sábado, 9 de junho de 2018

Igreja, o Israel de Deus.







O tema desta lição geralmente é proposto no estudo da escatologia bíblica em razão dos propósitos de Deus relacionados com o futuro do Seu povo. Existe a opinião equivocada de que o povo de Israel atual ainda tem um lugar especial e distinto nos planos de Deus, em distinção da igreja cristã, formada a partir da pregação do Evangelho. Precisamos entender como a Igreja, neste tempo presente, unindo tanto judeus e gentios em um só povo, representa a plenitude de Cristo, aqu’Ele que cumpre tudo em todos.

Desde Gênesis podemos acompanhar a obra de Deus na formação de uma grande nação que seria para Ele um povo peculiar, um reino sacerdotal. Inicialmente chamando a Abraão, o Senhor lhe fez a promessa de levantar a partir dele uma grande nação. O cumprimento se deu nas gerações seguintes, com Isaque, Jacó – cujo nome foi trocado por Deus para Israel (Gn 32.27-28) – e seus doze filhos. A partir destes, foram constituídas as doze tribos de Israel (Gn 49). A consagração deste povo para servirem a Deus se deu no deserto, aos pés do monte Sinai, através do juramento e concerto entre ambos (Ex 19.5-8; 24.7).

Procurando por todo o Antigo Testamento, não encontraremos a palavra igreja, pois é um termo grego – língua esta que, nos escritos sagrados, só foi usada no Novo Testamento. Contudo, a palavra “igreja” significa ajuntamento, congregação, reunião e assembleia convocada; e estas palavras, sim, encontramos em toda a Bíblia, em particular no Antigo Testamento, de modo que, ao dizer “santa convocação”, ou “ajuntamento de Israel”, as Escrituras estão se referindo à “igreja” de Israel. Do mesmo modo, sob o Novo Testamento, o povo de Deus continua a se chamar “congregação”, “ajuntamento”, “assembleia” – isto é, igreja – onde quer que o evangelho seja pregado e ali haja almas que o recebam de bom grado (At 2.41-42, 47).

Muito antes do chamado de Abraão já podemos encontrar a separação de um povo especial de homens “piedosos”, isto é, fieis a Deus (cf. Ml 2.15; At 17.26-27). Nos dias anteriores ao dilúvio, esses fieis são distinguidos dos demais filhos dos homens como “filhos de Deus” (Gn 6.1-2), e entre as suas fileiras destacaram-se primeiramente Abel (1 Jo 3.10-12) e, depois deste, os descendentes de Sete (Gn 4.25-26), notoriamente Enoque e Noé (cf. Hb 11.4, 5, 7). Depois do dilúvio, encontramos Noé bendizendo ao Senhor como o Deus de seu filho Sem (Gn 9.26), e a partir daí as Escrituras relatam a sua descendência até chegarmos a Abraão.

A partir da dispersão das nações em Babel, nossa atenção se volta para o chamado de Abraão. Enquanto Deus deixou que todos os povos andassem “em seus próprios caminhos” (At 14.16), Ele estabeleceu com este homem e a sua descendência um concerto, para que fosse o Seu povo (Gn 12.1-3; 17.4-7). Nos dias de Moisés, esta aliança foi selada por Deus sob os termos de que, se o povo cumprisse os Seus mandamentos, seriam um povo especial, um reino sacerdotal (Ex 19.4-6). Israel tornou-se uma nação muito chegada ao Senhor, conhecendo-o mais do que qualquer outro povo, e tornando-se depositária dos oráculos divinos (Dt 4.5-9; cf. Jo 4.22; Rm 3.1-2) e, finalmente, recebendo a promessa acerca da vinda do próprio Cristo (Rm 9.3-5; Dt 18.15).

O povo de Deus no passado era formado pela descendência de Abraão, Isaque e Jacó (Ex 3.15), mas também incluía todo gentio que se aproximasse de Deus. O estrangeiro que quisesse servir a Deus devia ser admitido como um natural da terra (Lv 19.33). E, por sua vez, o natural que transgredisse o concerto de Deus era cortado, excluído do povo (Ex 12.19). Além disso, Deus não se deixou sem testemunho entre as nações (At 14.17), e podemos contar, entre esses povos, inclusive sacerdotes, como Melquisedeque e Jetro (Gn 14.18; Ex 18.8-12), e profetas, como Balaão (Nm 24.15-17). E observemos que Deus mostra um cuidado especial pelos gentios que se aproximavam d’Ele e queriam servi-lO (Is 56.3-8).

