quinta-feira, 5 de julho de 2018

A natureza do evangelho de Cristo.








A fim de tratar o problema das dissensões na igreja de Corinto, o apóstolo Paulo começou por lembra-los de que o evangelho pregado por ele falava da cruz de Cristo. E nisto não havia motivo para vanglória carnal, nem para o sentimento faccioso. Em confirmação ao seu argumento, o apóstolo considera, no presente texto, as características peculiares do evangelho de Cristo e do seu anúncio entre os homens.

Nestes versos Paulo descreve a simplicidade e aparente fraqueza do evangelho. Sua mensagem aos coríntios se resumia em “Jesus Cristo, e este crucificado” (v. 2). Nada de palavras agradáveis, nada de razões humanamente plausíveis e convincentes. Tudo o que o apóstolo tinha a dizer era que Deus enviou a Jesus Cristo para morrer na cruz pelos nossos pecados, e todo aquele que n’Ele crer será salvo da condenação. Acrescente-se a isto que a própria condição do apóstolo, enquanto esteve entre os coríntios, foi “em fraqueza, e em temor, e em grande tremor” (v. 3; At 18.9-10).

Contudo, Paulo tinha um propósito ao anunciar o evangelho na sua simplicidade e aparente fraqueza. Ele não queria que a palavra da cruz fosse confundida com qualquer forma de sabedoria humana, nem que os seus ouvintes fossem convencidos pelos encantos da inteligência filosófica ou da capacidade retórica, que tanto agradavam aos coríntios. Se fossem persuadidos pela “sabedoria humana” (v. 4), por uma mensagem apoiada em argumentos e razões “aceitáveis” e “embelezada” por linguagem refinada, a cruz de Cristo perderia sua razão de ser, tornando-se inútil, e a fé deles, vã (1.17,24).

Por outro lado, o apóstolo contava com um poderoso e suficiente argumento para o seu ministério; sua palavra e pregação consistiam em “demonstração de Espírito e de poder” (v. 4). Não apenas os milagres que acompanhavam o seu ministério – que certamente também não faltaram em Corinto – comprovavam a origem divina do Evangelho. Se os coríntios, contra toda a aversão gerada pelo “escândalo”, “loucura” e “fraqueza” da cruz (1.23, 25), haviam simplesmente crido, Paulo afirma que essa fé não estava apoiada em nada mais do que no “poder de Deus” (v. 5) – que era o que o apóstolo almejava. Só podia crer na cruz de Cristo aquele que fosse convencido da sua eficácia para salvar os homens dos seus pecados (1.18). E isto é obra de Deus, conforme ele ainda explicará.

Apesar de todas as aparências em contrário, o evangelho é uma perfeita expressão da verdadeira sabedoria – a sabedoria de Deus. É claro que somente os que creem, os “perfeitos” (v. 6), são capazes de perceber a maravilha e grandiosidade do que Deus realizou na cruz do Calvário. Nela foi desvendado o Seu eterno propósito, antes “oculto em mistério” (v. 7), de salvar os homens dos seus pecados através do sacrifício de Jesus, e assim prover tudo o que era necessário para nossa redenção, “para nossa glória”.

Mas permanece o fato de que esta sublime sabedoria nada tem a ver com aquilo que o mundo reputa como sabedoria. As realizações do gênio e talento humanos, mesmo entre os mais sábios e poderosos – os “príncipes deste mundo” – nada têm produzido além de orgulho, vanglória, guerras e destruição. Além disso, aquilo que os homens reputam como sabedoria jamais os levou ao conhecimento do Deus verdadeiro, antes os tem levado a negligenciarem o testemunho da criação e da consciência (cf. Rm 1.21-23). E, mesmo quando a sabedoria divina se manifestou na sua plenitude em Cristo Jesus, os líderes deste mundo unanimemente O rejeitaram, crucificando “o Senhor da glória” (v. 8). O próprio fato de que entre os crentes de Corinto não havia muitos grandes e importantes segundo o mundo já havia sido citado (1.26).

Paulo ainda afirma que tudo isto aconteceu em cumprimento ao propósito de Deus, “como está escrito” (v. 9). Para que ninguém se gloriasse contra Ele, apoiando-se em sua própria sabedoria, em seus próprios conhecimentos e capacidades, aprouve ao Senhor realizar a Sua grande obra de um modo completamente diferente daquilo que os homens poderiam esperar ou desejar. Ele escolheu um caminho em que as coisas seriam julgadas “loucas”, “fracas”, “vis”, “desprezíveis” e como que “não são” (1.27-29). A cruz e todo o benefício que Deus fez se originar a partir dela é aquilo “que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiu ao coração do homem”, e que Ele preparou para os Seus.

Chegamos então ao ponto em que Paulo explica como alguém chega ao conhecimento de que a cruz de Cristo é o poder de Deus para salvação. Embora estas coisas pertençam à sabedoria de Deus, à Sua mente e vontade insondáveis, “Deus no-las revelou pelo seu Espírito” (v. 10). Ou seja, esse conhecimento precisa ser revelado aos homens pelo Espírito de Deus. Assim como somente o homem conhece a si mesmo no mais íntimo e oculto do seu ser – em seus pensamentos, intenções e vontades; do mesmo modo somente o Espírito Santo conhece a mente e a vontade de Deus. Ora, se recebemos “o Espírito que provém de Deus” (v. 12), logo, é porque Ele quis nos comunicar os Seus pensamentos, intenções e vontades quanto “ao que nos é dado gratuitamente” (v. 13) na cruz.

A seguir, o apóstolo esclarece que as coisas da sabedoria divina foram reveladas aos crentes pelo Espírito Santo, mas que elas precisam ser comunicadas em uma linguagem correspondente, espiritual, sem adornos ou disfarces próprios da sabedoria humana. A palavra da cruz não pode ser entendida nem explicada melhor do que pelo evangelho, no qual as coisas espirituais são comparadas às espirituais (v. 13). Por esta razão ele exorta Timóteo, em outro lugar, a conservar o “modelo das sãs palavras” que dele havia ouvido, guardando o “bom depósito do Espírito Santo” (2 Tm 1.13-14).

Esta passagem se encerra com uma consideração sobre a diferença entre o homem espiritual (o crente) e o homem natural (o incrédulo). O homem espiritual discerne bem tudo – tanto as coisas naturais como as espirituais – porque tem o Espírito de Deus; ao passo que o natural não entende as coisas espirituais, nem discerne os que são espirituais. Quem pode instruir os espirituais? Os filósofos, os retóricos, os sábios segundo o mundo? Somente aqueles que têm a mente de Cristo – como o apóstolo e os demais ministros do evangelho: “Mas nós temos a mente de Cristo” (v. 16). Esta declaração levará ao assunto do capítulo seguinte, que estudaremos na próxima lição.

O evangelho, a palavra da cruz, é uma mensagem simples e poderosa, completamente eficaz para salvar a todos os que crerem. Não precisa dos artifícios da oratória e inteligência humanas para auxiliá-lo nesta obra. O poder de Deus se manifesta precisamente quando a sabedoria dos homens é posta de lado, e a cruz de Cristo recebe toda a centralidade na pregação, seja para confusão de alguns, levando-os à incredulidade; seja para conversão e fé de outros, levando-os a se gloriarem na sabedoria de Deus revelada em Cristo Jesus.






Texto cedido por: EBD –  3º. Trimestre de 2018



1ª CARTA AOS CORÍNTIOS


ASSEMBLÉIA DE DEUS 
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP

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