No
capítulo a ser estudado nesta lição, consideraremos outro pecado dos coríntios
com que Paulo teve de lidar: a vida imoral de um de seus membros, e a
indiferença dos demais que não percebiam a gravidade da situação. Para mostrar
o grande mal que a igreja poderia sofrer com esse pecado, o apóstolo vai tratar
o problema usando a mais severa forma de disciplina que a sua autoridade lhe
permitia.
De
acordo com o que havia chegado ao conhecimento de Paulo, na igreja em Corinto
havia um caso notório de imoralidade, ou fornicação que, mesmo no ambiente
depravado daquela cidade, seria censurado pelos gentios. Tratava-se de um
escandaloso incesto. E o pior era que os coríntios, embora se vangloriassem na
sua sabedoria e auto suficiência espiritual, não eram capazes de perceber a
gravidade do caso, tampouco de se entristecer e expulsar esse iníquo da
comunhão da igreja.
Mas
Paulo toma a frente da situação, – tal como convinha à sua autoridade apostólica
– e fizesse aquilo que a igreja deveria ter feito: aplicar a disciplina da
excomunhão, afastando o pecador da comunhão com os fiéis. Observemos, em
primeiro lugar, que se trata de uma determinação do apóstolo, envolvendo um
castigo físico: “seja entregue a Satanás para destruição da carne”. Outros
exemplos desse tipo extremo de disciplina foram aplicados pelo mesmo Paulo,
como no caso de Himeneu e Alexandre, e de Alexandre, o latoeiro. Ao mesmo
tempo, Paulo invoca a concordância da igreja na aplicação dessa repreensão,
pois envolvia a excomunhão de alguém que eles consideravam irmão. A igreja
precisava estar consciente da gravidade do pecado e da justiça da disciplina,
para que assim a decisão apostólica expressasse um acordo entre os fiéis que
tivesse respaldo no céu. (1 Tm 1.20; 2
Tm 4.14; Mt 18.15-18)
Mas,
independentemente da natureza da repreensão, o apóstolo Paulo tem em vista dois
objetivos, que ainda devem ser considerados na aplicação da disciplina cristã:
primeiro, a salvação da alma: “para que o espírito seja salvo no dia do Senhor
Jesus”. Por mais severa que fosse a repreensão, devido à gravidade e escândalo
do pecado, tal alma ainda poderia ser salva, arrependendo-se do seu pecado e
voltando-se verdadeiramente para Cristo, em algum momento de sua vida.
O
segundo objetivo de Paulo ao aplicar a disciplina ao que havia pecado é
explicado nos versos em destaque: o mau exemplo de um certamente corromperia os
demais. Ele usa de uma comparação, onde o pecado de um só é como fermento que
contamina toda a massa dos fiéis, pois no corpo da igreja uns aos outros se
influenciam, seja para bem, ou, neste caso, para mal. E, seguindo a mesma
ilustração, ele exorta os coríntios à pureza, através da remoção daquilo que os
contaminava.
A
ordem é: “Alimpai-vos do fermento velho”. Isto se refere tanto ao pecador, ao “iníquo”,
como também ao pecado que ronda a vida, o coração de cada crente,
particularmente a “maldade e a malícia”, contra as quais devemos estar sempre
vigilantes, mortificando essas paixões e cultivando a “sinceridade e verdade”.
Nesse proceder de santificação, nos mantemos puros como pães ázimos – como uma
massa sem fermento.
Neste
ponto, o apóstolo traz para dentro da comparação a simbologia da festa da
Páscoa e dos Ázimos, onde ele indica a razão pela qual devemos cultivar a
pureza tal como a remoção de todo o fermento da massa. Assim como após a tarde
da Páscoa, em que o cordeiro era imolado, seguiam-se sete dias de festa em que
os israelitas deviam comer pães ázimos; do mesmo modo Cristo, o cordeiro de
Deus, morreu por nós, para nos remir e nos salvar dos nossos pecados. Temos
motivo, portanto, para festejar nossa salvação, não mais vivendo no pecado, mas
numa vida de santificação, justiça e verdade, nos moldes da Palavra de Deus,
que é o instrumento de Deus para a nossa santificação.
Paulo
orienta agora como deviam proceder os coríntios, a partir da exortação feita
nos versos anteriores. Se a presença de um iníquo entre os fiéis põe em risco a
pureza de toda a igreja, logo, o tal deve ser evitado: “não vos associeis”, ou
seja, não tenham qualquer relacionamento que teriam com um irmão em Cristo, nem
qualquer contato que faça parecer indiferença ou aprovação de suas práticas
pecaminosas. “Com o tal nem ainda comais”. Mesmo João, com toda a sua terna
expressão sobre o amor de Deus, não é menos rigoroso nesta questão: “Não o
recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas
suas más obras”. Somente com esta atitude radical a igreja pode evitar o
contágio do pecado e a corrupção dos bons costumes. (2 Jo 1. 10-11)
Consideremos
também que a separação não é apenas necessária em casos extremos como este – em
que alguém, dizendo-se irmão, trazia grande escândalo e vergonha à igreja com
sua prática imoral. Mas mesmo quando se deve aplicar a disciplina a pecados
menos escandalosos, a separação é importante para levar os crentes sob correção
ao arrependimento e à valorização da comunhão da igreja. Lembremos que estar
fora da comunhão é ser “entregue a Satanás” – o mundo é o domínio do diabo,
onde Deus não aplica sua boa e paternal disciplina, mas permite que os homens
sejam entregues à “destruição da carne”, e colham as mazelas das suas paixões
pecaminosas. (2 Ts 3.14-15)
O
apóstolo ainda considera que a separação cristã não equivale a cortar todo tipo
de relacionamento com aqueles que não sejam fiéis. Seria impossível viver no
mundo onde, desde os nossos familiares até todas as esferas da vida social
comum (vizinhança, escola, comércio, trabalho, etc.), temos de lidar com
pessoas que não confessam a fé em Cristo. O que nos aproxima dessas pessoas são
os dias comuns e a vida natural nesses aspectos seculares ou mundanos. Mas o
problema está em comungar com a suposta fé de alguém cuja conduta depõe contra
essa fé.
Aqueles
dentre nós que sejam surpreendidos em pecado devem ser repreendidos, e não
tratados com indiferença, como se o pecado fosse compatível com sua confissão.
O cristão não pode participar de tamanha hipocrisia. A disciplina precisa ser
aplicada, quando necessária. Mas não nos esqueçamos de que o propósito de toda
a correção é salvar, e não destruir, e que mesmo a separação do pecador visa um
dia trazê-lo de volta à comunhão, em condições de contribuir para a
santificação da igreja e para a glória de Deus.
Texto cedido por: EBD – 3º. Trimestre de 2018
1ª CARTA AOS CORÍNTIOS
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP
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