Na
lição anterior, vimos o perigo da apostasia e suas consequências. Nesta aula,
estudaremos a base da vida cristã: a fé. A partir dos relatos da história
antiga, veremos a eficiência da fé, a começar com o ato da criação do universo,
que deve ser entendido com o olhar da fé: “Pela fé entendemos que os mundos,
pela palavra de Deus, foram criados” (Sl 33.6; 2 Pe 3.5). A fé se baseia na
confiança em Deus e em Sua Palavra. Esta palavra consiste num poder invisível
que produziu do invisível o universo, de maneira que o visível veio a existir
das coisas que não aparecem. Na extensa lista dos crentes fiéis descrita em
Hebreus 11, o autor enfatiza particularmente três características na vida dos
homens e mulheres de fé: sua confiança inabalável em Deus, sua visão do
invisível e seu poder para avançar pela fé.
Neste
capítulo, o escritor não pretendeu simplesmente definir a fé, mas sim
descrevê-la como elemento fundamental da vida cristã. Segundo as Escrituras, a
fé é a condição básica para ser salvo e receber de Deus auxílio em todos os
aspectos (Ef 2.8). Ela é a base, o “firme fundamento das coisas que se
esperam”, e a convicção — “prova das coisas que não se veem”. O fundamento
significa muito mais que a mera certeza humana, fruto da lógica, ou do
exercício da futurologia. Na visão cristã, tem o sentido de certeza inabalável,
ou seja, temos convicção de que servimos a um Deus Todo-Poderoso, que vela por
sua Palavra para cumpri-la (cf. Jr 1.12; Is 43.13). Significa também certeza
absoluta a respeito da nossa salvação.
O
segundo elemento essencial da fé é a “esperança”. Esta é consubstanciada na
forte convicção de que aquilo que se espera da parte de Deus há de acontecer
sempre, independente das circunstâncias. Abraão creu que teria um filho segundo
a promessa divina, fruto de sua união com Sara, mesmo quando a lógica humana
dizia o contrário (Rm 4.18,19; 8.24,25).
O
terceiro elemento é a “convicção”; não se trata de uma prática mística de
visualização mental para obtenção do que se deseja, conforme defendem certas
ramificações da Confissão Positiva, pois as Escrituras Sagradas não ensinam
assim. Neste contexto, “as coisas que não se veem” são as coisas de Deus (2 Co
4.18), “os bens futuros” (Hb 9.11), “as melhores promessas” (Hb 8.6). Isso
porque tais “coisas” foram prometidas por Deus em Sua Palavra, e esta não pode
falhar em nenhuma hipótese. Há muitos “crentes” que, iludidos pelo seu próprio
coração, asseveram que podem aplicar esse texto a qualquer coisa. Por exemplo:
“eu creio que Deus vai me dar um carro novo ou uma bela casa”. Ora, isso é um
desejo, mas não uma promessa de Deus. Pode tornar-se real ou não. É algo
condicional e circunstancial.
A
partir do verso 4, o autor lembra os leitores de exemplos de valorosos servos de
Deus que, pela fé, “alcançaram testemunho de Deus”. A começar pelo exemplo de
Abel que apresentava uma fé sacrificial. Em Gênesis 4.4, Deus aceitou seu
sacrifício e não o de seu irmão, o homicida Caim. Mas em Hebreus 11.4 podese
constatar que: “Pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim,
pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus
dons, e, por ela, depois de morto, ainda fala”. Enquanto a oferta de Abel foi
movida pela fé em Deus e incluía derramamento de sangue (Hb 9. 22; Jd 11; Rm
14.23), Caim trilhou seu “caminho” sem fé; ele tinha uma índole má, era
iracundo e “suas obras eram más” (1 Jo 3.12; Tt 1.15), por essas razões suas
ofertas não foram aceitas pelo Senhor.
O
autor não se esquece de Enoque (v. 5); em poucos versos, a Bíblia mostra a
grandeza de seu caráter e de sua fé: “E andou Enoque com Deus; e não se viu
mais, porquanto Deus para si o tomou” (Gn 5.24). Se ele “andou com Deus”, ou
seja, viveu em íntima comunhão com o Eterno e no centro da sua vontade, diante
da extrema incredulidade de seu tempo, foi porque tinha uma fé viva, e anunciou
o juízo eterno em sua geração (Jd 14, 15). Por isso, ainda na terra, antes da
sua trasladação, “alcançou testemunho de que agradara a Deus”. Segue o exemplo
de fé obediente e justa de Noé (v. 7). Nunca ouvira falar de dilúvio, todavia,
“divinamente avisado das coisas que não se viam, temeu” e obedeceu, preparando
uma arca “para salvação da sua família”. Noé foi o primeiro homem na Bíblia a
ser chamado justo. Isso nos traz uma lição de extremo valor: o homem de fé
precisa ser justo diante de Deus e dos homens.
Na
sequência, tem-se o exemplo de Abraão, que é considerado o pai da fé provada.
