quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

A oração ensinada pelo Senhor.

Na lição anterior, consideramos o ensino de nosso Senhor a respeito da piedade ou devoção perfeita a Deus que Ele exige dos Seus discípulos, e de como devemos nos guardar da ostentação, do louvor dos homens, em todos os atos que expressem nosso relacionamento com o Pai, e cuidar para que sejamos sinceros nas esmolas, na oração, no jejum, ou em quaisquer outras formas de adoração. Tendo também fornecido orientação adicional quanto à prática da oração, exortando-nos a não usarmos de palavreados desnecessários e repetitivos quando nos dirigimos a Deus, o Senhor Jesus agora nos ensina o que pedir, e como pedir aquilo que convém, a fim de que possamos cumprir o dever da oração não apenas com sinceridade, mas também com sabedoria e certeza de que seremos ouvidos por nosso Pai celestial.

A sabedoria de nosso Senhor Jesus revela-se claramente tanto na abrangência e pertinência das petições apresentadas nesta oração, como também na concisão e objetividade das palavras. 

Aqui são contemplados, por sua ordem: os interesses prioritários do próprio Deus (vv. 9-10); as necessidades particulares do Seu povo (vv. 11-12); e a exaltação e ação de graças que Lhe são devidos (v. 13). “Vós orareis assim”, ou seja, conforme o modelo dessas palavras. Isto quer dizer que a Oração do Senhor representa um padrão a ser seguido quando nos dirigimos a Deus no exercício constante da oração – todas as nossas petições, independentemente do seu propósito ou ocasião, devem de algum modo corresponder a uma ou mais cláusulas desta oração modelo. Por outro lado, não é necessariamente errado repetir as próprias palavras ensinadas por Cristo (cf. Lc 11.1-2, “Quando orardes, dizei”), desde que isto seja feito em sinceridade de coração, e não na atitude condenada nos versos anteriores (vv. 7-8). Esta oração também é conhecida como a do “Pai-nosso”, em razão da sua invocação inicial: “Pai nosso, que estás nos céus”. Nesta primeira cláusula, percebemos que a oração só pode existir sobre a base da nossa adoção como filhos de Deus, que nos permite invoca-lo como nosso Pai (1 Jo 3.1; Gl 4.6), e sobre a confiança na boa vontade e no amor especial que Ele tem para conosco. Toda resposta de Deus às nossas petições deriva-se exclusivamente da Sua bondade e misericórdia paternal (cf. Is 64.3-8). Ao mesmo tempo, pela expressão “que estás nos céus”, somos lembrados da Sua majestade, e da Sua sábia providência e poder soberano em tudo o que faz (Ec 5.1, 2; Sl 115.3). 

Observamos ainda nesta invocação, como nas petições que se seguem, que Jesus nos ensina a rejeitar todo sentimento egoísta e individualista, a que somos tendentes em nosso relacionamento com Deus, quando exprime toda a oração em termos de “nós” e “nosso”, e não “eu” ou “meu”. “Pai nosso” é como nos dirigimos a Deus, não apenas quando oramos reunidos em igreja, mas em nossas orações particulares, lembrando de nossos irmãos, que estão no mundo debaixo das mesmas circunstâncias aflitivas, padecendo as mesmas necessidades, e cuja existência, assim como a nossa, serve ao mesmo propósito glorioso no reino de Deus (cf. Tg 5.16; 1 Pe 5.9).

As três primeiras petições da Oração do Senhor são voltadas inteiramente para os interesses do reino dos céus – o que nos ensina, em primeiro lugar, que nossas petições particulares, ainda que legítimas, devem ser condicionadas à glória de Deus. Particularmente no exercício da oração, quando comparecemos diante do Pai, ansiosos por apresentar os nossos cuidados, precisamos reconhecer que o fim último de tudo o que possamos pedir e de tudo o que Ele queira nos dar é a Sua própria glória. A petição: “Santificado seja o teu nome” significa que o nosso assunto mais importante em oração deve ser o reconhecimento da Sua santidade e grandeza em todas as coisas. As petições seguintes, intimamente ligadas à primeira, ilustram os dois meios principais pelos quais o nome de Deus é santificado. Assim, “venha o teu reino”, refere-se ao anelo sincero do discípulo de Cristo pela justiça (cf. Mt 5.6), bem como pelo poder e graça do reino dos céus, tanto em sua vida como na do seu próximo. Isto se dá a nível pessoal na medida em que crescemos no conhecimento da verdade e na prática da justiça e piedade (Mt 6.33); a nível congregacional, quando há edificação e aperfeiçoamento espiritual dos santos (Rm 14.16-17); a nível mundial, quando o Evangelho é pregado em 18 testemunho a todas as nações (Mt 13.31-34; 24.14). Mas, finalmente, chegará o dia em que todas as limitações e impedimentos à justiça perfeita e plena do reino serão removidos, e o reino de Deus se manifestará plenamente com Cristo e os santos em glória (Mt 13.43; 1 Pe 3.13). 

