A
partir do capítulo que ora estudamos, o apóstolo Paulo trata de alguns
problemas que estavam ocorrendo entre os coríntios relacionados com o culto a
Deus. Como parte indispensável da vida cristã em comunidade, a adoração pública
segue princípios que, se desprezados, acaba se degenerando em desordem e
indecência, e assim atraindo o juízo de Deus sobre os contenciosos e
profanadores.
No
primeiro verso deste capítulo, o apóstolo recomenda aos coríntios o seu próprio
exemplo, em conclusão ao assunto tratado anteriormente, sobre o uso da
liberdade cristã. Mas, no assunto que se segue, ao seu próprio exemplo ele
acrescenta o peso daquilo que já estava estabelecido entre as igrejas de Deus
(cf. v. 16), e que ele simplesmente havia transmitido aos coríntios tal como
havia recebido, como uma boa tradição. Durante as reuniões da igreja, era
correto que os homens estejam de cabeças descobertas e as mulheres,
diferentemente, de cabeças cobertas, e esta atitude envolvia muito mais do que
simplesmente um aspecto exterior de menor importância, ou uma inovação no
vestuário.
Condenando
categoricamente como indecente para o homem participar do culto com a cabeça
coberta, ele acrescenta que é igualmente indecente a mulher participar da
assembleia solene da igreja sem véu. O seu argumento se baseia em uma
hierarquia: “Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e
Deus a cabeça de Cristo” (v. 3), onde um deve receber honra e submissão do
outro – Deus, de Cristo; Cristo, do homem; e o homem, da mulher. Cada um, a seu
modo, de acordo com as suas atribuições. Aqui ele não está tratando do
relacionamento espiritual que tanto o homem como a mulher têm com Deus em
Cristo Jesus, onde todos são iguais (Gl 3.26-28). Ele fala de uma ordem
estabelecida na criação e que diz respeito a esta vida, como prova a seguir:
“Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. Porque também o
homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem” (vv.
8-9).
O
véu entra aqui como um sinal de submissão da mulher à autoridade do marido, e
por isso não convinha que fosse abandonado – como também qualquer outro uso que
contribua para a decência, o pudor, a modéstia e a manutenção da hierarquia
natural deve ser louvado e incentivado. Eis a razão de outro conselho do
apóstolo: “Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor
e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos” (1
Tm 2.9). Particularmente em Corinto, onde os bons costumes sofriam com a
degeneração moral do povo e, como o apóstolo já havia ensinado, a igreja devia
se portar com correção e submissão e não ser contenciosa.
A
próxima consideração do apóstolo é sobre os abusos que estavam acontecendo
durante a celebração da ceia do Senhor – que, naquele tempo, era propriamente
uma refeição, um banquete onde os cristãos expressavam sua comunhão uns com os
outros e com o próprio Senhor. Porém, entre os coríntios essa ocasião estava
servindo apenas para divisões e contendas: “Porque antes de tudo ouço que,
quando vos ajuntais na igreja, há entre vós dissensões; e em parte o creio” (v.
18). Ele já havia tratado das dissensões que havia em razão do espírito
faccioso e de vanglória dos coríntios. Mas agora trata de um tipo de divisão
que envolvia uma perversão daquela ocasião que devia servir à expressão máxima
da comunhão e união dos cristãos.
Quando
se reuniam para cear, esses irmãos eram induzidos pelos mesmos sentimentos que
dominavam os gentios em seus banquetes e, sem nenhuma consideração pelo
próximo, entregavam-se à glutonaria e embriaguez, como se estivessem em uma
festa qualquer ou comum: “e assim um tem fome, e outro embriaga-se” (v. 21).
Tal atitude era tão contrária e indigna ao propósito da ceia, que o apóstolo diz:
“quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor” (v. 20). E
ele ainda os acusa de desprezarem a igreja de Deus e envergonhar os irmãos mais
pobres (v. 22). Em outras palavras, a ceia do Senhor era profanada por um
comportamento tão mesquinho e carnal.
Para
corrigir o erro grosseiro dos coríntios, o apóstolo os lembra da ocasião em que
a ceia foi instituída e em que foi definido o seu propósito. A partir do que o
próprio Senhor Jesus havia feito naquela noite em que foi traído, e a partir
das Suas próprias palavras, Paulo assinala o propósito dessa simples, mas santa
refeição: “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice
anunciais a morte do Senhor, até que venha” (v. 26). A ceia é, antes de tudo,
um memorial da morte de Cristo pelos nossos pecados. Quando participamos da
ceia, estamos lembrando do que o Senhor fez para nos salvar do pecado e nos dar
a vida eterna – em outras palavras, confessamos que foi por nós que Ele morreu.
E tal confissão deve ser feita com a maior gravidade, humildade e gratidão a
Deus.
Mas,
por outro lado, o comportamento dos coríntios era indigno da ceia do Senhor –
comiam indignamente porque não tinham plena consciência das implicações em
comer do pão e beber do cálice, do que significava todo esse ato, e assim não
discerniam o corpo do Senhor (v. 29). Qualquer atitude incompatível com uma
consciência cristã quebrantada, arrependida dos seus pecados e profundamente
grata ao Senhor pela sua salvação pode ser caracterizada como uma participação
indigna na ceia do Senhor. Por isso o apóstolo orienta cada um a examinar-se a
si mesmo (v. 28), ou seja, a fazer o exame de consciência, para que possa comer
e beber sabendo o que está fazendo e disposto a assumir todas as consequências
de confessar que Cristo por ele morreu.
Por
sua vez, tratar as coisas de Deus de forma indigna, profanamente, com
indiferença ou desprezo, também tem as suas consequências. Paulo não poderia
ser mais grave: “o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria
condenação” (v. 29; cf. Hb 10.29). E, no caso dos coríntios, havia
enfraquecimento, dormência espiritual e enfermidades, como forma de punição
pelos seus pecados na mesa do Senhor: “há entre vós muitos fracos e doentes, e
muitos que dormem” (v. 30). Sobre isto já fizemos uma breve consideração no
estudo do capítulo 5. Contudo, Paulo explica que isto ainda era uma forma
misericordiosa de o Senhor tratar o Seu povo, para que, por meio da repreensão,
eles considerassem os seus pecados, se arrependessem, e se salvassem: “Mas,
quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos
condenados com o mundo” (v. 32). E assim ele encerra exortando-os a adotarem a
atitude digna e decorosa que convém à ceia do Senhor (vv. 33-34).
O
culto a Deus é um grandioso momento de expressão da comunhão entre o crente e o
seu Criador. Deus deve ser engrandecido em cada ato, em cada palavra, e isto só
pode acontecer quando tudo é feito com reverência, santidade e temor, em
conformidade com a vontade e o propósito daqu’Ele que deve ser cultuado. Não
desprezemos as coisas de Deus, nem adotemos nenhum padrão ou conduta humana que
possa de algum modo diminuir a solenidade e decência que convêm à adoração
pública.
Texto cedido por: EBD – 3º. Trimestre de 2018
1ª CARTA AOS CORÍNTIOS
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP
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