Um Blog de estudos e comentários bíblicos. Apesar da muita disponibilidade e acesso no mundo virtual, este blogueiro entende que precisamos o mais rápido possível redescobrir a Palavra de Deus!
esdrasneemiasdossantos@gmail.com
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Lamentavelmente,
muitos cristãos não conhecem a Bíblia. Com
isso, não sabem “responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a
razão da vossas fé”. Ainda mais, estão distantes daquilo que professam crer,
pois, seu modo de viver demonstra esta infelicidade.
Tristemente,
constato igualmente que muitos cristãos não conhecem o marxismo, apesar de seguirem, e de forma,
ignorante, uma linha de pensamento de que são discordantes dele. Karl Marx, apesar
de, possivelmente ser um crente desviado, tinha um olhar crítico em relação a sua realidade, em termos de justiça social.
Desgraçadamente,
muitos cristãos, não atendem aos pobres e necessitados, aos órfãos e viúvas. Apesar
de que, na cultura israelita, ensinada por Deus, se desse atenção especial ao
pobre e necessitado, bem como ao estrangeiro que ao confessar o nome do Senhor era considerado como natural da terra.
Por
último, não menos feliz, verifico que grande parte dos cristãos estão adotando
um discurso de defesa da família. Bem, isso posso e devo, dizer com
propriedade, desta nova vocação. Entretanto, são também, de forma avantajada,
aqueles que apoiam o divórcio, agora o segundo e/ou terceiros casamentos em
suas instituições religiosas, famílias e nas suas próprias vidas, que eles
diziam inicialmente que era do Altíssimo.
Miseravelmente, percebo em derradeiro, que um número colossal
de crentes em Jesus, por não dominarem a Palavra, infelizmente não sabem e não podem diferenciá-la de uma doutrina antibíblica .
O
apóstolo Paulo chega ao final de sua epístola, e neste último capítulo
encontramos uma orientação sobre o importante negócio da caridade cristã para
com os irmãos necessitados. Além disso, veremos também uma demonstração do
cuidado deste servo de Cristo pela igreja em Corinto, das suas motivações e
intenções ministeriais, e a menção a alguns particulares das circunstâncias em
que se encontrava naquela ocasião.
Paulo
considera nestes versos uma questão aparentemente apresentada pelos próprios
coríntios, concernente às coletas que eram feitas em favor dos santos. Embora
seja uma necessidade constante da igreja cuidar dos seus necessitados, aqui se
trata de um levantamento de ofertas destinadas aos irmãos de Jerusalém (Rm
15.25-26), pois a Judéia era uma região bastante castigada pela fome e pela
pobreza. Como se trata de um dever extremamente importante da igreja e dos seus
obreiros (cf. At 4.34-35; 6.1-3; Gl 2.9-10), o apóstolo tinha um modelo que
ensinava em toda a parte, e por isso deveria ser seguido também por todas as
igrejas em todos os tempos: “fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da
Galácia” (v. 1).
Dentre
os princípios que podemos destacar nas breves palavras desta orientação
apostólica, notamos a importância desta obra para a igreja, e não apenas para
os crentes em particular. Embora comece com a separação voluntária de cada um
daquilo com que contribuirá, era necessário que houvesse uma “coleta”, ou seja,
um ajuntamento de todas as ofertas individuais, e isto só poderia ser feito no
âmbito da igreja em suas reuniões. Conforme as referências já citadas no
parágrafo anterior, a princípio as ofertas eram trazidas aos pés dos apóstolos;
depois, foram constituídos homens idôneos para este “importante negócio”. Tudo
isto reforça a necessidade de a igreja, como um todo, ter um papel ativo nesta
obra, e não deixa-la apenas à caridade particular de cada cristão.
Por
outro lado, vemos também o caráter consciente e voluntário desta obra no fato
de que cada um deveria separar de antemão uma parte de suas economias ou ganhos
financeiros para este fim sagrado. Sabendo que há uma necessidade constante
entre seus irmãos, o cristão deveria ser movido a atende-la prontamente. Ao
mesmo tempo, sua contribuição deve ser proporcional à sua prosperidade: “cada
um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade” (v.
2). Não se pede sacrifício daquilo que é necessário para o nosso sustento, mas
a cada um Deus sempre dá uma medida, por menor que seja, que lhe permite
repartir com o mais necessitado (cf. Ef 4.28).
Ao
se referir à possibilidade de ele mesmo acompanhar a entrega das ofertas em
Jerusalém, o apóstolo trata do momento em que se encontrava em seu ministério,
que poderia atrasar sua ida a Corinto para a arrecadação da coleta. Sempre
considerando as necessidades das igrejas de um modo geral, sem deixar o seu
afeto particular por cada uma, ele cita uma viagem prioritária que ainda faria
à Macedônia, para depois poder ficar por mais tempo com os coríntios: “Porque
não vos quero agora ver de passagem, mas espero ficar convosco algum tempo, se
o Senhor o permitir” (v. 7). Naquele momento, porém, ele se encontrava em
Éfeso, onde a obra de Deus tanto prosperava como também encontrava feroz
oposição, e ele não queria abandonar esta “frente de batalha”, onde sua
autoridade apostólica era muito necessária: “Porque uma porta grande e eficaz
se me abriu; e há muitos adversários” (v. 9).
Considerando
também a possibilidade de que, antes dele, outros ministros do evangelho
pudessem ir ter com os coríntios, ele faz recomendações sobre os mesmos, para
que a igreja os recebesse e tratasse dignamente, como covinha a todos os
obreiros de Cristo. Ele os incentiva com a exortação: “Portai-vos varonilmente”
e “todas as vossas coisas sejam feitas com amor” (vv. 13-14).
Suas
últimas palavras são breves e simples, não havendo necessidade de muita
explicação. Ele recomenda os obreiros locais e, por fim, envia as saudações
daqueles que com ele estavam, mostrando que a igreja de Corinto era muito
querida por outras igrejas: “As igrejas da Ásia vos saúdam”, “todos os irmãos
vos saúdam” (vv. 19, 20). Transmite o seu cuidado pela igreja no alerta último
de que aguardassem a manifestação do Senhor Jesus “Se alguém não ama o Senhor
Jesus Cristo, seja anátema; maranata!”(v. 22). E, para reforçar a importância
do amor em todas as coisas, como já explanou tão ricamente nesta epístola, ele
os incentiva com expressões como: “Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo”
(v. 20), “o meu amor seja com todos vós em Cristo Jesus” (v. 24).
No
estudo desta carta vimos como a igreja, embora seja amada pelo Senhor, como o
Seu corpo, tem muito a aprender com Ele enquanto se encontra neste mundo, e que
pode errar em suas decisões, em sua prática. Para a igreja de Corinto, Deus
inspirou o apóstolo Paulo para corrigi-los e orientá-los na vontade de Deus;
para nós, Ele deixou esta carta e as demais Escrituras, para que saibamos como
convém andar na casa de Deus e, se errarmos, possamos identificar e corrigir
com ainda maior clareza o que for necessário, a fim de que a igreja seja
verdadeiramente submissa ao seu Marido, a saber, a Cristo.
Aproximamo-nos
do final da primeira carta de Paulo aos coríntios. Depois de tratar de vários
assuntos de ordem moral e prática que afetavam e comprometiam a fé desses
irmãos, o apóstolo traz à tona a questão doutrinária da ressurreição dos
mortos. A importância dessa doutrina é tão grande e fundamental para a fé
cristã, pois além do conhecimento necessário, traz a esperança e consolação
para prosseguirmos na carreira cristã, firmes e constantes, certos de que todo
esforço não será vão, haverá uma grande recompensa.
Paulo
havia pregado aos coríntios o mesmo evangelho que pregava em toda a parte, e
que antes dele os primeiros apóstolos também pregavam: “Primeiramente vos
entreguei o que também recebi” (vv. 2,3). Por isso ele começa confirmando, ou
enfatizando este evangelho, nas suas verdades fundamentais, dentre as quais a
da ressurreição do Senhor Jesus. O evangelho era poderoso para salvar os
crentes coríntios, desde que o retivessem tal como haviam recebido; do
contrário, a fé em um evangelho sem a ressurreição se mostraria inútil e
ineficaz.
