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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024
A tradição não deve invalidar o mandamento
Há na tradição religiosa, um entendimento erronêo que o pecado cometido por Adão foi passado para todos os homens.
Entretanto, na Palavra é clara a interpretação de que o pecado traz a morte e o homem nasce, sim, afastado de Deus, necessitando de reconciliação. Aparicio-Gómez (2000, p.4) entende que com a doutrina do pecado original, muitas vezes a invenção é atribuída a Agostinho (LAMELAS, 2012, p.55), a fé cristã tenta destacar duas coisas: “a validade de um fator supra pessoal, que distorce a relação homem-Deus; e a presença de uma graça abundante onde abundará o pecado”. É também chamado de “pecado inerente” (DE OLIVEIRA, 2004, p.4; ANTUNES, 2021, p.15) devido ser a raiz interna de todos os pecados atuais, porque se deriva de Adão e estar presente na vida de cada indivíduo desde o momento do seu nascimento. Ao tratar sobre do “vício hereditário” Ricoeur (2008) concorda com a significação dada pelos pais da Igreja dizendo que o pecado havia passado para a humanidade através de Adão e não somente “uma imitação como defendiam os Pelegianos”, destacando a “culpalidade original” inclusive das crianças mesmo no ventre da mãe sem ainda conhecer o certo ou o errado RICOEUR (2008, p.3). Os pais da Igreja grega diziam que há uma corrupção física na raça humana proveniente de Adão, uma privação da graça divina (VILAR, 1968) devido ao mal uso da liberdade, ou “drama da fragilidade humana” (MARTINS, 2015, p.201), porém isto não envolve culpa como propõe Cunha (2003) nem questão sexual (ELIADE, 1984; PILLA, 2013; GATT, 2019), o que corresponde a uma diferenciação feita no livro de Levítico ao separar o conceito de propiciação pelo sacrifício de expiacão de pecado e o de propiciação pelo sacrifício de expiacão de culpa (ou existência de culpa). Segundo Iwashita (2005) a Igreja Católica, uma antiga igreja cristã, assim ainda é ensinada nos catecismos e estudos (HERRERA-GABLER, 2014) que ele foi o primeiro pecado na terra.
Ainda existem polêmicas sobre este assunto como destacam Meis Wörmer (1993) e Da Silva (2009). Inclusive, e, historicamente, foi motivo de cismas, com o Pelagianismo e a religião natural negando o pecado original e o Molinismo que pregava a não destruição da liberdade da vontade (TEIXEIRA, 2018), possíveis heresias e divisões entre os cristãos desde os séculos iniciais do cristianismo, além de “visões” divergentes de antropólogos, psicanalistas e outros sobre o seu real significado.
A morte espiritual, que Guerra (2020, p.195) trata como “a consequência mais dura foi o rompimento da relação entre Deus e a humanidade”, é salientado fortemente também no Novo Testamento: o apóstolo Paulo descreve o estado dos cristãos na Epístola aos Efésios, no capítulo 2, antes da conversão como aqueles que estavam “mortos em ofensas e pecados”, já na primeira epístola ao seu filho na fé, Timóteo, no capítulo 5, ele declara: “Mas a que vive em deleites, vivendo está morta” e o próprio Cristo coloca isso claramente também no evangelho segundo Mateus, no capítulo 8, “Deixa os mortos sepultar os seus mortos”. Então, não foi alterada a constituição humana, pois, embora o homem não regenerado esteja fisicamente vivo, ele está morto aos olhos de Deus. Posteriormente, na epístola aos Romanos, no capítulo 5, há o seguinte texto no qual, não é devidamente interpretado, pois ao contrário do que está escrito, gerou muitas convicções equivocadas: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.” O que passou a todos os homens? Foi o pecado? Não, segundo o texto bíblico foi a morte, morte espiritual. Assim, a humanidade não está contaminada nem manchada pelo pecado origina, pois a herança recebida foi morte e não pecado... Então, nascendo morto espiritualmente, isto é, separado de Deus, vivendo só na carne e sem o auxílio divino conforme está escrito: “... Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne” (Gl 1.6), só nos resta abundarmos dos frutos da carne, e assim pecar e continuar pecando. , “... por isso que todos pecaram.” (Rm 5.12)
Assim, concluindo este raciocínio e respondendo a Gatt (2020), nós não somos herdeiros do pecado original, e, sim da “morte original” e nascemos fisicamente afastados do Eterno. Em contraste com as obras da carne, temos o modo de viver íntegro e honesto que a Bíblia chama “o fruto do Espírito”.
Assim, para apenas “não se impor a questão do pecado original, apenas por razões empíricas” (O'CALLAGHAN, 2014, p.162) e/ou dogmáticas, como a causa do mal (DE GODOY, 2016), entre outras, não se observando com precisão as orientações bíblicas, proponho ao teológico cristão uma reconsideração do conceito de pecado original.
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