quinta-feira, 1 de março de 2018

Os privilégios e a gravidade da fé cristã.






Após mostrar que Cristo é o verdadeiro Messias, superior a tudo quanto há e a tudo quanto é apresentado no Antigo Testamento, o autor enfatizará os privilégios e a responsabilidade que acompanham a Nova Aliança. Se não existem verdadeiras vantagens no judaísmo, se o perdão de pecados, a purificação da consciência e a comunhão perfeita com Deus só são alcançados através do sacrifício de Cristo, então, é dever de todo 0 cristão manter-se firme e inabalável na sua fé.

Neste contexto, a “ousadia” ou “confiança” está relacionada com a entrada no Santo dos Santos, entendido como símbolo da presença de Deus. Agora, todos os crentes têm um convite para entrarem no Santo dos Santos, pois já não está mais reservado somente para o sumo sacerdote (1 Pe 2.9). O caminho para Deus foi aberto pelo “sangue de Jesus”, com base na Sua oferta perfeita. Este caminho é “novo”, pois não existia antes – foi Cristo quem abriu a vereda e a “consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne”. É um “vivo caminho”, pois traz e conduz à presença de Deus e à Vida Eterna. Não se trata de um caminho coberto de sacrifícios mortos, mas tornado acessível pelo Cristo ressurreto. Percebe-se que o contraste não está entre uma vereda nova que é pouco frequentada e outra antiga, familiar e muito utilizada, mas sim, entre o único caminho e nenhum caminho (Jo 14.6). O cristão tem também “um grande sacerdote sobre a casa de Deus”, alguém devidamente qualificado para levar os homens a Deus; e, pelo fato de achar-se ali, uma recepção graciosa é assegurada a todos os membros da casa de Deus.

Nos versos 22-24 segue-se um apelo enfatizando a fé, a esperança, e o amor. Ele diz: “cheguemonos”, isto é, aproximemos para adoração e serviço do trono gracioso de Deus, onde ajuda abundante pode ser obtida, e esta aproximação deve ser realizada com a atitude de um “coração verdadeiro”, isto é, com um coração sincero, que não pode assemelhar-se ao do sacerdote do Velho Testamento que, exteriormente, se apresentava perfeito diante de Deus, mas cujo coração estava morto. Deve ser uma experiência do homem interior, e, acima de tudo, uma entrada sem dúvida ou hesitação. Porém, o direito de aproximar-se de Deus só se torna possível, “tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa”. As palavras do verso 23 são fortes e têm um sentido de urgência, sugerindo que, por baixo da superfície, encontra-se o perigo da apostasia: “Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança” (cf. 3.6, 14; 4.14). Esta é uma confissão de que possuem esperança, uma confissão das coisas em que crêem em oposição a um mundo escarnecedor e cético. Deus não irá falhar, pois Suas palavras são verdadeiras e imutáveis (6.18).

Por fim, o autor apela aos leitores para que considerem uns aos outros, sendo assim capazes de se estimularem à prática do amor e das boas obras. Esta consideração deve levar em conta as circunstâncias e fraquezas dos demais, a fim de apoiá-los. O amor pelos outros não pode manifestar-se no isolamento, em particular, nas questões espirituais. Desta forma, o autor adverte-os: “não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes, admoestando-nos uns aos outros”. O cristão não deve deixar de reunir-se para adoração e encorajamento mútuo, pois um dos objetivos da adoração pública é a edificação de todos os que se reúnem (1 Co 14.26).

Anteriormente, o autor já havia se referido à apostasia, quando disse: “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo” (3.12). O verbo “apartar” significa abandonar ou afastar-se daquilo a que antes se estava ligado. O pecado da apostasia consiste na rejeição consciente, maliciosa e voluntária da evidência e convicção do testemunho do Espírito Santo, com respeito à graça de Deus manifesta em Jesus Cristo. As palavras de advertência do autor são as seguintes: “se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados” (v. 26a). O conhecimento da verdade aqui mencionado não é o rudimentar, experimentado pelo novo convertido, ou por aquele crente de vida cristã superficial, mas o conhecimento da verdade divina no sentido amplo (2 Pe 2.20-22). Por isso, o autor assevera: “já não resta mais sacrifício pelos pecados” (v. 26b). Trata-se dos pecados insolentes, que se constituem numa afronta inominável a Deus. Pecar assim é um atentado à santidade do Altíssimo. É loucura que trará sérias consequências. A verdade divina liberta quando o pecador a recebe de coração (Jo 8.32). No entanto, quando a verdade é 18 desprezada de modo deliberado, consciente, doloso, reincidente e ofensivo, por quem a conhece bastante, torna-se impossível o perdão porque tal pessoa repudia e repele para longe de si a graça de Deus, que pode levá-la ao arrependimento.