Que
Cristo ressuscitou dos mortos é um fato não apenas predito pelos profetas nas
Escrituras, mas cumpriu-se de tal modo que completa e dá sentido a todos os
eventos anteriores: “Cristo morreu por nossos pecados... e foi sepultado, e
ressuscitou ao terceiro dia” (vv. 3-4). Além disso, a ressurreição de Cristo
foi confirmada pelo relato de muitas testemunhas oculares, que tanto O viram
morrer como também, quando Ele se lhes apresentou vivo, ressuscitado. Dentre
estes, não apenas aqueles que desde o princípio do Seu ministério o seguiram,
mas também muitos discípulos que não são citados por nome nos evangelhos, que
inclusive podiam ser consultados no tempo em que Paulo escrevia esta carta.
Por
último, embora se considerasse indigno, em si mesmo, de ser chamado apóstolo,
ele apresenta o seu próprio testemunho da ressurreição na visão de Cristo (At 9),
no caminho de Damasco (v. 10). Portanto, esse era um tema conhecido por todos
os cristãos, e o que Paulo havia pregado aos coríntios a esse respeito não era
diferente do que pregavam os demais apóstolos. “Então, seja eu ou sejam eles,
assim pregamos e assim haveis crido” (v. 11).
A
partir do fato da ressurreição de Cristo, o apóstolo argumenta pela
ressurreição dos mortos. Já notamos que, dentre as más influências da cidade
sobre a igreja de Corinto, estava a da filosofia grega, que negava a
possibilidade de ressurreição (cf. At 17.30-32). Esses irmãos, parece, não
negavam a ressurreição do próprio Senhor Jesus, pois haviam aprendido isto
muito bem com o apóstolo. Contudo, para conscientizá-los, o apóstolo considera
e chega à seguinte conclusão: “Se não há ressurreição de mortos, também Cristo
não ressuscitou” (v. 13). E as consequências dessa hipótese seriam ainda
piores: “É vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (v. 14), “somos
também considerados como falsas testemunhas de Deus” (v. 15), “ainda
permaneceis nos vossos pecados” (v. 17) e “também os que dormiram em Cristo
estão perdidos” (v. 18). E tudo isto faria do evangelho uma mensagem inútil, e
a fé cristã seria uma religião completamente despropositada, tornando a vida
dos homens ainda mais dura e miserável do que já é: “Se esperamos em Cristo só
nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (v. 19).
Mas,
ao invés de partir de uma opinião equivocada, o apóstolo parte do fato inegável
da ressurreição de Cristo para chegar à seguinte conclusão: “Cristo ressuscitou
dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem” (v. 20), ou seja,
Ele ressuscitou como o primeiro de uma multidão de fiéis que, depois de mortos,
também hão de ressuscitar. Paulo explica ainda que a ressurreição dos mortos a
partir da ressurreição de Cristo corresponde, analogamente, à morte de todos os
homens a partir da queda ou do pecado do primeiro homem, Adão: “Porque, assim
como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (v.
22). Mas, se a ressurreição de Cristo é um fato indiscutível e confirmado, a
ressurreição dos mortos é uma realidade a se esperar para o futuro: “Mas cada
um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua
vinda” (v. 23). Isto faz da ressurreição o desfecho de toda a obra de Deus para
salvar os homens (v. 26).
Voltando-se
novamente para os que negavam a ressurreição dos mortos, mesmo tendo já
apresentado uma argumentação doutrinária tão precisa e esclarecedora, Paulo faz
menção a alguns fatos da própria experiência cristã que seriam completamente
desarrazoados, se não houvesse esperança de ressurreição. Era por causa da
ressurreição, por exemplo, que Paulo dispunha de sua própria paz e segurança
neste mundo, inclusive da própria vida, aceitando sofrer perseguições e correr
o risco de morte pelo nome de Jesus. Se não houvesse ressurreição, o que mais
deveríamos temer seria a morte, pois com ela tudo se acabaria, inclusive nosso
relacionamento com Cristo; e deveríamos nos esforçar para aproveitar ao máximo
cada momento da vida, “porque amanhã morreremos” (v. 32). Por isso o apóstolo
alerta os coríntios que não dessem ouvidos aos que propagavam suas próprias
opiniões com respeito à ressurreição: “Não vos enganeis: as más conversações
corrompem os bons costumes” (v. 33).
