O
apóstolo prossegue sua orientação a respeito das coisas sacrificadas aos
ídolos. Depois de censurar a falta de amor dos coríntios e de propor-se a si
mesmo como exemplo de renúncia de privilégios por amor aos mais fracos, ele
agora faz um grave alerta contra a idolatria. E, trazendo à memória o exemplo
de Israel, adverte a igreja para que não se envolva em nada que possa aborrecer
ao Senhor e atrair a Sua ira, ou escandalizar a consciência de qualquer pessoa,
seja crente ou incrédulo.
Com
o propósito de despertar nos coríntios outra reflexão sobre o erro da sua
prática em comer dos sacrifícios da idolatria indiscriminadamente, como se
fosse algo indiferente, Paulo convida-os a considerar o exemplo de Israel. Em
primeiro lugar, ele traça uma comparação entre o povo de Deus no passado e no
presente, mostrando que, assim como nós, eles também foram altamente agraciados
por Deus, e receberam grandes privilégios espirituais (vv. 1-4). Mas, mesmo
assim, de nada lhes serviram todas essas bênçãos e favores divinos, pois “Deus
não se agradou da maior parte deles” (v. 5). Ou seja, foram condenados a
perambularem pelo deserto, e não puderam entrar na Terra Prometida. Mas, não
sem razão: haviam pecado gravemente contra o Senhor.
Então,
agora, o apóstolo enumera também os seus pecados, pelos quais foram castigados
e reprovados por Deus, e em cada caso considera a possibilidade de nós
incorrermos no mesmo erro: “Não vos façais, pois, idólatras”, “não nos
prostituamos”, “não tentemos a Cristo”, “não murmureis”. Pois o propósito aqui
é mostrar que o caso de Israel foi registrado na Escritura justamente para
servir de instrução à igreja de Cristo, pois, assim como eles, também podemos
ser tentados a cobiçar “as coisas más, como eles cobiçaram” (v. 6). De fato, as
Escrituras Sagradas, na plenitude dos seus exemplos instrutivos e orientações
infalíveis, representam um privilégio peculiar que Deus, na Sua infinita
misericórdia, providenciou para nós, “para quem já são chegados os fins dos
séculos” (v. 11).
O
que se conclui a partir desses fatos é que não podemos presumir nossa salvação
simplesmente porque nos consideramos cristãos, ou porque fomos agraciados com
favores, bênçãos ou dons. Precisamos ter cuidado com uma falsa segurança que nos
leve a pensar que nenhum dos nossos atos ou pensamentos possa desagradar a
Deus. O que está de pé, ou assim se considera, precisa manter essa posição com
muito cuidado e esforço, pois nossa condição humana tende a fazê-la perder. Ao
mesmo tempo, o apóstolo nos lembra que nossas tentações não são diferentes das
que o povo sofreu no deserto, portanto, podem ser superadas com o socorro de
Deus (v. 13). Mas não sem uma atitude radical contra o pecado: “Fugi da
idolatria”.
Retomando
a questão no caso particular dos sacrifícios aos ídolos, Paulo apela para a
pretensa sabedoria dos coríntios, os quais poderiam chegar facilmente ao entendimento
do assunto. Bastava considerar que a ceia do Senhor, que era uma refeição da
qual participavam todos os crentes, significava a comunhão deles tanto com o
próprio Deus, como também uns com os outros, porque, participando do pão e do
cálice, eles proclamavam ser participantes de um só e o do mesmo Cristo que
morreu por todos. E isto não era estranho ao próprio Israel que, no passado,
oferecia sacrifícios, no tabernáculo ou no templo, e celebrava sua comunhão com
o Senhor comendo desses sacrifícios na Sua presença (v. 18).
Esse
princípio é válido também no que diz respeito aos sacrifícios oferecidos aos
ídolos. Não porque o ídolo seja alguma coisa, ou que o sacrificado ao ídolo se
torne algo diferente do que era quando comum (v. 19), pois isto eles sabiam
perfeitamente bem – e o apóstolo não os contraria neste conhecimento – que “o
ídolo nada é” (8.4). Mas aqui ele revela uma realidade que não haviam
percebido: que os sacrifícios que os gentios oferecem aos seus deuses são
sacrifícios feitos a demônios, que são os verdadeiros responsáveis por manter
os homens nas trevas da idolatria. Os deuses assim chamados pelos homens nada
são, mas Satanás e seus anjos são uma realidade que nenhum conhecedor das
Escrituras pode negar.
Portanto,
assim como comer da mesa do Senhor é ter comunhão com o Senhor, comer da mesa
dos ídolos – que na verdade é a mesa dos demônios – é ter comunhão com os
demônios, o que representa um terrível ato de apostasia por parte de um
cristão. E ninguém desejaria correr o risco de se envolver em uma prática que
certamente despertaria a ira do Senhor (v. 22).
Nesta
última seção, o apóstolo conclui o assunto, orientando os coríntios como deviam
proceder em relação às carnes oriundas dos templos dos ídolos. Não deviam
come-las, isto já estava bem esclarecido. Mas, se fossem convidados para comer
em casa de amigos ou familiares incrédulos, onde tais carnes eram frequentes à
mesa? Ou se fossem ao açougue, onde as carnes à venda provinham tanto dos
templos como dos matadouros? A orientação do apóstolo é não perguntar nada (v.
25), ou seja, não indagar sobre a procedência do alimento, mas comer tudo o que
for oferecido, descansando sobre a verdade de que “a terra é do Senhor, e toda
a sua plenitude” (v. 26) e em tudo dando graças (v. 30).
Por
outro lado, se fossem informados de que o alimento procedia do templo dos ídolos,
deviam agir de outro modo. Comer sabidamente das coisas dos sacrifícios
idolátricos, mesmo não sendo no templo dos ídolos, escandaliza a consciência
alheia. O irmão mais fraco pode ser levado a comer também e a contaminar-se (8.7,10,11);
enquanto o incrédulo pode ver tal atitude como um ato de reverência do cristão
pelo ídolo, negando sua confissão de que o ídolo nada é e de que somente o
Senhor é Deus. Seria um desserviço, por parte desse crente, à causa do reino
dos céus, um mau testemunho e uma profanação do santo chamado do evangelho.
Tudo
o que o cristão faz deve visar à glória de Deus (v. 31) e evitar escândalos,
não apenas perante outros cristãos, mas perante toda a sociedade (v. 32). E
isto requer, de nossa parte, a renúncia de certas liberdades que a outros podem
servir de tropeço, levando-os a pecar contra Deus e excluindo-os do reino de
Deus. E, assim como Paulo, devemos envidar todos os esforços no sincero desejo
de que muitos possam se salvar (v. 33).
Lembremos
do que ocorreu a Israel por causa da sua presunção e, com temor e tremor,
vigiemos para que permaneçamos de pé na presença do Senhor. Tenhamos cuidado
com nossas práticas, para que não provoquemos a ira de Deus por um mau uso da
nossa liberdade, e para que não escandalizemos os incrédulos, nem nossos
irmãos, ferindo suas consciências e bloqueando o seu caminho para o reino dos
céus.
Texto cedido por: EBD – 3º. Trimestre de 2018
1ª CARTA AOS CORÍNTIOS
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP
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