quarta-feira, 9 de junho de 2021

Conversando com Calvino e outros sobre o livro de Daniel

 



Calvino (2000, v.1, p.103-104) destaca que Daniel “recebeu o espírito profético, ao contrário dos sábios segundo este mundo que não possuem o dom da revelação e prometem mais do que podem comprovar”.

Ao estudar o livro de Daniel fez uma correlação devido ao sofrimento do povo de Deus na França no início da Reforma e entende que a perseguição do cativeiro tem significado e prolongamento até os dias finais da Igreja na terra, enfim, está predito sofrimento para os santos: “E, caindo eles, serão ajudados com pequeno socorro; mas muitos se ajuntarão a eles com lisonjas” (Dn 11.34).

       É certo que a perseguição se agravará no período da grande tribulação nos finais dos tempos, isso já desde a morte e ressurreição de Jesus e a consequente derribada dos anjos rebeldes com o “mundo sendo incitado contra a Igreja pelo Diabo” (CALVINO, 2000, v.1, p.110), mostrando Miguel com um alto cargo nos céus como explica Gajardo (2012) e a Bíblia o descreve como o grande príncipe. Coincide, do mesmo modo, com a “decadência espiritual das sociedades do fim dos tempos” como descreve Martines (2008, p.163).

E, naquele tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta pelos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, livrar-se-á o teu povo, todo aquele que se achar escrito no livro (Dn 12.1).

O mensageiro ainda explica a Daniel que muitos fiéis seriam provados para serem purificados: “Muitos serão purificados, e embranquecidos, e provados; mas os ímpios procederão impiamente, e nenhum dos ímpios entenderá, mas os sábios entenderão” (Dn 12.10).

É nas visões que teve o profeta Daniel que encontraremos referência ao tempo em que se dá essa grande aflição do povo de Deus. Nas Setenta Semanas, estão determinadas assolações até o fim, particularmente após a vinda do assolador, o anticristo (Dn 9.26, 27). Na visão do capítulo 7 do mesmo profeta, encontramos que os santos serão entregues nas mãos do reino representado pelo chifre pequeno “por um tempo, e tempos e metade de um tempo”, para serem afligidos e mortos (Dn 7.21, 25). Com a precipitação do dragão, Satanás, na terra, este imediatamente se levantou com grande fúria contra a semente da mulher, a Igreja, e os combaterá até o fim. Começando com os apóstolos, a maioria – se não todos – foi martirizada por amor ao evangelho e outros também tiveram de dar sua vida por amor ao evangelho.

E assim, até aos dias atuais, há incontáveis testemunhos, de todas as partes do mundo, de cristãos passando por grande tribulação. Mesmo que em alguns lugares, em algum momento, haja relativa tranquilidade, e alguns cristãos não sejam diretamente confrontados pelo mundo, entende-se que, no sofrer de um só membro, toda a igreja deveria se compadecer, como se todos sofressem.

Em síntese, o que a torna a tribulação particularmente grande são os seguintes fatores: a atuação direta e em grande ira da parte do próprio diabo e de suas hostes infernais, que sabem que lhes resta pouco tempo; o propósito da besta – os reinos deste mundo – de se por em lugar de Deus, perseguindo e destruindo aqueles que não reconhecem o seu poder; o engano do falso profeta, ridicularizando o evangelho, obscurecendo a luz da verdade; e a humanidade sem Deus, que jaz prisioneira do pecado e ferrenhamente apegada ao amor deste mundo, e por isso odeia os que seguem a Cristo e os censura por não andarem no mesmo desenfreamento das paixões pecaminosas da carne.

Assim, a Igreja realmente se encontra nos últimos dias, no fim dos tempos. Não há nada mais que se esperar, senão a vinda de Cristo Jesus, nosso Salvador e Senhor, que porá fim a todo o sistema pecaminoso e corrupto deste mundo, vencendo os falsos reis da terra e os falsos profetas, assim como destruindo a todos os Seus adversários. Só então a Igreja será livrada de todas as suas aflições, e estará para sempre, em paz, com o Senhor.


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