Dentro
dos estudos escatológicos, o texto da leitura bíblica é frequentemente citado
em alusão ao “Milênio”, um período de mil anos em que diversos acontecimentos
devem se suceder, conforme mostrado a João. Embora seja referida por muitos a
um tempo futuro, veremos que esta visão trata de eventos relacionados com o
povo de Deus em todo o tempo, e que se encerrarão com a vinda de Cristo.
Por
se tratar de uma visão do livro de Apocalipse, o texto em análise deve ser
considerado à luz do contexto deste livro. O último livro da Bíblia trata de
coisas que deveriam acontecer brevemente, e que foram mostradas a João para que
ele as transmitisse aos seus irmãos, servos de Deus (Ap 1.1-3). Portanto, o
conteúdo de Apocalipse é pertinente à Igreja, relacionando-se com coisas que
devem se cumprir ainda nesta dispensação, antes da vinda de Cristo (Ap 22.6-7,
10).
Não
encontramos literalmente a palavra “milênio”, mas “mil anos”. Considerando,
porém, que o tempo de Deus não pode ser tomado ou contado à maneira dos homens,
devemos nos resguardar no parecer de Pedro, de que para o Senhor um dia é como
mil anos, e mil anos, como um dia. Em outras passagens de Apocalipse,
encontramos diferentes contagens de tempo, todas elas simbólicas e
complementares umas das outras. Não é diferente com esse período de mil anos: é
um tempo definido por Deus, unicamente do Seu conhecimento, no qual muitos
acontecimentos se dão. Contudo, há elementos suficientes no texto para
entendermos a que tempo se refere, quando começou e quando acabará.
O
período de mil anos tem início com o aprisionamento do dragão, que é o diabo,
Satanás, para que não mais engane as nações. Parece que o diabo está solto,
considerando a sua influência sobre o mundo (2 Co 4.3-4; Ef 2.2). Mas, na
realidade, ele atua apenas na sua esfera de escuridão e cegueira espiritual, em
que se encontra aprisionado desde a sua queda da presença de Deus (Jd 6; 2 Pe
2.4). Deus é luz, e o diabo não discerne as coisas de Deus (1 Jo 1.7; Mt
16.23). Por outro lado, ele está restrito, não faz o que quer, mas só o que
Deus permite, e por isso não toca o crente (1 Jo 5.18). Considere-se ainda que,
com a morte, ressurreição e glorificação de Cristo Jesus, o diabo tem perdido o
domínio sobre muitos povos, que pela pregação do evangelho têm sido libertos
das trevas do engano (cf. Ap 12.7-9; Cl 2.13-15; Mt 12.28-29).
Temos
explicado em outra lição que a besta é o aglomerado de reis ou reinos que,
particularmente neste tempo final, seriam contrários a Cristo e fariam guerra
contra os Seus santos e os venceriam (Ap 13.1-2, 5-7; 17.12-14; Dn 7.24-26).
Mas, apesar de sucumbirem ante a perseguição da besta, aos olhos de Deus os
fiéis estão vencendo pela fé (Hb 11.33), e provando fazer parte do Seu reino,
que não é deste mundo, e que vem sendo levantado desde os dias do império
caldeu (Dn 2.44). Por isso, estes são representados como vivendo para Deus e
reinando com Cristo, em suas gerações (Ap 1.6; 5.9-10; cf. Hb 12.28; Cl 1.13).
Portanto, estes mil anos se referem a todo o tempo em que Deus vem recrutando
os Seus eleitos, incluindo-os no reino dos céus e dando testemunho de que
venceram pela fé, por perseverarem até ao fim sob as mais terríveis
perseguições.
Nesses
mil anos, o Evangelho está sendo pregado ao mundo, aos homens mortos em ofensas
e pecados; todo aquele que crê passa da morte para a vida (Jo 5.24-25), sendo
vivificado, ressuscitado, por Cristo (Ef 2.1, 5-6; Cl 2.13; 3.1-4). Mas os
“mortos” que não vêm para Cristo, que não alcançam testemunho de Deus, não são
trazidos para o Seu reino, não revivem, permanecendo espiritualmente mortos,
até o fim dos mil anos – isto é, até o fim desta dispensação, com a vinda de
Cristo (Jo 5.28-29). Observe-se ainda que os que vivem pelo Evangelho fazem
parte da “primeira ressurreição”, não tendo sobre eles poder a segunda morte, a
morte eterna (Ap 2.11; cf. Jo 6.47; 11.25-26).
O
término dos mil anos se dará com a vinda de Jesus. Nessa ocasião, os reinos
deste mundo serão aniquilados (1 Co 15.22-25). De fato, à medida que o tempo se
aproxima, os preparativos para este confronto – esta grande batalha – estão
sendo realizados. A Besta, o Falso Profeta e o próprio Dragão conduzem
enganosamente a humanidade em direção à sua própria destruição (Ap 16.12-16). A
batalha se dará de forma rápida, e a besta e o falso profeta serão vencidos
pelo Cordeiro de Deus. Os demais, que os seguiram, serão mortos pela justiça e
verdade da espada que sai da Sua boca (Ap 19.19-21).
Contudo,
ao término dos mil anos, e destruídos os reinos e todo o sistema deste mundo,
assim como todos os homens ímpios (2 Pe 3.7), Satanás será solto “por um pouco
de tempo”. Mais uma vez, o seu propósito será levantar-se contra Deus e fazer o
mal contra o “arraial dos santos”, a “cidade amada”, os céus. Não podendo mais
contar com a besta e o falso profeta, pois já não existem, reunirá as
incontáveis hostes de demônios, que no passado havia arrastado consigo na sua
queda (Ap 12.4; cf. Ef 6.12) e tentará uma última investida contra os céus. Mas
aí finalmente encontrarão o seu fim, pois o próprio Deus exercerá a Sua ira e
juízo contra eles e os destruirá para sempre, entregando-os ao mesmo fim que
tiveram os seus seguidores e mensageiros – o lago de fogo (v. 10; Mt 25.41).
Não
é fácil compreender tudo, mas a partir desta lição podemos extrair a
consoladora mensagem de que Deus considera os sofrimentos e perseguições do
crente pelo mundo como sinal de aprovação e vitória. E, mesmo depois de mortos,
Deus dá testemunho de que uma glória ainda maior os aguarda por toda a
eternidade.
Texto cedido por: EBD – 2º. Trimestre de 2018
ESCATOLOGIA
ASSEMBLÉIA DE DEUS
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário