Após
mostrar que Cristo é o verdadeiro Messias, superior a tudo quanto há e a tudo
quanto é apresentado no Antigo Testamento, o autor enfatizará os privilégios e
a responsabilidade que acompanham a Nova Aliança. Se não existem verdadeiras
vantagens no judaísmo, se o perdão de pecados, a purificação da consciência e a
comunhão perfeita com Deus só são alcançados através do sacrifício de Cristo,
então, é dever de todo 0 cristão manter-se firme e inabalável na sua fé.
Neste
contexto, a “ousadia” ou “confiança” está relacionada com a entrada no Santo
dos Santos, entendido como símbolo da presença de Deus. Agora, todos os crentes
têm um convite para entrarem no Santo dos Santos, pois já não está mais reservado
somente para o sumo sacerdote (1 Pe 2.9). O caminho para Deus foi aberto pelo
“sangue de Jesus”, com base na Sua oferta perfeita. Este caminho é “novo”, pois
não existia antes – foi Cristo quem abriu a vereda e a “consagrou, pelo véu,
isto é, pela sua carne”. É um “vivo caminho”, pois traz e conduz à presença de
Deus e à Vida Eterna. Não se trata de um caminho coberto de sacrifícios mortos,
mas tornado acessível pelo Cristo ressurreto. Percebe-se que o contraste não
está entre uma vereda nova que é pouco frequentada e outra antiga, familiar e
muito utilizada, mas sim, entre o único caminho e nenhum caminho (Jo 14.6). O
cristão tem também “um grande sacerdote sobre a casa de Deus”, alguém
devidamente qualificado para levar os homens a Deus; e, pelo fato de achar-se
ali, uma recepção graciosa é assegurada a todos os membros da casa de Deus.
Nos
versos 22-24 segue-se um apelo enfatizando a fé, a esperança, e o amor. Ele
diz: “cheguemonos”, isto é, aproximemos para adoração e serviço do trono
gracioso de Deus, onde ajuda abundante pode ser obtida, e esta aproximação deve
ser realizada com a atitude de um “coração verdadeiro”, isto é, com um coração
sincero, que não pode assemelhar-se ao do sacerdote do Velho Testamento que,
exteriormente, se apresentava perfeito diante de Deus, mas cujo coração estava
morto. Deve ser uma experiência do homem interior, e, acima de tudo, uma
entrada sem dúvida ou hesitação. Porém, o direito de aproximar-se de Deus só se
torna possível, “tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado
com água limpa”. As palavras do verso 23 são fortes e têm um sentido de
urgência, sugerindo que, por baixo da superfície, encontra-se o perigo da
apostasia: “Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança” (cf. 3.6, 14;
4.14). Esta é uma confissão de que possuem esperança, uma confissão das coisas
em que crêem em oposição a um mundo escarnecedor e cético. Deus não irá falhar,
pois Suas palavras são verdadeiras e imutáveis (6.18).
Por
fim, o autor apela aos leitores para que considerem uns aos outros, sendo assim
capazes de se estimularem à prática do amor e das boas obras. Esta consideração
deve levar em conta as circunstâncias e fraquezas dos demais, a fim de
apoiá-los. O amor pelos outros não pode manifestar-se no isolamento, em particular,
nas questões espirituais. Desta forma, o autor adverte-os: “não deixando a
nossa congregação, como é costume de alguns, antes, admoestando-nos uns aos
outros”. O cristão não deve deixar de reunir-se para adoração e encorajamento
mútuo, pois um dos objetivos da adoração pública é a edificação de todos os que
se reúnem (1 Co 14.26).
Anteriormente,
o autor já havia se referido à apostasia, quando disse: “Vede, irmãos, que
nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus
vivo” (3.12). O verbo “apartar” significa abandonar ou afastar-se daquilo a que
antes se estava ligado. O pecado da apostasia consiste na rejeição consciente,
maliciosa e voluntária da evidência e convicção do testemunho do Espírito
Santo, com respeito à graça de Deus manifesta em Jesus Cristo. As palavras de
advertência do autor são as seguintes: “se pecarmos voluntariamente, depois de
termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos
pecados” (v. 26a). O conhecimento da verdade aqui mencionado não é o
rudimentar, experimentado pelo novo convertido, ou por aquele crente de vida
cristã superficial, mas o conhecimento da verdade divina no sentido amplo (2 Pe
2.20-22). Por isso, o autor assevera: “já não resta mais sacrifício pelos
pecados” (v. 26b). Trata-se dos pecados insolentes, que se constituem numa
afronta inominável a Deus. Pecar assim é um atentado à santidade do Altíssimo.
