Calvino (2000, v.1, p.103-104) destaca que
Daniel “recebeu o espírito profético, ao contrário dos sábios segundo este
mundo que não possuem o dom da revelação e prometem mais do que podem
comprovar”.
Ao estudar o livro de Daniel fez uma correlação
devido ao sofrimento do povo de Deus na França no início da Reforma e entende
que a perseguição do cativeiro tem significado e prolongamento até os dias
finais da Igreja na terra, enfim, está predito sofrimento para os santos: “E, caindo eles, serão ajudados com pequeno socorro; mas
muitos se ajuntarão a eles com lisonjas” (Dn
11.34).
É certo que
a perseguição se agravará no período da grande tribulação nos finais dos
tempos, isso já desde a morte e ressurreição de Jesus e a consequente derribada
dos anjos rebeldes com o “mundo sendo incitado contra a Igreja pelo Diabo”
(CALVINO, 2000, v.1, p.110), mostrando Miguel com um alto cargo nos céus como
explica Gajardo (2012) e a Bíblia o descreve como o grande príncipe. Coincide,
do mesmo modo, com a “decadência espiritual das sociedades do fim dos tempos”
como descreve Martines (2008, p.163).
E, naquele tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, que
se levanta pelos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca
houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, livrar-se-á
o teu povo, todo aquele que se achar escrito no livro (Dn 12.1).
O mensageiro ainda explica a Daniel que
muitos fiéis seriam provados para serem purificados: “Muitos serão purificados,
e embranquecidos, e provados; mas os ímpios procederão impiamente, e nenhum dos
ímpios entenderá, mas os sábios entenderão” (Dn 12.10).
É nas visões que teve o profeta
Daniel que encontraremos referência ao tempo em que se dá essa grande aflição
do povo de Deus. Nas Setenta Semanas, estão determinadas assolações até o fim,
particularmente após a vinda do assolador, o anticristo (Dn 9.26, 27). Na visão
do capítulo 7 do mesmo profeta, encontramos que os santos serão entregues nas
mãos do reino representado pelo chifre pequeno “por um tempo, e tempos e metade
de um tempo”, para serem afligidos e mortos (Dn 7.21, 25). Com a precipitação
do dragão, Satanás, na terra, este imediatamente se levantou com grande fúria
contra a semente da mulher, a Igreja, e os combaterá até o fim. Começando com
os apóstolos, a maioria – se não todos – foi martirizada por amor ao evangelho
e outros também tiveram de dar sua vida por amor ao evangelho.
E assim, até aos dias atuais, há incontáveis
testemunhos, de todas as partes do mundo, de cristãos passando por grande
tribulação. Mesmo que em alguns lugares, em algum momento, haja relativa
tranquilidade, e alguns cristãos não sejam diretamente confrontados pelo mundo,
entende-se que, no sofrer de um só membro, toda a igreja deveria se compadecer,
como se todos sofressem.
Em síntese, o que a torna a
tribulação particularmente grande são os seguintes fatores: a atuação direta e
em grande ira da parte do próprio diabo e de suas hostes infernais, que sabem
que lhes resta pouco tempo; o propósito da besta – os reinos deste mundo – de
se por em lugar de Deus, perseguindo e destruindo aqueles que não reconhecem o
seu poder; o engano do falso profeta, ridicularizando o evangelho, obscurecendo
a luz da verdade; e a humanidade sem Deus, que jaz prisioneira do pecado e ferrenhamente
apegada ao amor deste mundo, e por isso odeia os que seguem a Cristo e os
censura por não andarem no mesmo desenfreamento das paixões pecaminosas da
carne.
Assim, a Igreja realmente se encontra
nos últimos dias, no fim dos tempos. Não há nada mais que se esperar, senão a
vinda de Cristo Jesus, nosso Salvador e Senhor, que porá fim a todo o sistema
pecaminoso e corrupto deste mundo, vencendo os falsos reis da terra e os falsos
profetas, assim como destruindo a todos os Seus adversários. Só então a Igreja
será livrada de todas as suas aflições, e estará para sempre, em paz, com o
Senhor.
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