Na terceira petição relacionada aos interesses de Deus: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus”, expressamos não apenas a nossa prontidão em nos submetermos humildemente aos desígnios e à vontade revelada de nosso Pai celestial, mas também o nosso desejo de que todas as Suas criaturas O obedeçam sem relutância, entregando as armas da Sua rebelião contra Deus e sujeitando-se ao Seu governo e autoridade, tal como ocorre nos céus, onde a vontade de Deus é recebida e cumprida prontamente (Sl 103.20). Na terra, a vontade de Deus é aceita e cumprida em harmonia com a expansão do reino dos céus, na medida em que os desobedientes e rebeldes são sujeitados por Cristo, pelo Evangelho, e assim feitos conforme a Sua vontade (2 Co 10.4-5). Mas isto também alcançará a sua plenitude no último dia, quando todos serão submetidos pela glória e poder da vinda de Cristo Jesus (Fp 2.10, 11; 2 Ts 1.8).

Uma vez considerados os interesses e a glória de Deus na oração, podemos passar às petições em favor de nossas legítimas necessidades, sejam espirituais ou materiais. E a primeira delas é: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje”. Não apenas o pão, como alimento, mas tudo o que diz respeito ao nosso sustento físico pode ser apresentado a Deus em oração, pois, em primeiro lugar, perdemos todo direito até às coisas mais simples necessárias ao sustento da nossa vida, em razão do pecado. Segundo, somente Deus pode supri-las novamente – dEle vem a ocasião, a sabedoria e a força para todos os empreendimentos pelos quais obtemos o nosso pão cotidiano (Dt 8.11-17). Terceiro, porque assim Ele nos ensina a não confiarmos em nós mesmos, mas a dependermos dEle e a sermos gratos pela nossa porção nesta terra, seja ela grande ou pequena (Fp 4.12). “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores”. O pecado é uma dívida contraída com Deus, que precisa ser saldada, quitada para que sejamos novamente aceitos por Ele, e, como uma provisão espiritual fundamental, isto também depende da Sua graça e misericórdia (Sl 32.1, 2). Porém, aqui Jesus não ensina apenas a necessidade de pedirmos perdão a Deus, mas também nos mostra como esse perdão nos é assegurado – na medida em que perdoamos aos que pecaram contra nós. O fato é que Deus primeiro nos perdoa, e por esta razão perdoamos àqueles que nos ofenderem (cf. Mt 18.23-35). Tão importante é tal atitude que Jesus é a única petição que recebe explicação adicional (vv. 14, 15). Em um momento anterior do Sermão (Mt 5.23-26), vimos que o ofensor só pode ser aceito por Deus se buscar a reconciliação e o perdão daqueles que foram prejudicados por ele. Agora, o Senhor Jesus revela o dever da parte ofendida: aceitar e perdoar o ofensor arrependido (Mt 18.21-22; Lc 17.3, 4). 

Chegamos agora à petição final, não menos importante: “Não nos induzas à tentação, mas livranos do mal”. Não é das tentações em si mesmas que o Senhor nos ensina a pedir livramento, pois Ele mesmo foi tentado, e sem pecado (Hb 4.15); mas sim do mal das tentações, ou seja, de sucumbir à tentação, ou cair em pecado. Se, por um lado, somos exortados a vigiar para evitarmos esse mal (Mt 26.41), por outro, temos uma forte segurança da parte do próprio Senhor, que orou para que fossemos livrados do mal (Jo 17.15), e a fidelidade de Deus em atender a esta oração (1 Co 10.13). Finalmente, as palavras com que Cristo encerra esta oração modelo nos mostram que não devem faltar às nossas súplicas dirigidas a Deus expressões de louvor, exaltação e glória ao Seu santo nome – em outras palavras, adoração. Mas esta doxologia (palavra de louvor) final também é apresentada como uma razão, ou argumento, pelas nossas petições a Deus, e nos fazem lembrar que, respondendo à nossa oração, Deus visa primeiramente à Sua própria glória, que sempre será o objeto supremo das Suas obras.


A oração é um dos maiores privilégios e um claro testemunho do nosso relacionamento com o nosso Criador, não apenas como Suas criaturas, mas como Seus filhos amados. Pela oração aprendemos a ter o reino de Deus como o alvo de nossa vida, submetendo nossos interesses ao Seu supremo propósito e a reconhecer a Sua grande misericórdia como a razão de termos nossas súplicas atendidas.

* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2017 

ASSEMBLÉIA DE DEUS 
MINISTERIO GUARATINGUETÁ-SP
“AS BEM-AVENTURANÇAS DO REINO”

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