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sexta-feira, 10 de maio de 2024
As setenta semanas de Daniel
A visão registrada por Daniel no texto em epígrafe é de grande
importância para o estudo da escatologia bíblica. Nesta passagem encontra-se
uma revelação feita por Deus ao profeta sobre um tempo determinado para a
realização de todos os Seus desígnios em relação ao Seu povo. Trata-se de
uma palavra abrangente, que começa a se cumprir ainda antes de Cristo,
estende-se por toda a era cristã e completa-se apenas na consumação deste
mundo.
Tudo começa quando Daniel entende, lendo e refletindo sobre as
Escrituras, que o tempo determinado por Deus para a duração do cativeiro do
Seu povo na Babilônia seria de setenta anos (Jr 25.11-12; 29.10). Aquele era o
primeiro ano de Dario, o medo. O império babilônico já havia passado, e estava
para se cumprir o tempo determinado por Deus através de Jeremias. Isto levou
o profeta Daniel a buscar ao Senhor “com oração, e rogos, e jejum, e pano de
saco, e cinza” (v. 3), ou seja, apoiado nas misericórdias e na fidelidade do
próprio Deus, para que Ele operasse, segundo a Sua palavra, a libertação e
restauração do Seu povo.
Em resposta à oração do profeta, o anjo Gabriel é enviado para instruir
Daniel sobre um novo período de tempo, nunca antes citado – não mais de
setenta anos, mas setenta semanas. Literalmente, setenta vezes sete (uma
semana equivalendo a sete dias). E assim como os setenta anos, já passados,
foram suficientes para a realização do propósito de Deus quanto ao cativeiro de
Israel na Babilônia (cf. 2 Cr 36.21), agora esse tempo de setenta semanas
seria absolutamente perfeito e suficiente para a realização de propósitos
divinos ainda mais elevados e abrangentes.
Vários objetivos são propostos para esse novo período de tempo
determinado por Deus. Todos eles se relacionam com a redenção e felicidade
eterna dos santos, de modo que, no cumprimento de todo o propósito das
setenta semanas, o povo de Deus terá alcançado a plenitude de tudo quanto
Deus havia prometido antes por boca de outros profetas. Portanto, esta visão
abrange um período de tempo muito mais amplo do que a contagem literal de
setenta semanas poderia sugerir, sendo um tempo do conhecimento exclusivo
de Deus – a expressão “setenta semanas” apenas indicando simbolicamente
sua perfeição e completude para o cumprimento dos desígnios divinos (cf. 2 Pe
3.8).
Embora se trate de um período cuja duração de tempo exata é do
conhecimento exclusivo de Deus, o avanço das setenta semanas é assinalado
por eventos que são claramente identificáveis nas Escrituras e na História.
Podemos analisar esses eventos, revelados na própria visão, em dois períodos
principais: o primeiro, nas primeiras “sessenta e nova semanas”, e o segundo,
na última “semana”.
O marco inicial das setenta semanas, e do seu primeiro período,
peculiarmente descrito como “sete semanas, e sessenta e duas semanas”, se
dá no reinado de Ciro, o persa, por volta de 445 a.C., quando foi dada a “ordem
para restaurar e reedificar Jerusalém” (2 Cr 36.22-23; Ed 1.1-3; cf. Is 44.24-28;
45.1, 13). No período pós-cativeiro, aconteceu a reconstrução do Templo e da
cidade de Jerusalém, mas, como diz a profecia, em “dias angustiosos”.
Conforme registrado nos livros de Esdras e Neemias, a obra de restauração
esteve sob constante ameaça dos inimigos vizinhos, chegando até a ser
interrompida por influência destes. E os próprios israelitas viram-se novamente
sujeitos às fraquezas e infidelidades de seus antepassados, como nos revelam
os profetas Ageu, Zacarias e Malaquias.
Esse período se estende até a chegada do Messias, o Príncipe – isto é,
Jesus Cristo. Neste ponto da história, o tempo avançou sessenta e nove
semanas no “relógio” divino, restando tão somente uma semana para a
conclusão dos desígnios de Deus para o Seu povo na terra. Quer dizer que,
desde a manifestação do Senhor Jesus em carne, há aproximadamente 2000
anos, até o fim, transcorre apenas uma semana na visão de Deus.
O período final é de apenas uma semana. Mas, atenção, pois aqui
ocorre uma repartição na septuagésima e última semana em dois novos
períodos de meia semana cada. Os versos em relevo destacam os eventos que
devem suceder tanto na primeira como na segunda metade desta última
semana.
