A
fim de tratar o problema das dissensões na igreja de Corinto, o apóstolo Paulo
começou por lembra-los de que o evangelho pregado por ele falava da cruz de
Cristo. E nisto não havia motivo para vanglória carnal, nem para o sentimento
faccioso. Em confirmação ao seu argumento, o apóstolo considera, no presente
texto, as características peculiares do evangelho de Cristo e do seu anúncio
entre os homens.
Nestes
versos Paulo descreve a simplicidade e aparente fraqueza do evangelho. Sua
mensagem aos coríntios se resumia em “Jesus Cristo, e este crucificado” (v. 2).
Nada de palavras agradáveis, nada de razões humanamente plausíveis e
convincentes. Tudo o que o apóstolo tinha a dizer era que Deus enviou a Jesus
Cristo para morrer na cruz pelos nossos pecados, e todo aquele que n’Ele crer
será salvo da condenação. Acrescente-se a isto que a própria condição do
apóstolo, enquanto esteve entre os coríntios, foi “em fraqueza, e em temor, e
em grande tremor” (v. 3; At 18.9-10).
Contudo,
Paulo tinha um propósito ao anunciar o evangelho na sua simplicidade e aparente
fraqueza. Ele não queria que a palavra da cruz fosse confundida com qualquer
forma de sabedoria humana, nem que os seus ouvintes fossem convencidos pelos
encantos da inteligência filosófica ou da capacidade retórica, que tanto
agradavam aos coríntios. Se fossem persuadidos pela “sabedoria humana” (v. 4),
por uma mensagem apoiada em argumentos e razões “aceitáveis” e “embelezada” por
linguagem refinada, a cruz de Cristo perderia sua razão de ser, tornando-se
inútil, e a fé deles, vã (1.17,24).
Por
outro lado, o apóstolo contava com um poderoso e suficiente argumento para o
seu ministério; sua palavra e pregação consistiam em “demonstração de Espírito
e de poder” (v. 4). Não apenas os milagres que acompanhavam o seu ministério –
que certamente também não faltaram em Corinto – comprovavam a origem divina do
Evangelho. Se os coríntios, contra toda a aversão gerada pelo “escândalo”, “loucura”
e “fraqueza” da cruz (1.23, 25), haviam simplesmente crido, Paulo afirma que
essa fé não estava apoiada em nada mais do que no “poder de Deus” (v. 5) – que
era o que o apóstolo almejava. Só podia crer na cruz de Cristo aquele que fosse
convencido da sua eficácia para salvar os homens dos seus pecados (1.18). E
isto é obra de Deus, conforme ele ainda explicará.
Apesar
de todas as aparências em contrário, o evangelho é uma perfeita expressão da
verdadeira sabedoria – a sabedoria de Deus. É claro que somente os que creem,
os “perfeitos” (v. 6), são capazes de perceber a maravilha e grandiosidade do
que Deus realizou na cruz do Calvário. Nela foi desvendado o Seu eterno
propósito, antes “oculto em mistério” (v. 7), de salvar os homens dos seus
pecados através do sacrifício de Jesus, e assim prover tudo o que era
necessário para nossa redenção, “para nossa glória”.
Mas
permanece o fato de que esta sublime sabedoria nada tem a ver com aquilo que o
mundo reputa como sabedoria. As realizações do gênio e talento humanos, mesmo
entre os mais sábios e poderosos – os “príncipes deste mundo” – nada têm
produzido além de orgulho, vanglória, guerras e destruição. Além disso, aquilo
que os homens reputam como sabedoria jamais os levou ao conhecimento do Deus
verdadeiro, antes os tem levado a negligenciarem o testemunho da criação e da
consciência (cf. Rm 1.21-23). E, mesmo quando a sabedoria divina se manifestou
na sua plenitude em Cristo Jesus, os líderes deste mundo unanimemente O
rejeitaram, crucificando “o Senhor da glória” (v. 8). O próprio fato de que
entre os crentes de Corinto não havia muitos grandes e importantes segundo o
mundo já havia sido citado (1.26).
Paulo
ainda afirma que tudo isto aconteceu em cumprimento ao propósito de Deus, “como
está escrito” (v. 9). Para que ninguém se gloriasse contra Ele, apoiando-se em
sua própria sabedoria, em seus próprios conhecimentos e capacidades, aprouve ao
Senhor realizar a Sua grande obra de um modo completamente diferente daquilo
que os homens poderiam esperar ou desejar. Ele escolheu um caminho em que as
coisas seriam julgadas “loucas”, “fracas”, “vis”, “desprezíveis” e como que “não
são” (1.27-29). A cruz e todo o benefício que Deus fez se originar a partir
dela é aquilo “que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiu ao coração
do homem”, e que Ele preparou para os Seus.
Chegamos
então ao ponto em que Paulo explica como alguém chega ao conhecimento de que a
cruz de Cristo é o poder de Deus para salvação. Embora estas coisas pertençam à
sabedoria de Deus, à Sua mente e vontade insondáveis, “Deus no-las revelou pelo
seu Espírito” (v. 10). Ou seja, esse conhecimento precisa ser revelado aos
homens pelo Espírito de Deus. Assim como somente o homem conhece a si mesmo no
mais íntimo e oculto do seu ser – em seus pensamentos, intenções e vontades; do
mesmo modo somente o Espírito Santo conhece a mente e a vontade de Deus. Ora,
se recebemos “o Espírito que provém de Deus” (v. 12), logo, é porque Ele quis
nos comunicar os Seus pensamentos, intenções e vontades quanto “ao que nos é
dado gratuitamente” (v. 13) na cruz.
A
seguir, o apóstolo esclarece que as coisas da sabedoria divina foram reveladas
aos crentes pelo Espírito Santo, mas que elas precisam ser comunicadas em uma
linguagem correspondente, espiritual, sem adornos ou disfarces próprios da
sabedoria humana. A palavra da cruz não pode ser entendida nem explicada melhor
do que pelo evangelho, no qual as coisas espirituais são comparadas às
espirituais (v. 13). Por esta razão ele exorta Timóteo, em outro lugar, a
conservar o “modelo das sãs palavras” que dele havia ouvido, guardando o “bom
depósito do Espírito Santo” (2 Tm 1.13-14).
Esta
passagem se encerra com uma consideração sobre a diferença entre o homem
espiritual (o crente) e o homem natural (o incrédulo). O homem espiritual
discerne bem tudo – tanto as coisas naturais como as espirituais – porque tem o
Espírito de Deus; ao passo que o natural não entende as coisas espirituais, nem
discerne os que são espirituais. Quem pode instruir os espirituais? Os
filósofos, os retóricos, os sábios segundo o mundo? Somente aqueles que têm a
mente de Cristo – como o apóstolo e os demais ministros do evangelho: “Mas nós
temos a mente de Cristo” (v. 16). Esta declaração levará ao assunto do capítulo
seguinte, que estudaremos na próxima lição.
O
evangelho, a palavra da cruz, é uma mensagem simples e poderosa, completamente
eficaz para salvar a todos os que crerem. Não precisa dos artifícios da oratória
e inteligência humanas para auxiliá-lo nesta obra. O poder de Deus se manifesta
precisamente quando a sabedoria dos homens é posta de lado, e a cruz de Cristo
recebe toda a centralidade na pregação, seja para confusão de alguns,
levando-os à incredulidade; seja para conversão e fé de outros, levando-os a se
gloriarem na sabedoria de Deus revelada em Cristo Jesus.
Texto cedido por: EBD – 3º. Trimestre de 2018
1ª CARTA AOS CORÍNTIOS
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP
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