Paulo
propõe agora uma objeção que poderia ser levantada contra a ressurreição dos mortos,
com o propósito de esclarecer à igreja de Corinto a natureza dessa obra
sobrenatural: “Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão?” (v. 35).
Talvez iludidos pela falsa ciência e razão dos filósofos, não admitindo ser
possível que o corpo natural pudesse tornar-se espiritual e imortal, esses
questionadores não percebiam, como demonstra o apóstolo, que a própria natureza
apresentava paralelos com a ressurreição: o grão semeado que não aparenta a
planta em que há de se tornar (vv. 36-38); os animais e minerais, que possuem
corpos diferentes uns dos outros (vv. 39-41). Se Deus fez assim com a criação
natural, por que não poderia fazê-lo com a criação espiritual, dando aos
crentes ressurretos o corpo apropriado para a glória celestial?
A
seguir, ele explica que o corpo natural, presente, à semelhança da semente, é “semeado”
na morte, difere do corpo espiritual, futuro, no qual seremos ressuscitados. O
primeiro caracteriza-se pela corrupção que, desde a queda, com a entrada do
pecado no mundo, apoderou-se de toda a criação: “corrupção”, “ignomínia”, “fraqueza”,
são as palavras que usa para descrevê-lo. O segundo contrasta com o primeiro,
pois é “incorrupção”, “glória” e “vigor” (vv. 42-44). Em outra comparação, o
primeiro corresponde ao homem caído, Adão, e limita-se a esta existência e
natureza, sendo propriamente chamado de “natural”, ou “animal”; o segundo
corresponde ao último Adão, o homem celestial, Cristo Jesus, e é apto para a
vida eterna, para entrar no céu – por isso também chamado de corpo “espiritual”
(vv. 45-49).
Paulo
conclui dizendo que a ressurreição é tão necessária para a transformação dos
nossos corpos, que mesmo aqueles que estiverem vivos por ocasião da vinda do
Senhor haverão de ser transformados pelo mesmo poder glorioso que ressuscitará
os que estiverem dormindo em Cristo: “carne e sangue não podem herdar o Reino
de Deus” e “Nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados” (v. 50,51).
E, mediante a grande consolação que esta esperança traz a todo cristão, ele
termina exortando os coríntios à perseverança (v. 58).
Confessemos
e também retenhamos uma firme esperança na ressurreição dos mortos, pois é aí
que veremos todos os nossos esforços e combates travados nesta vida serem
recompensados e todas as nossas fraquezas e limitações trocadas por poder e
vida abundante.
Depois
de ensinar os irmãos de uma forma geral a respeito dos dons espirituais, e da
excelência e superioridade do amor fraternal, o apóstolo Paulo volta-se agora
para dois dons cuja manifestação parece ter sido muito frequente naquela
igreja: a profecia e o falar em línguas. Os coríntios precisavam entender que,
no uso dos dons espirituais, o benefício da igreja estava acima do benefício
particular de cada um.
Baseando-se
ainda no argumento do capítulo anterior, em que o amor é o caminho mais
excelente e o crente deve buscar com zelo (pela edificação da igreja) os
melhores dons, o apóstolo compara os dons de profecia e de línguas e aponta o
primeiro como superior e a ser mais almejado do que o segundo. O falar em
línguas pode parecer uma manifestação mais sonora e chamativa, e talvez
interessasse ainda mais aos coríntios, tão impressionáveis com as aparências.
Contudo, o benefício prático deste dom limita-se apenas àquele que o possui, no
seu relacionamento particular com Deus: “Porque o que fala em língua não fala
aos homens, senão a Deus” e “o que fala em língua edifica-se a si mesmo”; ao
passo que a profecia é de utilidade para todos os que a ouvem: “O que profetiza
fala aos homens” e “o que profetiza edifica a igreja” (vv. 2-4). Notemos que
esse benefício é múltiplo: “para edificação, exortação e consolação” (compare
com At 15.32).