Quando prometeu fazer de Abraão uma grande nação, o propósito de Deus já era o de abençoar todas as famílias da terra através da sua descendência, o que Ele cumpriu em Jesus Cristo, a verdadeira descendência de Abraão (cf. Gl 3.8, 16). A salvação dos gentios era um grande mistério oculto desde a antiguidade (Ef 3.6; Cl 1.26-27; Rm 10.11-13), embora isto já tivesse sido profetizado – por Isaías, por exemplo (Is 49.1-6; 42.6; At 13.46-48). Em Cristo, este mistério foi revelado, na referência à salvação de “outras ovelhas, que não são deste aprisco”, ao “mundo” que Deus amou e pelo qual enviou Seu Filho unigênito, e a todos que seriam atraídos quando Ele fosse levantado da terra (cf. Jo 3.16; 10.16; 11.51-52; 12.32). Depois, quando o próprio Senhor abriu a porta do evangelho, tanto aos samaritanos, quanto aos gentios de toda a parte (At 1.8; 8.5; At 10; 11.17-18; 15.7-11).

Paulo explicou que o Israel de Deus, na verdade, não é a descendência de Abraão segundo a carne, mas aqueles que o são segundo a promessa (Rm 9.6-8). Ou seja, são verdadeiros israelitas os que mantêm um vínculo de fé com aquele que é o “pai dos crentes” (Rm 4.9-12; Gl 3.5-7). Isto explica porque a nação carnal rejeitou a Cristo. Somente os eleitos segundo a graça creram no evangelho, sendo agregados à igreja (Rm 11.1-7; cf. At 2.37-41). Estes judeus, juntamente com os crentes gentios, se mostraram ser os verdadeiros israelitas, não segundo a carne, mas no coração, segundo o espírito (Rm 2.25-26). Já os demais, foram levados pela idolatria, pelo apego às tradições e toda sorte de quebra do concerto, sendo rejeitados por Deus (Rm 2.17-24; 11.7-10; cf. Os 1.9-10). O reino de Deus lhes foi retirado, e todo o sistema de culto e adoração de que o povo se vangloriava foi subvertido pela destruição do templo e de Jerusalém (cf. Mt 21.42-45; 1 Ts 2.14-16; At 28.25-27). Só poderão ser salvos aqueles que reconhecerem e crerem em Cristo Jesus (Mt 23.38-39; Rm 11.23-24).

É importante observar que há uma continuidade na formação do povo de Deus, e não uma interrupção, nem substituição de um povo por outro. Deus tem levantado o Seu Israel, a Sua Igreja, desde o princípio da história: os patriarcas e profetas do passado foram como a raiz e o tronco da oliveira, como diz Paulo (Rm 11.17). A igreja, sob a dispensação do Evangelho, como prolongamento da mesma árvore, é representada pelos ramos, ou galhos, da oliveira – uns, naturais (judeus crentes em Cristo); outros, enxertados (gentios crentes). Para isto, Deus reconciliou judeus e gentios, tanto consigo mesmo como uns com os outros, pelo sangue de Seu Filho Jesus, formando dos dois um só povo (Ef 2.11-19). Este é o verdadeiro Israel, o Israel de Deus no qual se cumprem todas as promessas feitas no passado a esse povo (Mt 8.11-12; 1 Pe 2.5, 9-10; Ap 7.4-8, 9; Gl 6.15-16).

Precisamos estar atentos, e não nos desviarmos do entendimento de que, para Deus, não há dois povos, duas salvações. Não podemos separar Israel da Igreja. A Igreja é o Israel de Deus, a multidão incontável dos que foram comprados pelo precioso sangue de Jesus.







Texto cedido por: EBD –  2º. Trimestre de 2018



ESCATOLOGIA 

ASSEMBLÉIA DE DEUS 
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP



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