Aproximamo-nos
do final da primeira carta de Paulo aos coríntios. Depois de tratar de vários
assuntos de ordem moral e prática que afetavam e comprometiam a fé desses
irmãos, o apóstolo traz à tona a questão doutrinária da ressurreição dos
mortos. A importância dessa doutrina é tão grande e fundamental para a fé
cristã, pois além do conhecimento necessário, traz a esperança e consolação
para prosseguirmos na carreira cristã, firmes e constantes, certos de que todo
esforço não será vão, haverá uma grande recompensa.
Paulo
havia pregado aos coríntios o mesmo evangelho que pregava em toda a parte, e
que antes dele os primeiros apóstolos também pregavam: “Primeiramente vos
entreguei o que também recebi” (vv. 2,3). Por isso ele começa confirmando, ou
enfatizando este evangelho, nas suas verdades fundamentais, dentre as quais a
da ressurreição do Senhor Jesus. O evangelho era poderoso para salvar os
crentes coríntios, desde que o retivessem tal como haviam recebido; do
contrário, a fé em um evangelho sem a ressurreição se mostraria inútil e
ineficaz.
Que
Cristo ressuscitou dos mortos é um fato não apenas predito pelos profetas nas
Escrituras, mas cumpriu-se de tal modo que completa e dá sentido a todos os
eventos anteriores: “Cristo morreu por nossos pecados... e foi sepultado, e
ressuscitou ao terceiro dia” (vv. 3-4). Além disso, a ressurreição de Cristo
foi confirmada pelo relato de muitas testemunhas oculares, que tanto O viram
morrer como também, quando Ele se lhes apresentou vivo, ressuscitado. Dentre
estes, não apenas aqueles que desde o princípio do Seu ministério o seguiram,
mas também muitos discípulos que não são citados por nome nos evangelhos, que
inclusive podiam ser consultados no tempo em que Paulo escrevia esta carta.
Por
último, embora se considerasse indigno, em si mesmo, de ser chamado apóstolo,
ele apresenta o seu próprio testemunho da ressurreição na visão de Cristo (At 9),
no caminho de Damasco (v. 10). Portanto, esse era um tema conhecido por todos
os cristãos, e o que Paulo havia pregado aos coríntios a esse respeito não era
diferente do que pregavam os demais apóstolos. “Então, seja eu ou sejam eles,
assim pregamos e assim haveis crido” (v. 11).
A
partir do fato da ressurreição de Cristo, o apóstolo argumenta pela
ressurreição dos mortos. Já notamos que, dentre as más influências da cidade
sobre a igreja de Corinto, estava a da filosofia grega, que negava a
possibilidade de ressurreição (cf. At 17.30-32). Esses irmãos, parece, não
negavam a ressurreição do próprio Senhor Jesus, pois haviam aprendido isto
muito bem com o apóstolo. Contudo, para conscientizá-los, o apóstolo considera
e chega à seguinte conclusão: “Se não há ressurreição de mortos, também Cristo
não ressuscitou” (v. 13). E as consequências dessa hipótese seriam ainda
piores: “É vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (v. 14), “somos
também considerados como falsas testemunhas de Deus” (v. 15), “ainda
permaneceis nos vossos pecados” (v. 17) e “também os que dormiram em Cristo
estão perdidos” (v. 18). E tudo isto faria do evangelho uma mensagem inútil, e
a fé cristã seria uma religião completamente despropositada, tornando a vida
dos homens ainda mais dura e miserável do que já é: “Se esperamos em Cristo só
nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (v. 19).
Mas,
ao invés de partir de uma opinião equivocada, o apóstolo parte do fato inegável
da ressurreição de Cristo para chegar à seguinte conclusão: “Cristo ressuscitou
dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem” (v. 20), ou seja,
Ele ressuscitou como o primeiro de uma multidão de fiéis que, depois de mortos,
também hão de ressuscitar. Paulo explica ainda que a ressurreição dos mortos a
partir da ressurreição de Cristo corresponde, analogamente, à morte de todos os
homens a partir da queda ou do pecado do primeiro homem, Adão: “Porque, assim
como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (v.