O
apóstolo não está menosprezando o dom de línguas, pois esta é uma legítima
manifestação do Espírito Santo, e também pode ser usado para o benefício da
igreja, conforme logo se explicará. Mas ele não queria que os coríntios se
deixassem levar pelo simples efeito causado pela sonoridade do dom, e compara a
impressão produzida pelas línguas nos ouvintes à de instrumentos musicais que
tocam fora de ritmo, ou em desarmonia; e ainda com à da trombeta que não soa o
toque correspondente à ordem apropriada na batalha. Em ambos os casos, há
barulho que chama a atenção, mas não há significado, nem propósito para aqueles
que o ouvem. O mesmo vale para o dom de línguas, considerado em si mesmo: como
ninguém entende o que se fala, não há edificação mútua, e isto é claramente
contraditório com o propósito de Deus para a igreja, no contexto do culto.
Em
seguida, ele orienta os coríntios, especialmente os que falavam em línguas, em
dois sentidos: abundar nos dons – não se contentando apenas com as línguas – e
buscar dons que contribuíssem para a edificação da igreja (v. 12). Para esse
propósito, o dom de línguas precisa ser complementado por algum outro dom, como
a profecia, ou mesmo a interpretação das próprias línguas: “Por isso, o que
fala em língua desconhecida, ore para que a possa interpretar” (v. 13). Mais
uma vez, o apóstolo ressalta que há um benefício espiritual para aquele em quem
se manifesta o dom de línguas, mas o benefício do próximo é mais importante, e
deve ser priorizado na busca dos dons. E ele mesmo dava o exemplo aos
coríntios: “Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos.
Todavia, eu antes quero falar na igreja cinco palavras na minha própria
inteligência, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras
em língua desconhecida” (vv. 18-19).
Nos
versos seguintes, Paulo apresenta outro aspecto da questão, que deveria servir
de alerta aos coríntios. A preferência e a ênfase sobre o dom de línguas, em
detrimento de outros dons e, pior, em desconsideração pela necessidade de
procurarem a edificação uns dos outros, era um sinal de imaturidade espiritual.
Não é próprio de crentes maduros na fé adotarem um comportamento que seja
contrário ao entendimento, assim como não é próprio de uma pessoa madura e
sensata se impressionar, como uma criança, com a aparência e o ruído, ao invés
de buscar o sentido do que está vendo e ouvindo. Mais ainda, à luz das
Escrituras (Is 28.11, 12), a falta de entendimento que fica ante a manifestação
do dom de línguas, sem que haja interpretação ou profecia, deve ser entendida
mais como um sinal para os infiéis, no qual Deus manifesta o Seu juízo, ao
invés de bênção ou favor: “Por gente de outras línguas, e por outros lábios,
falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor” (v. 21). De
modo que, se na igreja prevalecesse este dom, o efeito seria confirmar os
incrédulos ou infiéis na sua dureza de coração, pois aí diriam que os crentes
estão loucos (v. 23), e rejeitariam o Evangelho.
Por
outro lado, a profecia ou a interpretação das línguas, por trazer entendimento,
é sinal da misericórdia de Deus, que prometeu ensinar o conhecimento até ao
mais simples, enquanto o retiraria dos sábios e grandes deste mundo (cf. Is
28.7-10). Assim que, ante uma assembleia cristã onde todas as coisas são
explicadas e expostas com clareza, entendimento, sabedoria e revelação dos
segredos do coração do homem, não apenas a igreja é edificada, mas os indoutos
e infiéis são compungidos pela palavra, sendo levados ao reconhecimento de que
Deus é quem opera no meio da igreja (v. 25). Notemos que o primeiro derramar do
Espírito em cumprimento à promessa manifestou-se tanto através do falar em
línguas como também da interpretação e profecia, pois a multidão que acorreu
onde os discípulos estavam reunidos os entendia falar, cada um na sua própria
língua, das grandezas de Deus e, se não fosse a exposição de Pedro que se
seguiu, eles teriam se afastado dizendo que estavam todos embriagados (At
2.7-15). Confira também At 10.45-46 e 19.6.