É loucura que trará sérias consequências. A verdade divina liberta quando o
pecador a recebe de coração (Jo 8.32). No entanto, quando a verdade é 18
desprezada de modo deliberado, consciente, doloso, reincidente e ofensivo, por
quem a conhece bastante, torna-se impossível o perdão porque tal pessoa repudia
e repele para longe de si a graça de Deus, que pode levá-la ao arrependimento.
Se
o Espírito Santo não convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo, então,
quem convencerá tal pessoa do seu pecado? Não havendo mais sacrifício pelo
pecado, o que resta? Só resta “a expectação horrível de juízo e ardor de fogo,
que há de devorar os adversários” (v. 27). Na Lei de Moisés, a palavra de duas
ou três pessoas era válida para que um profanador fosse condenado sem
misericórdia; não havia mais apelação: a morte era certa (Dt 17.2-6). Quem
pisar o Filho de Deus, um “maior castigo” lhe sobrevirá. Desprezar o evangelho
é considerar sem valor o sacrifício de Cristo; é zombar da salvação, desprezar
tudo o que há de sagrado na igreja de Cristo depois de ter conhecido a verdade.
Significa considerar o sangue do Filho de Deus como sangue comum, profano, sem
nenhum valor sagrado ou redentor. A Bíblia diz que “o sangue de Jesus Cristo,
seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 Jo 1.7). É por seu sangue que nos
aproximamos d’Ele (Ef 2.13); o sangue de Cristo purifica (Hb 9.14); resgata (1
Pe 1.18, 19); lava de todo o pecado (Ap 1.5). Assim, se o deliberado
transgressor profana o sangue de Cristo, não há nada mais que o possa renovar
ou purificar. O incrédulo de fato, se não aceitar a Cristo, está condenado (Jo
3.18). O Espírito Santo sendo desprezado e agravado, não há mais esperança para
o tal ofensor (Mc 3.29).
Então,
só lhe espera uma sentença: “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Lc
12.5). Essa advertência nos mostra o quanto Deus é severo em seu juízo: nenhum
suborno poderá alterar Seus propósitos; nem fama, nem riquezas e nem vantagens
terrenas de qualquer espécie farão qualquer diferença no juízo celestial.
Agora
o autor reporta a um passado bem mais recente: “Lembrai-vos, porém, dos dias
passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de
aflições” (v. 32). Muito provavelmente ele está se referindo à perseguição
sofrida por terem se tornados cristãos. Não bastasse isto, certamente sofreram
rejeição dos próprios amigos, familiares, conhecidos que tinham permanecido no
judaísmo. Mas eles se mantiveram corajosamente, apesar de terem sofrido muito:
“feitos espetáculo com vitupérios e tribulações” (v. 33). Eles foram expostos à
zombaria do povo, insultados e escarnecidos, e até mesmo receberam danos
físicos. Eles não só sofreram desse modo, mas também se tornaram
coparticipantes com aqueles que foram assim tratados. Porque, diz o autor,
“também vos compadecestes dos que estavam nas prisões e com gozo permitistes a
espoliação dos vossos bens” (v. 34). Eles tinham ministrado ativamente com
relação às necessidades de seus irmãos afligidos (13.3; Mt 25.35, 36) e
aceitado suas perdas com tranquilidade e alegria (cf. At 5.41; Rm 5.3). Eles
rejubilavam como Jesus ensinara Seus discípulos a fazerem (Mt 5.11, 12),
sabendo perfeitamente bem que possuíam “nos céus uma possessão melhor e
permanente”. As pessoas podiam roubar-lhes os bens, mas ninguém poderia tirar
deles os tesouros acumulados nos céus (Mt 6.20).
Por
fim, o autor chama a atenção para a “confiança”, a mesma que haviam tido no
passado, que deveria continuar como um sólido fundamento (v. 35). O céu é para
quem tem esperança, paciência por mais um poucochinho de tempo, ciente que vive
e sobrevive tão somente pela fé (vv. 37, 38).
O
relativismo religioso e o secularismo que debilitam a igreja, afrouxando as
regras e os limites entre o santo e o profano, constituem um sinal de alerta
para todos nós. Avancemos confiantes e com ousadia; permaneçamos firmes na fé e
não rejeitemos a Cristo!
* Texto cedido por: EBD – 1º. Trimestre de 2018
EPÍSTOLA AOS HEBREUS
ASSEMBLÉIA DE DEUS
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP
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