Chegamos
à conclusão deste tão instrutivo Sermão proferido por nosso Senhor, no qual é
desvendada a verdadeira essência de uma vida que glorifica a Deus por estar em
harmonia com a Sua vontade e orientada para o Seu reino. E, após exortar os
discípulos a uma total dependência da graça para que pudessem cumprir com as
exigências da justiça e piedade divina, Jesus os incita à obediência sincera,
constante e sem reservas da palavra de Deus, mostrando que de nada serve uma
confissão de fé ou conhecimento que não se revele na prática; e, ainda que
possam surgir aqueles que confessarão falsamente o Evangelho, só poderão ter a
certeza de vida eterna e aprovação divina aqueles que estão resolvidos a seguir
os passos do Mestre até ao fim e a todo o custo.
A
exortação ilustrada nestes versos revela que todo o ensinamento transmitido por
Cristo, particularmente neste Sermão, não é importante apenas por representar
um padrão de justiça e piedade apropriado para os Seus discípulos, para aqueles
que já foram salvos pela graça; é antes uma “porta” e um “caminho” para a sua
própria salvação e vida eterna. Isto se harmoniza com o fato de que Jesus veio
salvar o Seu povo da condenação tanto através do Seu sacrifício na cruz, sendo
Ele mesmo a porta e o caminho (Mt 20.28; Jo 10.7; 14.6). E, seguindo o método
da graça e misericórdia divina, Ele insta com os Seus ouvintes para que não
rejeitem essa provisão (cf. Dt. 30.19; Ez 18.23, 30-32; Jo 14.6). “Entrai” –
ou, em um texto paralelo, “porfiai por entrar” (Lc 13.24) – implica que a vida
eterna só pode ser alcançada através de um esforço – um grande esforço. É uma
passagem que deve ser forçada (cf. Mt 11.12), porque a porta é “estreita” e o
caminho, “apertado”, ou seja, o elevado padrão do reino dos céus aponta em uma
direção contrária àquela que a natureza carnal e pecaminosa do homem o inclina,
confrontando suas obras e perscrutando os sentimentos e motivações mais ocultas
do seu coração e impondo uma atitude de renúncia a coisas e pessoas que ele
ama, e inclusive ao seu próprio eu (Mt 10.34-39; 16.24-26; Lc 14.28-33). E quão
difícil é para o homem se dobrar ao conselho de Deus – de fato, isto é
impossível ao homem, mas não a Deus – por isso tão poucos encontram este
caminho (Mt 19.24- 26; Lc 13.23-24). Por outro lado, a “porta” e o “caminho”
que levam à destruição não requer nenhum esforço para ser encontrado e
trilhado, pois todos os homens já nascem nele e, se não for pela intervenção da
graça salvadora de Deus, só perceberão o seu fim destrutivo naquele dia (cf. Pv
14.12; Lc 13.25). O fato de ser “largo” e “espaçoso” significa que é fácil, ou
seja, permite a satisfação de todos os desejos e vaidades do homem, não há
confrontação com o caráter, e seus pensamentos ocultos podem ser facilmente
acobertados sob a aparência de uma falsa confissão – é o curso deste mundo, da
multidão, da maioria (cf. Ef 2.1-3).
Tendo
definido claramente que só há duas opções possíveis – e a que representa a vida
não é fácil, embora o seu fim justifique e faça valer todo o empenho e
sofrimento – o Senhor alerta Seus discípulos contra aqueles que certamente se
levantariam para tentar desvirtuá-los do caminho, trocando a severidade do
Evangelho pelas facilidades da conformação com o mundo, dando-lhes a falsa
esperança de que, mesmo assim, ainda poderiam esperar alcançar a vida. O falso
profeta, neste contexto, é todo aquele que presume ser enviado por Deus e ter o
que ensinar a outros, recomendando-se por uma falsa confissão e identidade com
o povo de Deus (“vestido de ovelha”), mas que, tanto pela sua própria conduta
como pelo efeito dos seus ensinamentos libertinos, revela seu verdadeiro
caráter réprobo (cf. 2 Pe 2.1-3, 18-22). Acerca dos tais, não somente o próprio
Senhor Jesus, mas Seus apóstolos também deixaram várias advertências (cf. 1 Tm
4.1, 2; 2 Tm 3.1-5; 4.3-5). A comparação com a árvore e seu fruto nos orienta
sobre como podemos reconhecer esses lobos devoradores, destrutivos para o
rebanho de Deus: considerando, em primeiro lugar, a sua própria conduta no
Evangelho; pois Cristo não requer menos obediência daquele que se diz mestre do
que daquele que é ensinado como discípulo – antes, requer ainda mais do mestre
(cf. Mt 24.45-51; Lc 12.47- 48). Depois, devemos considerar a qualidade de suas
palavras – se inspiram temor, confiança e amor a 26 Deus e amor ao próximo; ou
se disseminam liberalismo e permissividade nos que os ouvem, levando-os à
negligência da santidade. A sentença contra os tais já está dada – se não há
tolerância para a hipocrisia naqueles que ouvem as palavras de Cristo, tampouco
haverá para aqueles que a ensinam.