Nas
palavras com que o apóstolo inicia esta seção, podemos considerar não apenas
que todas as coisas feitas no culto devem contribuir para a edificação, mas que
todas as coisas devem ser feitas em harmonia com a vontade e uma legítima
operação do Espírito Santo, pois somente os dons espirituais podem
verdadeiramente edificar a igreja. Mas, além da operação do Espírito, o
apóstolo também considera a necessidade de o culto ser pautado pela ordem,
decência e coerência em todos os seus atos, mostrando que a falta destes
elementos atrapalha, quando não impede, a edificação dos fiéis, mesmo havendo
legítima manifestação dos dons espirituais na igreja.
Percebemos
que o apóstolo prima pela boa compreensão de tudo o que fosse falado na igreja,
pois, no caso dos que tinham o dom de línguas, ele recomenda que falassem um
por vez, e ainda assim numa medida, atentando para a manifestação de outros
dons: “se alguém falar em língua, faça-se isso por dois, ou quando muito três,
e por sua vez” (v. 27). E que isto ocorresse na medida em que houvesse
interpretação: “e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado
na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus” (v. 28). Quanto à profecia, valem
os mesmos princípios – cada um falando por sua vez, e pronto a se sujeitar ao
Espírito falando através de outro: “Porque Deus não é Deus de confusão, senão
de paz” (v. 33).
As
recomendações finais de Paulo voltam à questão do lugar da mulher no culto. A
princípio, ele havia ensinado que seria desonroso para a mulher orar ou
profetizar com a cabeça descoberta. Mas agora ele expressamente ordena que as
mulheres estejam caladas nas igrejas, pois “não lhes é permitido falar” (v. 34)
– no culto, naturalmente. Isto é considerado vergonhoso porque falar no culto é
exercer autoridade sobre a igreja, e isto contraria a submissão, modéstia e
recato que convém às santas mulheres de Deus. Para que ninguém entenda
tratar-se de um mero preceito cultural, sujeito às circunstâncias culturais do
apóstolo e da igreja de Corinto, atentemos para a importância que ele mesmo dá
às suas recomendações: “Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça
que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (v. 37).
O
propósito de Deus para a igreja é que todos os seus membros sejam edificados
uns pelos outros, através dos dons espirituais. Quando os crentes se reúnem
para buscar a edificação uns dos outros, e não o seu próprio interesse, Deus é
verdadeiramente glorificado e o culto atinge o seu propósito.
Paulo
continua tratando da ordem e decência que convêm às reuniões da igreja, mas
agora no que diz respeito ao uso dos dons espirituais. Apesar de abundarem na
manifestação dessas operações sobrenaturais do Espírito de Deus, faltava aos
coríntios um entendimento correto quanto à sua verdadeira natureza e propósito.
Parece
que os coríntios tinham dificuldade em compreender isto em razão da variedade
com que as manifestações espirituais ocorriam no culto, ou pelo fato de que os
mesmos dons não eram dados a todos. Paulo reconhece que havia uma diversidade
seja de “dons”, “ministérios” ou “operações” (vv. 4-6), mas o que importava era
que todos procediam de uma mesma fonte e serviam ao propósito de um mesmo
Espírito, Senhor e Deus.
Paulo
explica, então, que as manifestações do Espírito, por mais diferentes que
sejam, são dadas por Deus com vistas a um mesmo propósito: “para o que for útil”
(v. 7). Essa utilidade sem dúvida é no que diz respeito à edificação da igreja,
porque para isto nos reunimos em nossos cultos. Notemos que, nos dons que ele
exemplifica nos versos seguintes, todos representam alguma forma de benefício
da parte de Deus administrado aos fiéis. E, para que entendessem a diversidade
dessas manifestações como um sinal de que era realmente Deus quem operava entre
eles, o apóstolo atribui a distribuição dos dons à soberania e liberdade da
vontade divina, que reparte “particularmente a cada um como quer” (v. 11).
Nesta
seção, o apóstolo confirma o que havia dito antes sobre a diversidade dos dons
e a unidade do seu propósito através de uma comparação. Assim como o corpo
humano possui diversos membros, com diferentes formas e funções, mas todos se
integram formando uma unidade orgânica e harmoniosa, “assim é Cristo também” (v.