22). Mas, se a ressurreição de Cristo é um fato indiscutível e confirmado, a
ressurreição dos mortos é uma realidade a se esperar para o futuro: “Mas cada
um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua
vinda” (v. 23). Isto faz da ressurreição o desfecho de toda a obra de Deus para
salvar os homens (v. 26).
Voltando-se
novamente para os que negavam a ressurreição dos mortos, mesmo tendo já
apresentado uma argumentação doutrinária tão precisa e esclarecedora, Paulo faz
menção a alguns fatos da própria experiência cristã que seriam completamente
desarrazoados, se não houvesse esperança de ressurreição. Era por causa da
ressurreição, por exemplo, que Paulo dispunha de sua própria paz e segurança
neste mundo, inclusive da própria vida, aceitando sofrer perseguições e correr
o risco de morte pelo nome de Jesus. Se não houvesse ressurreição, o que mais
deveríamos temer seria a morte, pois com ela tudo se acabaria, inclusive nosso
relacionamento com Cristo; e deveríamos nos esforçar para aproveitar ao máximo
cada momento da vida, “porque amanhã morreremos” (v. 32). Por isso o apóstolo
alerta os coríntios que não dessem ouvidos aos que propagavam suas próprias
opiniões com respeito à ressurreição: “Não vos enganeis: as más conversações
corrompem os bons costumes” (v. 33).
Paulo
propõe agora uma objeção que poderia ser levantada contra a ressurreição dos mortos,
com o propósito de esclarecer à igreja de Corinto a natureza dessa obra
sobrenatural: “Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão?” (v. 35).
Talvez iludidos pela falsa ciência e razão dos filósofos, não admitindo ser
possível que o corpo natural pudesse tornar-se espiritual e imortal, esses
questionadores não percebiam, como demonstra o apóstolo, que a própria natureza
apresentava paralelos com a ressurreição: o grão semeado que não aparenta a
planta em que há de se tornar (vv. 36-38); os animais e minerais, que possuem
corpos diferentes uns dos outros (vv. 39-41). Se Deus fez assim com a criação
natural, por que não poderia fazê-lo com a criação espiritual, dando aos
crentes ressurretos o corpo apropriado para a glória celestial?
A
seguir, ele explica que o corpo natural, presente, à semelhança da semente, é “semeado”
na morte, difere do corpo espiritual, futuro, no qual seremos ressuscitados. O
primeiro caracteriza-se pela corrupção que, desde a queda, com a entrada do
pecado no mundo, apoderou-se de toda a criação: “corrupção”, “ignomínia”, “fraqueza”,
são as palavras que usa para descrevê-lo. O segundo contrasta com o primeiro,
pois é “incorrupção”, “glória” e “vigor” (vv. 42-44). Em outra comparação, o
primeiro corresponde ao homem caído, Adão, e limita-se a esta existência e
natureza, sendo propriamente chamado de “natural”, ou “animal”; o segundo
corresponde ao último Adão, o homem celestial, Cristo Jesus, e é apto para a
vida eterna, para entrar no céu – por isso também chamado de corpo “espiritual”
(vv. 45-49).
Paulo
conclui dizendo que a ressurreição é tão necessária para a transformação dos
nossos corpos, que mesmo aqueles que estiverem vivos por ocasião da vinda do
Senhor haverão de ser transformados pelo mesmo poder glorioso que ressuscitará
os que estiverem dormindo em Cristo: “carne e sangue não podem herdar o Reino
de Deus” e “Nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados” (v. 50,51).
E, mediante a grande consolação que esta esperança traz a todo cristão, ele
termina exortando os coríntios à perseverança (v. 58).
Confessemos
e também retenhamos uma firme esperança na ressurreição dos mortos, pois é aí
que veremos todos os nossos esforços e combates travados nesta vida serem
recompensados e todas as nossas fraquezas e limitações trocadas por poder e
vida abundante.
Texto cedido por: EBD – 3º. Trimestre de 2018
1ª CARTA AOS CORÍNTIOS
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP
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