Em primeiro lugar, é dito no verso 26 que o Messias “será tirado, e não
será mais”. Isto se refere a Jesus sendo rejeitado e morto pelos judeus (Is 53.8;
Jo 1.10) e, pela Sua ressurreição e ascensão, deixando este mundo e voltando
para o Pai (Lc 9.22; Jo 14.19). O verso 27 afirma também, ainda em relação ao
Messias, que Ele “firmará um concerto com muitos” – uma clara referência ao
Concerto da salvação eterna (“por uma semana” – sete tempos), selada no Seu
sangue para a remissão dos pecados de muitos – do Seu povo (Mt 1.21; 20.28;
26.26-28).
Voltando ao verso 26, ali é dito, na sequência da rejeição do Messias,
que “o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário”. O
povo aqui citado é o romano que, no ano 70 d.C., liderado pelo general Tito,
cercou Jerusalém com seus exércitos e arrasou a cidade e o Templo, não
deixando pedra sobre pedra (cf. Mt 24.2; Lc 21.20-24). O verso 27 volta a este
acontecimento, pela citação de que, no meio da semana, o Messias faria
“cessar o sacrifício e a oferta de manjares”. Isto se cumpre, primeiro, quando
Cristo, pelo sacrifício único e perfeito de Si mesmo, tornava inúteis e obsoletos
os sacrifícios e ofertas determinadas pela Lei (Hb 9.11-12; 10.1, 8-12). Mas,
para que cessasse de fato toda religiosidade judaica, o Templo foi destruído, e
nunca mais os judeus puderam realizar tais sacrifícios. A partir desse
acontecimento, transcorre a segunda metade da última semana.
Com o fim de toda a ordem mosaica baseada no Templo e na missão de
Israel como povo de Deus – fim esse assinalado pela destruição de Jerusalém
e do Templo, entramos no período final das setenta semanas. No verso 26,
lemos que “até ao fim haverá guerra; estão determinadas assolações” – que é
uma referência aos acontecimentos catastróficos e aflitivos que se abateriam
sobre as nações até o fim do mundo, como Jesus avisaria os Seus discípulos
(Mt 24.6-7). Observemos ainda, pelo verso 27, que esse é o tempo em que o
Assolador, isto é, o espírito do anticristo, se faz presente no mundo (Jo 14.30; 1
Jo 2.18; 4.3; 2 Ts 2.1-5), manifestando-se na multiplicação do engano e da
iniquidade (Mt 24.9-12; 1 Tm 4.1-2; 2 Tm 3.1-4; 2 Ts 2.7, 9-12). Contudo, esse
período também inclui o derramar da ira de Deus sobre todo o sistema e poder
das trevas, com a destruição do próprio Assolador (cf. 2 Ts 2.7-8; Ap 20.10).
Enfim, os principais objetivos descritos no capítulo 9 de Daniel aqui
descritos nestas linhas foram: extinguir a transgressão; dar fim aos pecados;
expiar a iniquidade; trazer a justiça eterna; selar a visão e a profecia; ungir o
Santo dos Santos.
Inicialmente há um período destacado de sete semanas e 62 semanas
(as sessenta e nove semanas) tendo o seu início no reinado de Ciro, quando
foi dada a “ordem para restaurar e reedificar Jerusalém” e que iria até a
chegada do Messias, Jesus, e, então, até a vinda de Cristo são 69 semanas,
faltando apenas uma semana.
Nesse período final de uma semana é já a semana de número setenta; e
no verso 26 e depois o 27 separadamente. No verso vinte e seis é dito que
nesta última semana o Messias Jesus seria tirado e, mais, “o povo do príncipe
que há de vir, destruirá a cidade e o santuário” e “até o fim haverá guerra;
estão determinadas assolações”. Já o verso 27 traz mais detalhes desta
mesma última semana: o Messias “firmará um concerto com muitos por uma
semana”. E, agora, há uma repartição desta semana final ao dizer: “na metade
da semana fará cessar o sacrifício e a ofertas de manjares” e, ainda acontecerá
que “sobre a asa das abominações virá o assolador e isso até a consumação; e
o que está determinado será derramado sobre o assolador”. Enfim, o verso 27
primeiro refere-se ao concerto eterno (sete dias) que Jesus faz pela morte na
cruz e “com muitos”, com os creem em seu nome é o concerto da salvação
eterna, no perdão dos pecados pelo seu sangue.
O clímax das setentas semanas acontece a partir da metade da última
semana, os três e meio dias finais, quando, então, o Messias “faria cessar o
sacrifício e a oferta de manjares” cumpriu-se isto quando Cristo morto pelos
judeus tornava inútil os sacrifícios e ofertas determinadas pela lei e para que
cessasse de fato toda religiosidade vã definida pela lei é que foi destruído o
templo e a cidade de Jerusalém pelo “povo do príncipe que havia de vir” - os
romanos, que, no ano 70 aD, com seus exércitos, não deixou pedra sobre
pedra e desde então nunca mais se realizou tais rituais levíticos. Então de
Jesus morto até o fim dos tempos faltam apenas três dias e meio.
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