Se o Espírito Santo não convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo, então, quem convencerá tal pessoa do seu pecado? Não havendo mais sacrifício pelo pecado, o que resta? Só resta “a expectação horrível de juízo e ardor de fogo, que há de devorar os adversários” (v. 27). Na Lei de Moisés, a palavra de duas ou três pessoas era válida para que um profanador fosse condenado sem misericórdia; não havia mais apelação: a morte era certa (Dt 17.2-6). Quem pisar o Filho de Deus, um “maior castigo” lhe sobrevirá. Desprezar o evangelho é considerar sem valor o sacrifício de Cristo; é zombar da salvação, desprezar tudo o que há de sagrado na igreja de Cristo depois de ter conhecido a verdade. Significa considerar o sangue do Filho de Deus como sangue comum, profano, sem nenhum valor sagrado ou redentor. A Bíblia diz que “o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 Jo 1.7). É por seu sangue que nos aproximamos d’Ele (Ef 2.13); o sangue de Cristo purifica (Hb 9.14); resgata (1 Pe 1.18, 19); lava de todo o pecado (Ap 1.5). Assim, se o deliberado transgressor profana o sangue de Cristo, não há nada mais que o possa renovar ou purificar. O incrédulo de fato, se não aceitar a Cristo, está condenado (Jo 3.18). O Espírito Santo sendo desprezado e agravado, não há mais esperança para o tal ofensor (Mc 3.29).

Então, só lhe espera uma sentença: “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Lc 12.5). Essa advertência nos mostra o quanto Deus é severo em seu juízo: nenhum suborno poderá alterar Seus propósitos; nem fama, nem riquezas e nem vantagens terrenas de qualquer espécie farão qualquer diferença no juízo celestial.

Agora o autor reporta a um passado bem mais recente: “Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições” (v. 32). Muito provavelmente ele está se referindo à perseguição sofrida por terem se tornados cristãos. Não bastasse isto, certamente sofreram rejeição dos próprios amigos, familiares, conhecidos que tinham permanecido no judaísmo. Mas eles se mantiveram corajosamente, apesar de terem sofrido muito: “feitos espetáculo com vitupérios e tribulações” (v. 33). Eles foram expostos à zombaria do povo, insultados e escarnecidos, e até mesmo receberam danos físicos. Eles não só sofreram desse modo, mas também se tornaram coparticipantes com aqueles que foram assim tratados. Porque, diz o autor, “também vos compadecestes dos que estavam nas prisões e com gozo permitistes a espoliação dos vossos bens” (v. 34). Eles tinham ministrado ativamente com relação às necessidades de seus irmãos afligidos (13.3; Mt 25.35, 36) e aceitado suas perdas com tranquilidade e alegria (cf. At 5.41; Rm 5.3). Eles rejubilavam como Jesus ensinara Seus discípulos a fazerem (Mt 5.11, 12), sabendo perfeitamente bem que possuíam “nos céus uma possessão melhor e permanente”. As pessoas podiam roubar-lhes os bens, mas ninguém poderia tirar deles os tesouros acumulados nos céus (Mt 6.20).

Por fim, o autor chama a atenção para a “confiança”, a mesma que haviam tido no passado, que deveria continuar como um sólido fundamento (v. 35). O céu é para quem tem esperança, paciência por mais um poucochinho de tempo, ciente que vive e sobrevive tão somente pela fé (vv. 37, 38).

O relativismo religioso e o secularismo que debilitam a igreja, afrouxando as regras e os limites entre o santo e o profano, constituem um sinal de alerta para todos nós. Avancemos confiantes e com ousadia; permaneçamos firmes na fé e não rejeitemos a Cristo!






* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2018


EPÍSTOLA AOS HEBREUS 

ASSEMBLÉIA DE DEUS 
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário