todo pensamento de que tais necessidades sejam essenciais,
relegando-as a segundo plano (são as “demais coisas”), diante da excelência do
seu chamado para participar das realidades eternas do reino (Cl 3.1). No mesmo
sentido em que priorizamos a vinda do reino de Deus em nossa oração (Mt 6.10),
também devemos buscar o seu poder e graça, ou a sua justiça, como nosso
verdadeiro alimento, e bebida, e vestimenta.
O
Senhor Jesus finaliza esta exortação à confiança em Deus e ao cuidado com a
ansiedade lembrando-nos que o dia de amanhã, que tanto preocupa o homem, está
fora do nosso alcance, e tudo o possa sobrevir nesse amanhã só poderá ser
conhecido e tratado quando o amanhã chegar (cf. Tg 4.13-16). Quando entendemos
que fomos chamados para viver em função do reino dos céus, e que todas as
coisas estão no controle de Deus, servindo e contribuindo para o nosso bem,
podemos lidar com o mal de cada dia como um teste da nossa confiança e
dependência de nosso Pai celestial (Rm 8.28, 36) e viver satisfeitos com a
nossa porção cotidiana (Fp 4.12, 13; 1 Tm 6.6-8).
Não
há virtude em ser rico, nem em ser pobre; mas sim em ser capaz de apreciar as
coisas que realmente têm valor – as coisas celestiais e eternas – e viver em
função delas.
Mas,
para isto, o coração precisa ser iluminado pelo Evangelho da graça de Cristo.
Muitos que outrora confessavam ser cristãos deixaram-se enlaçar pelos cuidados
desta vida, esquecendo-se da bondade de nosso Pai celestial, e naufragando na
fé por causa do amor às riquezas.
Que
possamos dar mais atenção e valor aos bens eternos e entender que nossa vida
tem um propósito superior, mais excelente, e que Deus tudo fará para que o
alcancemos com sucesso, inclusive provendo as “demais coisas” necessárias.
* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2017
ASSEMBLÉIA DE DEUS
MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
ASSEMBLÉIA DE DEUS
MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
“AS BEM-AVENTURANÇAS DO REINO”
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