(MT
7.21-27) Nestes versos fica ainda mais patente que o Senhor Jesus está tratando
com a atitude de hipocrisia que muitos ouvintes da Sua Palavra poderiam ter, e
isto Ele faz para mostrar o quanto é perigosa e destrutiva essa atitude. Se,
por um lado, a confissão do nome de Cristo faz parte do nosso testemunho
cristão (Mt 10.32-33), por outro, de nada valem os lábios que confessam o
Senhor quando isto não é fruto de um coração sincero e fiel (Rm 10.8-10; Hb
13.15; cf. Mt 15.7-8), ou de uma vida pautada pela obediência ao Evangelho.
Neste caso, Jesus não faz uma comparação, mas nos dá um vislumbre de como
realmente será aquele grande dia de juízo, quando muitos se decepcionarão com a
confissão hipócrita que fizeram do Seu nome e com a aparente identidade que
mantiveram com a Sua causa – a vida eterna sendo de uma excelência muito
superior (Lc 10.17-20). Jesus só reconhecerá aqueles que de fato foram Seus
discípulos, ou seja, aprendendo dEle e imitando-O, na obediência à vontade de
Deus (Lc 6.46; Jo 15.21; 2 Tm 2.19- 21). Observemos ainda que toda a confissão
aparente, feita para iludir e ocultar aos homens um coração infiel, será
desfeita do mesmo modo diante dos homens, para que os segredos fiquem
descobertos não somente para aquele que viveu hipocritamente, mas para os que
foram enganados pela sua falsa identidade. A parte conclusiva deste longo e rico
discurso de Cristo traz, sob a forma de uma nova comparação, um alerta final,
que chama a nossa atenção para um dia em que nossa vida será examinada e posta
à prova e, de acordo com a qualidade de nossas ações, seremos aprovados ou
reprovados. É uma exortação dirigida particularmente àqueles que ouvem a
Cristo, e não aos homens em geral (“todo aquele, pois, que ouve estas minhas
palavras”), onde vemos, em primeiro lugar, o rigor do escrutínio de Deus sobre
a vida daqueles que são confrontados com a Sua Palavra, comparado às forças
tempestivas e poderosas da natureza. Em segundo lugar, evidencia-se a eficácia
da palavra de Cristo, uma vez aplicada ao nosso coração e posta por prática,
pode firmar nossa alma e assegurá-la eternamente, a fim de que não pereçamos em
juízo. E, por último, mais uma vez aparece nesta comparação a necessidade de um
esforço para a obediência dos ensinos de nosso Senhor, assim como para
construir uma casa firme contra as adversidades é necessário buscar o solo
apropriado, cavar em busca da rocha firme que servirá de fundamento para o
edifício (cf. Lc 6.47, 48).
As
palavras de Cristo não devem ser apenas ouvidas e admiradas, para depois serem
esquecidas. Não é discípulo de Cristo aquele que o é apenas na aparência, e que
negligencia e pouco se importa com a prática da justiça e da piedade. Que
possamos nos confrontar diariamente com a transparência dos ensinos ministrados
por nosso Senhor neste Sermão e, com humildade e resignação, nos submetermos ao
bondoso e misericordioso governo que Cristo tem, por direito, sobre nossas
vidas.
* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2017
ASSEMBLÉIA DE DEUS
MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
ASSEMBLÉIA DE DEUS
MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
“AS BEM-AVENTURANÇAS DO REINO”
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