O toque da sétima trombeta (Ap
11.15-19) introduz um novo ciclo de visões, nas quais grandes sinais revelam
segredos de Deus: mulher e o dragão (Ap 12); duas bestas (Ap
13); o exército celestial (Ap 14); e a própria visão dos sete
anjos com as últimas sete pragas (Ap 15 e 16). .
No capítulo 12 de apocalipse temos dois
sinais no céu: a mulher e o dragão.
O primeiro sinal no céu
visto por João é o de uma mulher ricamente adornada (“vestida
do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a
sua cabeça”), que estava grávida.
Nas Escrituras, essa é a figura usada com
mais frequência para se referir ao povo de Deus, seja no
passado, representado pela nação de Israel (Is 54.4-8; Ez
16.8; Os 2.19-20), seja no presente, na plenitude do Israel de Deus, formado
tanto por judeus como gentios (Ef 5.31-32).
Desde o princípio, o povo de Deus aguardava
ansiosamente pelo cumprimento das promessas sobre a vinda do Messias, o
Salvador (Gn 3.15; Is 7.14-16; 9.6-7), e a certeza desse evento aumentava na
medida em que o tempo se aproximava. A promessa estava em gestação e
prestes a vir à luz.
O segundo sinal no céu é o
de um terrível dragão, cuja identidade é apresentada no
próprio texto (“o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e
Satanás, que engana todo o mundo”, v. 9), e em cuja pretensão de formar
para si um reino, em oposição ao Criador, levou muitos outros anjos à queda (“a
sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu”, cf. Is
14.12-15, 2 Pe 2.4, Jd 6).
Ainda é revelada a tentativa de Satanás em
destruir o menino Cristo Jesus (“parou diante da mulher... para que lhe
tragasse o filho”, cf. Mt 2; 13-18 4.5-7; Jo 8.40, 44; etc.).
Contudo, os desígnios de Deus em relação a
Cristo cumpriram-se rapidamente no Seu nascimento, morte e ressurreição
(ele “foi arrebatado para Deus e para o seu trono”), sem que
Satanás pudesse fazer coisa alguma para impedi-los.
O arrebatamento do Filho de Deus para o céu
resulta numa batalha espiritual (“Miguel e os
seus anjos batalhavam contra o dragão”), ou seja, numa grande mudança na
ordem das coisas e dos seres celestiais.
Antes da morte e ressurreição do Senhor
Jesus, Satanás é visto estar presente em mais de uma ocasião entre as hostes
celestiais, seja para acusar os servos de Deus (“o acusador de nossos
irmãos”, cf. Jó 1.6-12; 2.4-6; Zc 3.1-2), seja para propor ou sugerir
estratagemas em que a sua malícia e engano pudessem ser empregados (“que
engana todo o mundo”, cf. 1 Rs 22.19-22).
Porém, quando Cristo morreu na cruz, provando
e cumprindo em Si mesmo a justiça de Deus, resgatando nossas almas pela oferta
de Sua própria vida, e ressuscitando para comparecer por nós diante do Pai, as
acusações do diabo foram caladas, e ele foi vencido (“eles o venceram pelo
sangue do Cordeiro”, cf. Lc 10.18; Rm 8.1, 31-34; Cl 2.13-15; Hb
9.23), precipitado na terra (“nem mais o seu lugar se achou nos céus”) e
colocado sob um juízo que em breve se cumprirá (“tem pouco tempo”, cf.
Jo 16.8-11; Rm 16.20; Ez 28.15 e 19; Ap 20.10).
Frustrado em seu intento de destruir o Filho
de Deus, e agora privado de acesso ao céu, Satanás logo se volta contra a
mulher, a Igreja, na tentativa de destrui-la (“o dragão... perseguiu a
mulher”, cf. At 7.54-60; 8.1; 12.1-3; Ef 6.10-13; Ap 3.10) e
fazê-la desaparecer entre a multidão de povos, nações e línguas (“a serpente
lançou da sua boca, atrás da mulher, água como um rio, para que pela corrente a
fizesse arrebatar”) – do que a história fornece amplo testemunho, tanto nas
perseguições como nas tentativas de suprimir ou corromper o testemunho
característico do povo de Deus.
Contudo, a mulher é socorrida, sendo levada
para o deserto (vv. 6, 14, cf. Ex 19.1-4), lugar onde não pode
ser alcançada por Satanás e onde também é sustentada milagrosamente por Deus
(cf. Ex 16.13-18); ao mesmo tempo em que seus perseguidores perecem pela
brevidade e males da vida terrena (“a terra ajudou a mulher... abriu a sua
boca, e tragou o rio”, cf. Mt 2.20; At 12.21-23). Mais uma vez
frustrado, Satanás agora se volta contra aqueles que, nesse tempo presente,
tornam-se também filhos da mulher (“o resto da sua semente”, cf. Is
66.7-9; Rm 8.29), na tentativa de destrui-los (1 Pe 5.8-10).
É importante notar a menção do tempo em que a
mulher está abrigada no deserto: 1260 dias (v. 6), ou
ainda um tempo, e tempos, e metade de um tempo (v. 14) – o
mesmo período em que, conforme vimos no capítulo anterior, a cidade e o átrio
estão entregues às nações e as duas testemunhas estão profetizando (Ap
11.2, 3).