Após
repreender os coríntios pelo seu desregramento moral, e por sua indiferença em
relação ao pecado da fornicação, o apóstolo passa a apresentar o conselho de
Deus para uma vida conjugal santificada, de acordo com a Sua vontade. Por vida
conjugal, nos referimos tanto à relação entre marido e mulher, como também ao
modo de viver que convém aos não casados, quer solteiros ou viúvos.
No
assunto que apresenta neste capítulo, o apóstolo afirma estar respondendo a
questões que os próprios coríntios haviam lhe proposto. Parece que tinham
dúvidas sobre qual seria o melhor estado para o homem servir a Deus, ou se
havia alguma orientação do Senhor sobre se deveriam se casar ou permanecer
solteiros. À luz da própria circunstância caótica da depravação moral do seu
tempo (que não era muito diferente dos nossos dias), Paulo propõe o casamento
como o remédio para a fornicação, a incontinência ou o “abrasar-se” (vv. 2, 9).
Contudo,
mesmo os irmãos coríntios, para os quais o casamento era a saída inevitável
para se livrarem dos muitos problemas que tinham com a imoralidade, deviam
saber que não eram obrigados a se casar. Esta não era uma condição
indispensável para servir ao Senhor, mas antes uma permissão (v. 6). É
perfeitamente possível agradar a Deus estando sozinho, e o apóstolo diz que é
bom estar assim, até mesmo recomendando aos solteiros e viúvos que permaneçam
assim (vv. 1, 7, 8). Mas aqui ele também pondera o fato de que o ser solteiro,
ou casado, é um dom de Deus, e cada um o recebe de uma maneira. Sobre isto ele
ainda tratará mais adiante.
Uma
vez que a solução para a imoralidade é o casamento, Paulo chama a atenção,
tanto do marido como da mulher, para os princípios a serem observados no seu relacionamento
conjugal, a fim de que esse remédio divino seja eficaz para promover a
santificação de ambos. Um deve prestar ao outro a devida “benevolência” do
relacionamento íntimo, uma vez que, pelo casamento, ambos formaram um só corpo,
de modo a pertencer um ao outro (v. 4). E privar-se do relacionamento conjugal
seria expor-se às tentações do diabo (v. 5).
Em
contraste com a permissão e recomendação apostólica dos versos anteriores,
Paulo apresenta agora aquilo que o próprio Senhor havia determinado quanto ao
casamento: “que a mulher não se aparte do marido” (v. 10). À luz do que
encontramos em outras passagens das Escrituras (cf. Ml 2.16; Mt 19.4- 6), o
divórcio é um ato inadmissível por parte do crente, a menos que o cônjuge,
incrédulo ou infiel à vontade do Senhor, se aparte. Neste caso, o fiel não está
livre para se casar novamente, mas deve ou buscar a reconciliação, ou
permanecer só (v. 11). Paulo, contudo, recomenda aos irmãos considerem que,
quando o cônjuge incrédulo permanece, o fiel beneficia o infiel pela
santificação de seu relacionamento, e mesmo os filhos são alcançados pela
influência da graça de Deus na vida do cristão (v. 14).
Mas,
considerando também que haverá casos em que o incrédulo não desejará permanecer
unido ao crente, o apóstolo recomenda ao fiel que se resigne à vontade divina,
pois a salvação pertence à eleição e soberania de Deus (v. 16). Por outro lado,
isto também manifesta o chamado de Deus para o estado em que o crente deve
andar: se deve permanecer só, que considere isto um chamado para a paz (v. 15).
Aproveitando
o caso daqueles que são abandonados por seus cônjuges, Paulo introduz a questão
do chamado de Deus de uma forma mais ampla e geral. Ninguém é obrigado a deixar
sua condição ou estado em que está quando é alcançado pelo evangelho, podendo
permanecer solteiro, servo, incircunciso, e servir perfeitamente ao Senhor
assim. Se é possível ao servo se ver livre da sua servidão, que aproveite a
ocasião (v. 21). Mas o importante é não se colocar sob um jugo para o qual Deus
não o chamou (v. 23).
Paulo
passa a orientar aqueles que, como ele, viviam sozinhos e, à luz do seu próprio
exemplo, e na condição de um apóstolo de Cristo, sábio e cheio do Espírito
Santo (vv. 25, 40), apresenta alguns conselhos. Por “virgens”, ele se refere
tanto a mulheres como homens solteiros que mantêm a pureza de uma vida casta, e
que vencem a incontinência, o “abrasar-se” e, naturalmente, a fornicação.
Quanto aos que não podiam vencer a imoralidade, ele já havia recomendado que se
casassem. Àqueles, porém, o apóstolo recomenda que permaneçam no seu chamado,
ficando solteiros (cf. Mt 19.12). Caso insistissem em se casar, não pecariam,
mas, uma vez que não sofriam com as tentações da incontinência, ele considera
que estes não tinham necessidade de se casar. O casamento apenas traria
tribulações na carne (v. 28).
O
que o apóstolo tem em vista ao fazer estas recomendações é a circunstância do
tempo em que nos encontramos. O tempo se abrevia (v. 29), e convém que nos
apliquemos em servir ao Senhor sem impedimentos, embaraços ou coisas que
desviem nossa atenção do reino de Deus (v. 35). Tanto o solteiro como o casado
podem e devem servir a Deus de tal forma, mas o solteiro, naturalmente, por não
estar comprometido a mulher e filhos pelos laços do matrimônio, tem melhores
condições de aplicar-se sem reservas ao Senhor (vv. 32-34).
Finalizando
suas orientações neste assunto, Paulo alivia as consciências daqueles que, de
alguma forma, ou por algum motivo, considerassem necessário casar-se (v. 36), e
louvando a atitude do que, tendo domínio sobre sua vontade, e não havendo
qualquer necessidade de casar-se, resolveu permanecer sozinho (v. 37). Não se
esquecendo das viúvas, ele aplica os mesmos princípios, lembrando, em primeiro
lugar, que a lei do casamento mantém os cônjuges unidos até a morte (v. 39); e
depois, que a condição da viúva é como da virgem, ficando livre para se casar,
“contanto que seja no Senhor”.
Ser
solteiro ou casado não faz o cristão melhor para Deus. Tanto de um como de
outro o Senhor requer a santificação em todos os seus relacionamentos, na
condição em que foi chamado. Se absolutamente necessário casar, que o crente
considere isto como um meio de glorificar a Deus. Se não é necessário casar,
que o solteiro aproveite o seu chamado para glorificar ainda mais a Deus,
servindo-O sem impedimentos.
Texto cedido por: EBD – 3º. Trimestre de 2018
1ª CARTA AOS CORÍNTIOS
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP
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