Quando foi chamado por Deus, “obedeceu, e saiu, sem saber para onde iria” (v.
8). Por anos habitou em tendas, peregrinando “como em terra alheia” (v. 9),
esperando a cidade que tem fundamento, e recebeu a promessa de que seria “uma
grande nação” (Gn 12.2). O Todo-Poderoso mandou que ele olhasse para os céus e
contasse as estrelas, se pudesse, dizendo que assim seria sua semente: “e creu
ele no Senhor e foi-lhe imputado isto por justiça” (Gn 15.6; Rm 4.11). Mais
tarde, Deus pediu-lhe em sacrifício seu único filho, Isaque. Sem relutar, o
grande patriarca obedeceu piamente à voz do Altíssimo, crendo “que Deus era
poderoso para até dos mortos o ressuscitar” (v. 18; cf. Gn 22.12). Tiago afirma
que Abraão creu em Deus e foi-lhe isso imputado como justiça, e por isso, foi
chamado amigo de Deus (Tg 2.23).
Após
destacar o exemplo de homens e mulheres que alcançaram testemunho pela fé, o
escritor declara que todos eles morreram na fé, “sem terem recebido as
promessas, mas, vendo-as de longe...” (v. 13). Assim como Paulo, eles
combateram o bom combate, acabaram a carreira e guardaram a fé (2 Tm 4.7). Era
a fé fazendo-os olhar ao longe para além do horizonte, sem chegar lá, porém
contemplando o cumprimento das promessas. Certamente eles usufruíam a salvação
em Cristo porque criam na vida eterna, na entrada nos céus, na vitória sobre o
mal e, sobretudo, no reinado eterno de Deus. A fé daqueles homens era tão forte
e poderosa que, mesmo sem verem o cumprimento das promessas de Deus, nelas
creram e as abraçaram. Eles consideravam-se “estrangeiros e peregrinos na
terra”, porque esperavam uma pátria melhor, “a celestial”, a futura e
definitiva. Por causa de sua fidelidade a Deus entre os homens nesta
existência, são reconhecidos por Deus, que não se envergonha deles, de se
chamar seu Deus (Ex 3.15; Mt 22.32). A cidade à qual se refere é a própria cidade
de Deus, o alvo de sua busca, a única cidade real que eles jamais conheceram, o
lar pelo qual ansiavam. Mesmo distanciados dela, olhavam em sua direção e
tinham até mesmo saudades da mesma (Ap 21.1-4).
Depois
de citar o exemplo de fidelidade de Abraão, o escritor faz menção a Isaque,
Jacó, José e outros homens cuja fé é também digna de nota. Cada fato de fé é
tratado sumariamente e em cada um deles um único incidente é escolhido para
mostrar que esses homens, ao se aproximarem da morte, olhavam com fé para
coisas ainda invisíveis. Destacamos a atitude de José, que próximo da morte,
confiando na saída dos filhos de Israel do Egito, “deu ordem acerca de seus
ossos”; e de Moisés, que também pela fé, recusou ser chamado filho da filha de
Faraó, “escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que, por um
pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo por maiores riquezas o vitupério de
Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa” (vv.
25-26).
Aos
poucos, o autor deixa de citar personagens específicos e cita o coletivo – o
povo, e atribui a esse agrupamento uma ênfase não mais nas pessoas, mas sim nas
grandes obras que realizaram unidas como povo de Deus. Por isso, na última
parte do capítulo, ele apresenta algumas características daqueles que foram
justificados pela fé. Eles são considerados como “lutadores” – “venceram
reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos
leões, neutralizaram a força do fogo, escaparam do fio da espada”, tudo isso
pela fé no Todo-Poderoso. Outros, como João Batista, Estevão e Tiago foram
martirizados na luta pela fé, açoitados, apedrejados, presos, aflitos,
torturados e mortos: “não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma
melhor ressurreição” (vv. 35-37).
As
Escrituras consideram todos esses servos de Deus pessoas das quais “o mundo não
era digno” (v. 38). O “mundo”, que não é digno dos homens de Deus, é aquele que
se opõe ao bem, e que dificulta a inquirição espiritual. Foi para esse mundo
que Jesus apontou ao falar sobre a inevitabilidade das perseguições: “Se o
mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim” (Jo
15.18). Esses homens de fé viram de longe as promessas, mas não as alcançaram,
“provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles, sem nós,
não fossem aperfeiçoados” (vv. 39, 40).
O
autor de Hebreus compara o caminhar de várias personagens da história bíblica
com a carreira proposta aos cristãos. Esses personagens tinham em comum um
longo e desafiador percurso para fazer. Sem perseverança, ousadia e fé, nenhum
deles teria conseguido chegar ao seu destino final. De fato, “sem fé é
impossível agradar a Deus, porque é necessário que aquele que se aproxima de
Deus creia que ele existe e que é galardoador dos que o buscam”.
* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2018
EPÍSTOLA AOS HEBREUS
ASSEMBLÉIA DE DEUS
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP
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