12). Para começar, os fiéis já são diferentes no que diz respeito à sua
procedência e condição: uns são judeus, outros, gentios; outros, servos, e
ainda outros, livres (v. 13). Mas o Espírito de Deus integra a todos através do
batismo, comunicando-lhes poder e dons espirituais, para que todos participem
da abundância prometida aos fiéis. (cf.
Jl 2.28-29; At 2).
Contudo,
ainda que todos sejam participantes da mesma graça que nos faz integrar à
igreja de Cristo, como membros de um mesmo corpo, Paulo afirma que ainda se
mantém uma certa distinção entre os fiéis. Assim como no corpo os membros
diferentes devem ter cuidado uns pelos outros, protegendo-se e zelando pelo bom
funcionamento mútuo, do mesmo modo na igreja Deus dispôs a cada de tal forma
que não possa ser desprezado pelos outros, dando a este um dom, e àquele, outro
dom. Os dons dignificam e honram o homem, tornando-o útil aos demais e
definindo melhor o propósito da sua existência e vocação cristã. Assim que já
não é por interesses mundanos que devemos nos considerar uns aos outros, pois
isto levaria à divisão, à preferência de uns em detrimento de outros; mas é
pela sábia e justa distribuição da graça de Deus que ele faz a todos, de tal
modo que ninguém possa ser desprezado.
Passando
da comparação para a realidade da igreja, Paulo conclui: “Ora, vós sois o corpo
de Cristo, e seus membros em particular” (v. 27). E, em atenção ao que havia
afirmado sobre a honra particular dada a alguns membros sobre outros, ele
apresenta a hierarquia que Deus estabeleceu na igreja, no que diz respeito aos
dons: todos os dons são úteis, mas alguns atendem melhor o propósito da
edificação. E o apóstolo quer que os coríntios valorizem os dons pelo mesmo
critério – pela maior edificação que produzem, e não pela impressão que possam
causar ou por alguma motivação carnal que eles pudessem ter para desejar certos
dons. Daí o conselho: “Procurai com zelo os melhores dons” (v. 31). Quando
entendessem a importância da edificação mútua, poderiam compreender o valor
ainda maior da prática do amor, o “caminho mais excelente”, que Paulo passa a
descrever no capítulo seguinte.
Todas
as repreensões que o apóstolo passou a esta igreja reportavam à falta de amor
de uns pelos outros como causa principal dos erros e pecados que os coríntios
haviam cometido. Mesmo tendo abundância de dons, eles haviam demonstrado estar
longe desse caminho mais excelente, indispensável de ser trilhado por todo
cristão que quer chegar ao céu. E não era pelos dons, nem por coisas grandiosas
ou sobre humanas que eles pudessem operar em nome de Cristo, que expressariam a
virtude do amor, mas por qualidades que muitas vezes eles haviam desprezado (vv.
4-7).
Paulo
explica então que a superioridade do amor sobre os dons consiste, além das suas
qualidades especiais que nenhum dom pode comunicar, na sua permanência, mesmo
quando a igreja tiver deixado sua presente condição: “o amor nunca falha” (v. 8).
Ao passo que os dons representam uma comunicação parcial e transitória do
Espírito, visando uma utilidade presente – a edificação dos fiéis – que, quando
for plenamente alcançada, os tornará desnecessários e dispensáveis; o amor
representa a realidade suprema, e permanecerá pela eternidade como a explicação
mais perfeita e clara da mente, do caráter e da realidade de Deus para o homem.
Comparados ao que se há de revelar naquele dia, os dons chegam a ser como “coisas
de menino” (v. 11), mas o amor permanece como a experiência mais elevada e
madura que podemos ter com Deus nesta vida.
Os
dons espirituais são um sinal maravilhoso de vida espiritual e do amor de Deus
pela Sua igreja, que deseja o benefício de todos. Sejamos, porém, zelosos para
buscar os dons que mais correspondam a esse propósito, visando a edificação dos
irmãos e a glória de Deus, e não a nossa própria promoção.