quarta-feira, 29 de agosto de 2018

O culto a Deus e sua ordem.








A partir do capítulo que ora estudamos, o apóstolo Paulo trata de alguns problemas que estavam ocorrendo entre os coríntios relacionados com o culto a Deus. Como parte indispensável da vida cristã em comunidade, a adoração pública segue princípios que, se desprezados, acaba se degenerando em desordem e indecência, e assim atraindo o juízo de Deus sobre os contenciosos e profanadores.

No primeiro verso deste capítulo, o apóstolo recomenda aos coríntios o seu próprio exemplo, em conclusão ao assunto tratado anteriormente, sobre o uso da liberdade cristã. Mas, no assunto que se segue, ao seu próprio exemplo ele acrescenta o peso daquilo que já estava estabelecido entre as igrejas de Deus (cf. v. 16), e que ele simplesmente havia transmitido aos coríntios tal como havia recebido, como uma boa tradição. Durante as reuniões da igreja, era correto que os homens estejam de cabeças descobertas e as mulheres, diferentemente, de cabeças cobertas, e esta atitude envolvia muito mais do que simplesmente um aspecto exterior de menor importância, ou uma inovação no vestuário.

Condenando categoricamente como indecente para o homem participar do culto com a cabeça coberta, ele acrescenta que é igualmente indecente a mulher participar da assembleia solene da igreja sem véu. O seu argumento se baseia em uma hierarquia: “Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo” (v. 3), onde um deve receber honra e submissão do outro – Deus, de Cristo; Cristo, do homem; e o homem, da mulher. Cada um, a seu modo, de acordo com as suas atribuições. Aqui ele não está tratando do relacionamento espiritual que tanto o homem como a mulher têm com Deus em Cristo Jesus, onde todos são iguais (Gl 3.26-28). Ele fala de uma ordem estabelecida na criação e que diz respeito a esta vida, como prova a seguir: “Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem” (vv. 8-9).

O véu entra aqui como um sinal de submissão da mulher à autoridade do marido, e por isso não convinha que fosse abandonado – como também qualquer outro uso que contribua para a decência, o pudor, a modéstia e a manutenção da hierarquia natural deve ser louvado e incentivado. Eis a razão de outro conselho do apóstolo: “Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos” (1 Tm 2.9). Particularmente em Corinto, onde os bons costumes sofriam com a degeneração moral do povo e, como o apóstolo já havia ensinado, a igreja devia se portar com correção e submissão e não ser contenciosa.

A próxima consideração do apóstolo é sobre os abusos que estavam acontecendo durante a celebração da ceia do Senhor – que, naquele tempo, era propriamente uma refeição, um banquete onde os cristãos expressavam sua comunhão uns com os outros e com o próprio Senhor. Porém, entre os coríntios essa ocasião estava servindo apenas para divisões e contendas: “Porque antes de tudo ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre vós dissensões; e em parte o creio” (v. 18). Ele já havia tratado das dissensões que havia em razão do espírito faccioso e de vanglória dos coríntios. Mas agora trata de um tipo de divisão que envolvia uma perversão daquela ocasião que devia servir à expressão máxima da comunhão e união dos cristãos.

Quando se reuniam para cear, esses irmãos eram induzidos pelos mesmos sentimentos que dominavam os gentios em seus banquetes e, sem nenhuma consideração pelo próximo, entregavam-se à glutonaria e embriaguez, como se estivessem em uma festa qualquer ou comum: “e assim um tem fome, e outro embriaga-se” (v. 21). Tal atitude era tão contrária e indigna ao propósito da ceia, que o apóstolo diz: “quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor” (v. 20). E ele ainda os acusa de desprezarem a igreja de Deus e envergonhar os irmãos mais pobres (v. 22). Em outras palavras, a ceia do Senhor era profanada por um comportamento tão mesquinho e carnal.

Para corrigir o erro grosseiro dos coríntios, o apóstolo os lembra da ocasião em que a ceia foi instituída e em que foi definido o seu propósito. A partir do que o próprio Senhor Jesus havia feito naquela noite em que foi traído, e a partir das Suas próprias palavras, Paulo assinala o propósito dessa simples, mas santa refeição: “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha” (v. 26). A ceia é, antes de tudo, um memorial da morte de Cristo pelos nossos pecados. Quando participamos da ceia, estamos lembrando do que o Senhor fez para nos salvar do pecado e nos dar a vida eterna – em outras palavras, confessamos que foi por nós que Ele morreu. E tal confissão deve ser feita com a maior gravidade, humildade e gratidão a Deus.

Mas, por outro lado, o comportamento dos coríntios era indigno da ceia do Senhor – comiam indignamente porque não tinham plena consciência das implicações em comer do pão e beber do cálice, do que significava todo esse ato, e assim não discerniam o corpo do Senhor (v. 29). Qualquer atitude incompatível com uma consciência cristã quebrantada, arrependida dos seus pecados e profundamente grata ao Senhor pela sua salvação pode ser caracterizada como uma participação indigna na ceia do Senhor. Por isso o apóstolo orienta cada um a examinar-se a si mesmo (v. 28), ou seja, a fazer o exame de consciência, para que possa comer e beber sabendo o que está fazendo e disposto a assumir todas as consequências de confessar que Cristo por ele morreu.

Por sua vez, tratar as coisas de Deus de forma indigna, profanamente, com indiferença ou desprezo, também tem as suas consequências. Paulo não poderia ser mais grave: “o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação” (v. 29; cf. Hb 10.29). E, no caso dos coríntios, havia enfraquecimento, dormência espiritual e enfermidades, como forma de punição pelos seus pecados na mesa do Senhor: “há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem” (v. 30). Sobre isto já fizemos uma breve consideração no estudo do capítulo 5. Contudo, Paulo explica que isto ainda era uma forma misericordiosa de o Senhor tratar o Seu povo, para que, por meio da repreensão, eles considerassem os seus pecados, se arrependessem, e se salvassem: “Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (v. 32). E assim ele encerra exortando-os a adotarem a atitude digna e decorosa que convém à ceia do Senhor (vv. 33-34).

O culto a Deus é um grandioso momento de expressão da comunhão entre o crente e o seu Criador. Deus deve ser engrandecido em cada ato, em cada palavra, e isto só pode acontecer quando tudo é feito com reverência, santidade e temor, em conformidade com a vontade e o propósito daqu’Ele que deve ser cultuado. Não desprezemos as coisas de Deus, nem adotemos nenhum padrão ou conduta humana que possa de algum modo diminuir a solenidade e decência que convêm à adoração pública.



Texto cedido por: EBD –  3º. Trimestre de 2018


1ª CARTA AOS CORÍNTIOS


ASSEMBLÉIA DE DEUS 
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP

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