Paulo
continua tratando da ordem e decência que convêm às reuniões da igreja, mas
agora no que diz respeito ao uso dos dons espirituais. Apesar de abundarem na
manifestação dessas operações sobrenaturais do Espírito de Deus, faltava aos
coríntios um entendimento correto quanto à sua verdadeira natureza e propósito.
Parece
que os coríntios tinham dificuldade em compreender isto em razão da variedade
com que as manifestações espirituais ocorriam no culto, ou pelo fato de que os
mesmos dons não eram dados a todos. Paulo reconhece que havia uma diversidade
seja de “dons”, “ministérios” ou “operações” (vv. 4-6), mas o que importava era
que todos procediam de uma mesma fonte e serviam ao propósito de um mesmo
Espírito, Senhor e Deus.
Paulo
explica, então, que as manifestações do Espírito, por mais diferentes que
sejam, são dadas por Deus com vistas a um mesmo propósito: “para o que for útil”
(v. 7). Essa utilidade sem dúvida é no que diz respeito à edificação da igreja,
porque para isto nos reunimos em nossos cultos. Notemos que, nos dons que ele
exemplifica nos versos seguintes, todos representam alguma forma de benefício
da parte de Deus administrado aos fiéis. E, para que entendessem a diversidade
dessas manifestações como um sinal de que era realmente Deus quem operava entre
eles, o apóstolo atribui a distribuição dos dons à soberania e liberdade da
vontade divina, que reparte “particularmente a cada um como quer” (v. 11).
Nesta
seção, o apóstolo confirma o que havia dito antes sobre a diversidade dos dons
e a unidade do seu propósito através de uma comparação. Assim como o corpo
humano possui diversos membros, com diferentes formas e funções, mas todos se
integram formando uma unidade orgânica e harmoniosa, “assim é Cristo também” (v.
12). Para começar, os fiéis já são diferentes no que diz respeito à sua
procedência e condição: uns são judeus, outros, gentios; outros, servos, e
ainda outros, livres (v. 13). Mas o Espírito de Deus integra a todos através do
batismo, comunicando-lhes poder e dons espirituais, para que todos participem
da abundância prometida aos fiéis. (cf.
Jl 2.28-29; At 2).
Contudo,
ainda que todos sejam participantes da mesma graça que nos faz integrar à
igreja de Cristo, como membros de um mesmo corpo, Paulo afirma que ainda se
mantém uma certa distinção entre os fiéis. Assim como no corpo os membros
diferentes devem ter cuidado uns pelos outros, protegendo-se e zelando pelo bom
funcionamento mútuo, do mesmo modo na igreja Deus dispôs a cada de tal forma
que não possa ser desprezado pelos outros, dando a este um dom, e àquele, outro
dom. Os dons dignificam e honram o homem, tornando-o útil aos demais e
definindo melhor o propósito da sua existência e vocação cristã. Assim que já
não é por interesses mundanos que devemos nos considerar uns aos outros, pois
isto levaria à divisão, à preferência de uns em detrimento de outros; mas é
pela sábia e justa distribuição da graça de Deus que ele faz a todos, de tal
modo que ninguém possa ser desprezado.
Passando
da comparação para a realidade da igreja, Paulo conclui: “Ora, vós sois o corpo
de Cristo, e seus membros em particular” (v. 27). E, em atenção ao que havia
afirmado sobre a honra particular dada a alguns membros sobre outros, ele
apresenta a hierarquia que Deus estabeleceu na igreja, no que diz respeito aos
dons: todos os dons são úteis, mas alguns atendem melhor o propósito da
edificação. E o apóstolo quer que os coríntios valorizem os dons pelo mesmo
critério – pela maior edificação que produzem, e não pela impressão que possam
causar ou por alguma motivação carnal que eles pudessem ter para desejar certos
dons. Daí o conselho: “Procurai com zelo os melhores dons” (v. 31). Quando
entendessem a importância da edificação mútua, poderiam compreender o valor
ainda maior da prática do amor, o “caminho mais excelente”, que Paulo passa a
descrever no capítulo seguinte.
Todas
as repreensões que o apóstolo passou a esta igreja reportavam à falta de amor
de uns pelos outros como causa principal dos erros e pecados que os coríntios
haviam cometido. Mesmo tendo abundância de dons, eles haviam demonstrado estar
longe desse caminho mais excelente, indispensável de ser trilhado por todo
cristão que quer chegar ao céu. E não era pelos dons, nem por coisas grandiosas
ou sobre humanas que eles pudessem operar em nome de Cristo, que expressariam a
virtude do amor, mas por qualidades que muitas vezes eles haviam desprezado (vv.
4-7).
Paulo
explica então que a superioridade do amor sobre os dons consiste, além das suas
qualidades especiais que nenhum dom pode comunicar, na sua permanência, mesmo
quando a igreja tiver deixado sua presente condição: “o amor nunca falha” (v. 8).
Ao passo que os dons representam uma comunicação parcial e transitória do
Espírito, visando uma utilidade presente – a edificação dos fiéis – que, quando
for plenamente alcançada, os tornará desnecessários e dispensáveis; o amor
representa a realidade suprema, e permanecerá pela eternidade como a explicação
mais perfeita e clara da mente, do caráter e da realidade de Deus para o homem.
Comparados ao que se há de revelar naquele dia, os dons chegam a ser como “coisas
de menino” (v. 11), mas o amor permanece como a experiência mais elevada e
madura que podemos ter com Deus nesta vida.
Os
dons espirituais são um sinal maravilhoso de vida espiritual e do amor de Deus
pela Sua igreja, que deseja o benefício de todos. Sejamos, porém, zelosos para
buscar os dons que mais correspondam a esse propósito, visando a edificação dos
irmãos e a glória de Deus, e não a nossa própria promoção.
Texto cedido por: EBD – 3º. Trimestre de 2018
1ª CARTA AOS CORÍNTIOS
MINISTÉRIO GUARATINGUETÁ-SP
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